28 setembro 2009

ERNESTO NEVES - A Vida (que reflecte a Obra)

Chegará o tempo em que a Obra de Ernesto Neves terá a projecção que ele merecia. Enquanto criador e enquanto pedagogo.
Cordial e simpático comigo e amigo fraterno de minha irmã e de meu cunhado, Ernesto deixou-nos hoje levando, no horizonte que o circunda, as cores do arco-íris que tão bem dominou em técnica e em arte, em criação e talento.
Admirava Ernesto Neves pela sua entrega aos amigos e à Arte. Gostava de Ernesto também, por ter no seu role de amizades profundas pessoas que também amo.
A sua obra é uma referência na arte contemporânea portuguesa. Vale a pena conhecê-la e admirá-la.

“Quando era bastante jovem, fins dos anos cinquenta, era crucial a seguinte pergunta; Pintor Porquê? Isso não é profissão, podias ser serralheiro, carpinteiro, advogado ou até médico. Os pintores são todos loucos. Vivem num mundo a parte. Era-me difícil responder a perguntas tão pertinentes. Para fazer a vontade aos meus pais fui percorrendo outros caminhos profissionais. Nunca deixei de pintar.
Fui paquete, dactilografo, técnico de audiovisuais, monitor de formação, ilustrador, gráfico, fotógrafo de publicidade, art.director e muito mais coisas.
Hoje penso que teria mais facilidade em responder a tal pergunta. A mesma continua a ser frequente. os pintores vivem num mundo muito próprio, vivem noutro universo por eles criado, Cada qual tem o seu próprio espaço. Não com o espaço físico, mas si, o espaço mental.
Já andei no alto mar onde o horizonte parece não ter fim, já atravessei o deserto do Mojave, a caminho de Las Vegas, continuei com falta de espaço, Respirar é difícil. É preciso pintar para ter espaços vários.
Com 45 anos como profissional e 63 anos é quase toda uma vida a pintar: umas vezes com significado, outras não, Ao longo destes anos, já pintei um pouco de tudo, desde casas, cidades, rostos, montes, homens no deserto, cavalos, searas, cenas bíblicas e muitas mulheres, muita água e muitos barcos, percorri a nossa história embarquei nas caravelas dos nossos descobridores, andei por esse mundo fora. Utilizei várias técnicas, adoptei vários estilos, fui muitos pintores, assimilei quase todos os "ISMOS" que existem no dicionário de pintura,
Aprendi a tecnologia dos materiais, a mistura das cores, o equilíbrio das imagens, enfim um certo sentido estético. Mas será que tudo isto fez de mim um artista ou apenas um mero executante? Penso que foi um longo período de aprendizagem e que é necessário mudar tudo isto, ou seja: é necessário entrar naquele mundo que está dentro de nós, que os artistas têm e que por vezes não sabem explicar, deixando isso para os entendidos, se é que os há! Hoje e quando digo hoje é neste preciso momento que algo tem de mudar na minha pintura.
É preciso aproveitar os sinais que ficaram ao longo destes anos que quase não me apercebi deles. A pintura é, de certa maneira, a forma como eu respiro, só que é preciso renovar o ar saturado pelo ar puro. É necessário começar um novo ciclo.
É preciso percorrer a Via Láctea, envolver-me nos anéis de Saturno, ultrapassar o mundo cósmico, ser um viajante no tempo o filho pródigo, o peregrino e porque não o alquimista da vida: ser vento ou areia, atravessar o longo deserto do tempo, chegar ao fim do pesadelo sem cair no precipício, entrar no mundo dos sonhos, encetar o caminho da iniciação, encontrar o cálice sagrado - Santo Graal. É o eterno desafio entre o artista e a tela - é o respeito ou o desrespeito pela superfície, pelo suporte escolhido. É necessário que o corpo fique sentado lá no canto da oficina e que o espírito percorra o espaço encontrado o trilho para que ele se transforme em caminho, pois os caminhos só se fazem caminhando no eterno retorno.
Ernesto Neves”

In: http://ernestoneves.pt/pintura/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

21 setembro 2009

MEDO? DE QUÊ? DE QUEM?

Estou à vontade. Não pertenço a nenhum partido político e não tenho compromissos eleitorais, a não ser cumprir o meu direito cívico de votar.
Falar do medo dos cidadãos porque estão a perder os seus direitos e a sua liberdade é um oportunismo político de quem o apregoa. Não sinto medo absolutamente nenhum, nem eu nem as pessoas mais próximas, assim como não observo o medo nas outras pessoas com quem diariamente me cruzo no espaço público. É um papão das histórias das avozinhas.
O que sinto é que o cidadão comum quer ultrapassar as dificuldades, deseja ser menos pobre, anseia ser mais empreendedor e isso faz-se também, sobretudo, com as decisões políticas certas.
Neste caso seria muito mais honesto que a campanha para as legislativas assentasse o seu discurso objectivamente naquilo que é importante mudar ou aperfeiçoar na melhoria das condições de vida de todos os cidadãos.
Talvez aqui é que esteja o medo. Na dificuldade de acreditar ainda nos políticos.

06 setembro 2009

A SINGULARIDADE

A pausa para férias foi algumas vezes suspensa pela necessidade de dizer algo associado a uma dimensão simbólica profunda, justificando assim a sua publicação. O que disse sobre as pessoas que referenciei foi importante ter dito. O meu sentir e os meus sentimentos assim o exigiram. Mas não falei de Morais e Castro que também nos deixou, não noticiei o incêndio na sede da APDASC e não divulguei a quantidade de Encontros e Congressos de áreas a que estou ligado profissional e culturalmente e que terão início, muitos deles, já neste mês de Setembro.
No regresso volto com dúvidas. De retomar a escrita no blogue, de manter este blogue e esta filosofia.
Este blogue não é de algo mas sim de alguém. De um indivíduo que tem necessidade de afirmar um pensamento, que tem desejo de criar o seu espaço de reflexão sobre o mundo, partilhando-o. E de tentar ser singular, no fundo, naquilo que nos diferencia uns dos outros. O que deveria ser uma constante, a singularidade, torna-se ou vai-se tornando num percurso de rotina e num produto de lugares comuns.
Creio que essa singularidade ou a originalidade individual perde-se porque este mundo da blogosfera, também ele se banalizou.
É pois, com esta dúvida, creio que um pouco existencial, que vou aguardar por um novo élan que contrarie este pessimismo e que, com este ou outro blogue, me incite continuar em frente confrontando, positivamente, o meu semelhante pela discussão das ideias.