31 março 2008

TESTEMUNHO À ESCOLA SILVINA CANDEIAS

De quando em quando faço questão, neste espaço, de apresentar um Testemunho.

É uma maneira de homenagear publicamente uma pessoa, um conjunto de pessoas ou uma instituição que, do meu ponto de vista, contribuam ou tenham contribuído para a felicidade dos outros.

Sem demagogia, a solidariedade pode manifestar-se, muitas vezes manifesta-se felizmente, à margem das ambições profissionais, aliás legítimas.

O interessante é verificar quando se consegue construir esse altruísmo separando-o da lógica empresarial. Temos muitos exemplos. Aqui no Alentejo, sem ir mais longe, o Comendador Nabeiro. Neste caso referimo-nos a um grupo económico de peso.
Torna-se mais interessante, a meu ver, quando são pequenas empresas, até de características familiares, como é o Caso da Escola Silvina Candeias de Portalegre.

É uma Escola de referência.

Pelo tempo de existência, mais ou menos trinta anos, pela diversidade da sua oferta formativa e, sobretudo, pela disponibilidade permanente de partilhar o espaço público em iniciativas das comunidades para as quais é convidada. Quando o faz, é sempre de um modo gratuito.

A Escola Silvina Candeias, fruto da força e perseverança da Mulher que dá o nome à Escola, é hoje um espaço rico de experimentação e de emoções, mas também de rigor e competência. No seu menu formativo estão cursos que vão das novas tecnologias e línguas à administração, de práticas desportivas (de alta competição) como o Judo e o Karaté às artes (teatro e dança: clássica, exóticas, de salão ao nível da alta competição).

O que quero realçar aqui e agora é, sem dúvida, a existência de uma disponibilidade permanente desta Escola, cujo director é hoje um dos filhos da fundadora da Escola, Pedro Candeias, um jovem com formação em Animação Sociocultural, portanto, sensível às questões do desenvolvimento cultural das populações.

Esta sensibilidade da Escola permite, sem demagogias, tornar a existência de algumas crianças e jovens de meios desfavorecidos, mais enriquecedora, projectada para uma inclusão social plena, quando atribui, a estas, bolsas de frequência nos cursos de sua preferência.

Dou um valor absoluto a esta dádiva. Foi assim, com uma bolsa de estudo de Anna Máscolo, que fiz os meus estudos em dança clássica, quando naquela altura era difícil ter o apoio dos progenitores por razões culturais retrógradas.

Por tudo isto, um Bem Haja à Escola Silvina Candeias. Tem já o seu lugar na cidade e na região de Portalegre.

27 março 2008

DIA MUNDIAL DO TEATRO - 27 de Março - 2008

Hoje festeja-se o Dia Mundial do Teatro!

A Vida e o Teatro têm uma relação muito directa.

Na primeira, na Vida, os actores sociais constroem e fomentam os sentimentos, realizam e aspiram a felicidade, todavia, numa paisagem paradoxal: como seres humanos que são, necessitam encontrar equilíbrios e razões para melhorarem os seus processos societários.

No segundo, no Teatro, os actores “artísticos” constroem, através da Arte e da Estética, razões que ajudam a melhorar o mundo e os processos de socialização e de relacionamento humano.

A Vida, ao passar, mostra-se no Teatro!

O Teatro, ao acontecer, interpreta a Vida!

Hoje é Dia Mundial do Teatro num ano em que se apela à diversidade cultural e à multiculturalidade.

Assim, o Teatro, como arte plural que é, tem um papel activo na construção dos valores que incentivam à inclusão, à solidariedade, à paz e à cidadania.

Hoje é Dia Mundial do Teatro, portanto, é dia de irmos ao Teatro conquistar saber e conhecimento e usufruir estéticas e momentos de prazer, valorizando a emergência de um desenvolvimento cultural permanente, associado à emancipação dos povos.

O Teatro ajuda a construir o caminho da Vida porque despoleta consciências e dinamiza a mudança.

Hoje é Dia Mundial do Teatro.

Façam o favor de entrar na sala. Aproximem-se do proscénio. Vejam o passado, o presente e o futuro em tonalidades e sonoridades diversas que os ajudam a interpretar o Mundo.

Hoje é Dia Mundial do Teatro. Façam o favor de ir ao Teatro.
Hoje é o Dia Mundial do Teatro. A generosidade dos actores e as Companhias de Teatro esperam por si

25 março 2008

II ENCONTRO REGIONAL DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL - MADEIRA

Este II Encontro de Animação Sociocultural irá decorrer no dia 07 de Novembro próximo na Região Autónoma da Madeira. É um sinal de enorme vitalidade da ASC na Região, inteligentemente conduzida por Albino Viveiros, dirigente local da APDASC.

http://animasocioculturaleinsularidade.blogspot.com/

Albino Viveiros, um apaixonado da ASC, seguramente um excelente animador e formador, é também um dos bloguistas mais interventivos na web no que diz respeito à problemática da Animação Sociocultural.

24 março 2008

NOVA DIRECÇÃO DA APDASC

Não gostaria deixar passar mais tempo sem referir a eleição da nova equipa dirigente da APDASC que exercerá o seu mandato até 14 de Janeiro do próximo ano.
http://www.apdasc.com/pt/index.php?option=com_content&task=view&id=14&Itemid=42

Acredito no trabalho e no empenho de Carlos Costa e de toda a sua equipa de jovens animadores socioculturais, alguns também docentes de ASC.

Acredito ser esta a juventude que faz movimentar o mundo e a utopia, tornando a esperança o porto da mudança.

Naturalmente que as teorias, as formações e as actualizações de competências são indispensáveis como instrumentos de assunção da profissão, mas acredito muito mais nas dinâmicas implementadas pelas vontades e pelo militantismo de cada um dos jovens que quer ser protagonista da mudança pensando no bem-estar (desenvolvimento sociocultural tout court) das comunidades.

Formulo votos de enorme sucesso no cumprimento do seu programa para prestígio da APDASC, mas também para bem da ASC em Portugal.

23 março 2008

A VIDA E O TEATRO

Estou ligado ao Teatro desde os dezasseis anos.
Tenho, como é público, formação académica em Teatro, nos campos da interpretação, da educação, da animação e da teoria teatral.
Trabalhei quinze anos como actor profissional.
Aprendi com prestigiados mestres nacionais e internacionais.
Como Professor de Teatro e Animador Cultural, para além da função artística, trabalho a função social do Teatro.

Sei, do ponto de vista teórico, e prático, a importância da função social do Teatro.

Senti, no corpo e na alma, como ex-combatente da guerra colonial, a importância terapêutica que o Teatro promove.

Pensava que nada mais me surpreenderia neste campo. Que falta de humildade!

Hoje, através de um filme/documentário passado pela RTP2, emocionei-me e verifiquei uma outra dimensão do teatro e das pessoas.

Obrigado actores do Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral pela vossa passagem por um autor como Kafka.

Obrigado jovem Marco Paiva pela tua enorme disponibilidade como animador e encenador do Grupo de Teatro daquela Instituição.

Emoção? Surpreendido, seguramente.

21 março 2008

AS COISAS DA NATUREZA OU A NATUREZA DAS COISAS?

15 março 2008

A IGUALDADE DE GÉNEROS

Na continuidade do que vem sendo a resposta à política da igualdade de géneros, isto é, na sequência de uma directiva da União Europeia que incentiva os governos a acelerarem e praticarem uma política de igualdade entre homens e mulheres no acesso destas aos lugares de topo, e não só, também no quotidiano da partilha de oportunidades de espaço e de tempo na sociedade, verificamos que esta decisão, esta cultura e esta mudança estão ainda muito longe de serem realizadas.

Se repararmos, nestes últimos 15/20 anos, cursos e profissões que foram predominantemente de homens, são hoje espaços de conquista e de afirmação das mulheres. Todavia, ainda é muito reduzido o número destas com acesso aos lugares de topo, da liderança e da decisão. A conquista desses espaços e dessa afirmação, profissional sobretudo, ainda não encontrou eco nas compensações financeiras, isto é, ainda não colocaram a mulher em paridade com o homem no exercício das mesmas funções.

Tudo isto a propósito do dia 08 de Março, Dia Internacional da Mulher!

Sem quaisquer preconceitos, de moralidade ou de paternalismo, incomodam-me as opções de festejos para este dia, as quais se situam, quase exclusivamente, num movimento de socialização vazio, a maioria das vezes gratuito. Incomoda-me também quando essas iniciativas, que se generalizam através de jantares, de bailes e de strippers, são realizadas por organizações que deveriam pensar e repensar a mulher no dia-a-dia, manifestando solidariedade perante as questões da violência doméstica, perante a existente discriminação social e profissional e, finalmente, perante as dificuldades de conciliação entre o seu frágil estatuto sócio-profissional com a sua vida doméstica.

Mas, acreditem, incomoda-me muito mais, quando são as autarquias a desempenharem esse papel. A responsabilidade política, neste caso, é a de comemorar a efeméride com dignidade. Naturalmente, também com espaços lúdicos e de entretenimento mas, sobretudo, com espaços de reflexão e de decisão política. Espaços, afinal, que contribuam para dignificar este dia, como dia de legitimação de igualdade absoluta entre homens e mulheres. Em festa, naturalmente, mas que seja o corolário de iniciativas de formação e intervenção, desenvolvidas ao longo do ano, sobre a importância do papel da mulher na sociedade de hoje.

Não tenho pretensões de dar respostas ou soluções. Mas sei, todos sabemos aliás, por vivermos em sociedade, que as mulheres são tanto ou mais competentes e dinâmicas que os homens. Afinal sei, sabemos todos, que as mulheres não só merecem, como têm o direito, de serem felizes e de terem, em absoluto, as mesmas oportunidades.

Finalmente, compete-nos a nós, homens, contribuir para a legitimidade da igualdade de géneros. Talvez se acelere o processo e a mudança de mentalidades, se lutarmos ao lado das mulheres, reivindicando para nós, os mesmos, apenas os mesmos direitos e oportunidades que elas vão tendo.

09 março 2008

A POLÍTICA E O DESENVOLVIMENTO

A ciência e a cultura política têm sido espaços de reflexão e intervenção teóricas localizados predominantemente no mundo académico. Pela pouca interacção entre este universo e a sociedade civil (falamos aqui das Organizações, do Movimento Associativo, das Comunidades e das Populações em geral), o espaço da compreensão/interpretação e o processo de formação/acção tem sofrido défices de democracia que se traduzem pela nossa incapacidade de alterar hábitos e práticas, portanto mentalidades, assim como pela nossa dificuldade em inovar a realidade do quotidiano.

Do ponto de vista político as comunidades e/ou as populações, sobretudo dos territórios mais periféricos (entendemos neste conceito não só a questão geográfica, como também a questão social), são facilmente tratados como objectos de uma acção unívoca emanada do poder central. Tem sido difícil a este, no tempo que já levamos de democracia, orientar uma ideia de desenvolvimento em que os protagonistas, para além da decisão política, deverão ser também as próprias populações e as suas organizações representativas. Esta ideia de desenvolvimento deverá estar assente não só num diálogo permanente e frutuoso, entre todos os envolvidos, esperando dele a assumpção de compromissos de todas as partes, como também deverá estar assente nas responsabilidades individuais e colectivas que configuram o país, as regiões e os locais.

Naturalmente, não se podem traçar políticas de saúde, de educação ou outras, sem envolver todos os seus protagonistas: os técnicos de saúde, a comunidade educativa, etc., mas também os próprios destinatários dessas políticas. Este quadro não pode ser entendido só à escala do país. Deve entender-se também à escala regional e local, descentralizando essas decisões, mas também esses compromissos, deveres e direitos de cidadania.

A vida de um território, região ou local não é unicamente a de mostrar a sua capacidade de produção industrial ou de se reduzir à localização de serviços públicos. Um território ou região é também uma população local, simultaneamente organização e acção dos actores locais, públicos e privados. Neste sentido devem criar-se condições e espaços para o exercício de competências que permitam às organizações e associações locais conduzirem, e definirem também, uma parte do desenvolvimento local e regional em parceria com o poder local.

Numa sociedade onde as colectividades e associações socioculturais têm peso, estas tornam-se, inevitavelmente, pólos de desenvolvimento local. Este peso institucional advém de políticas correctas de financiamento para as suas actividades e que se traduzem, ao mesmo tempo, no protagonismo e na definição das políticas culturais locais.

A acção cultural conduzida pelos actores locais pode ser uma acção importante sobre o desenvolvimento do local e da região. A questão é a de saber determinar tipos de acções precisas que terão um efeito positivo, ao mesmo tempo que se aumenta a capacidade de identificar as condições que permitirão o sucesso e a eficácia.

Uma coisa é certa. A responsabilidade no desenvolvimento é uma partilha entre o poder político e a expressão popular local. Os protagonistas serão todos em simultâneo, mesmo que, pontualmente, cada um desses parceiros assuma a liderança desse desenvolvimento.

A humildade das organizações e do movimento associativo, mas também do poder político (central e local), levada em conjunto, constrói uma sociedade mais justa e mais equilibrada. Aqui, a igualdade de oportunidades e de género, a inclusão social e, no seu todo, o desenvolvimento local, trabalham para uma dimensão axiológica indicadora do reencontro com alguns dos valores do passado que vale a pena manter e da descoberta de novos valores que configurarão conceitos de sociedades e comunidades novas e empreendedoras.

02 março 2008

A FORMAÇÃO ARTÍSTICA EM PORTUGAL

Nem a Conferência Internacional da UNESCO sobre o Ensino Artístico realizado em Lisboa acerca de dois anos, nem o Congresso Nacional sobre Educação Artística realizado no Porto o ano passado, ambos sob a tutela do Governo, foram o suficiente para este interpretar e promover as deliberações/sugestões emanadas de ambos os eventos.

Temos vindo, ao longo destes últimos dez anos, já aqui o referi mais do que uma vez, a perder espaços de educação e formação artística nas estruturas educativas genéricas, isto é, na formação com uma perspectiva de Educação pela Arte, assim como temos vindo também a perder espaços de formação especializada, em estruturas educativas de especialidade artística, isto é, na formação com uma perspectiva de Educação para a Arte. Num e noutro conceito cabe, respectivamente, a formação generalista e a formação especializada.

É com este sentido que vou propor ao Conselho Directivo da ESE de Portalegre, na minha qualidade de Coordenador do Curso de Educação Artística, a realização de um Encontro Nacional sobre Educação e Produção Artística em Portugal para meados do próximo mês de Novembro.

Este meu reencontro com um evento desta natureza vem na sequência de outros realizados, e por mim coordenados, em 1985/86 envolvendo a Escola do Magistério Primário de Évora onde leccionava Movimento e Drama na formação de Professores e de Educadores de Infância e também o Centro Cultural de Évora, actual CENDREV, do qual fui co-fundador, actor e animador cultural entre Janeiro de 1975 e Janeiro de 1982. No ano lectivo de 1986/87 realizámos, a ESE de Portalegre e de novo o Centro Cultural de Évora, actual CENDREV, um grande Encontro Internacional de Expressões Artísticas na Formação de Professores e de Animadores.

Curiosamente, estando muito em voga as Redes, à semelhança da Rede Iberoamericana de Animação Sociocultural ou Rede Lusófona de Animação Sociocultural que surgirá em Abril em Ponte de Lima, vai acontecer também, a partir do próximo mês de Maio, na ESE de Beja, um Congresso Iberoamericano de Educação Artística (http://www.rede-educacao-artistica.org/ia_02_trans_alentejo.htm) que formalizará a existência legal da futura Rede Iberoamericana de Educação Artística.

Professores de Arte e Artistas têm de reflectir em profundidade sobre as políticas educativas na área da Educação Artística em Portugal, de forma a evitar o descalabro e o desmoronamento desta área educativa e destas práticas em Portugal. Está em causa a cultura artística dos cidadãos e a democratização do ensino profissional e especializado e da formação e educação estética e artística de todos os cidadãos.

Hoje o que acontece em relação ao Ensino da Música é absolutamente absurdo. Por todas as razões já suficientemente apresentadas publicamente. Claro que se deve democratizar a educação artística, a tal perspectiva de Educação pela Arte, como se deve democratizar também a educação artística especializada, a outra perspectiva, a Educação para a Arte.

O ensino da Música como o ensino da Dança, são suficientemente importantes para terem que ser ministrados em Escolas de Formação Especializada de formação vocacional e profissionalizante.

Poderão existir escolas com formação integrada, escolas de formação em regime supletivo mas, seguramente, deverão continuar a existir escolas de formação específica, especializadas.

Há lugares, meus senhores, para os Conservatórios de Música e para as Escolas de Dança de formação especializada e de frequência de longa duração: de criança a adulto.

Tudo o que se diga a partir desta realidade é demagógico e são visões e estratégias de racionalização de meios.

PS: O surrealismo desta “reforma” surge porque o estudo foi feito por especialistas das Ciências da Educação em vez de ser feito por especialistas em «Ciências da Arte». Temos investigadores e professores, mestres e doutores, em todas as áreas da formação artística. Porque não os chamaram a participar nessa ou noutra «reforma»?