28 março 2010

O que é suposto trazer-nos o Dia Mundial do Teatro?

Acreditem, até ao momento em que escrevo este texto, estamos a 28 de Março, não conheço ainda o conteúdo da mensagem do Dia Mundial do Teatro, nem sequer o nome do seu autor. Não é hábito da minha parte ignorar este evento.
As mensagens de esperança escritas pelos seus autores, homens e mulheres do Teatro e do Mundo, são conteúdos que se perdem no dia da efeméride, após a leitura do seu conteúdo em todas as bocas de cena dos teatros do mundo.
Este ano, intencionalmente, descurei o conteúdo e o autor da mensagem. Preferi ouvir primeiro, em Évora, os testemunhos que iriam ser feitos sobre Mário Barradas, no contexto da homenagem que o CENDREV lhe prestou no Teatro Garcia de Resende e perceber se faziam sentido com uma ideia de mensagem universal sobre o Teatro.
Ouvi palavras e frases como solidariedade, transformação do mundo, educação e formação das comunidades, construção de cidadanias, emancipação dos povos, função social inadiável, serviço público, educação estética, mestre, amigo, companheiro, culto, inteligente, apaixonado, universal, à frente do seu tempo, optimista…
Estas e muitas outras palavras e frases foram as que ouvi sobre Mário Barradas e que gostaria de ler e ouvir como a mensagem do dia mundial de teatro deste ano.
Como um dos privilegiados que se cruzou com Mário Barradas, já aqui o referi algumas vezes neste blogue, concordo em absoluto com o testemunho das pessoas presentes ontem em Évora, dia 27 de Março de 2010, pelas 16H no Teatro Garcia de Resende. Para mim, a acrescentar a todas aquelas palavras, juntaria a generosidade, a inquietude, o gosto de ensinar e de aprender.
Assim o Dia Mundial do Teatro foi para mim um dia de afectos, de memórias e de gratidão.
Foi esta mensagem que quis ouvir primeiro. Mário Barradas não se atreveria a falar de si daquela forma, mas os seus contemporâneos fizeram-no e deram-me o privilégio de ouvir outra mensagem do Dia Mundial do Teatro.
Ouvi directamente a mensagem com a qual que me identifico.

22 março 2010

ESTATUTOS DOS ANIMADORES SOCIOCULTURAIS - está aberta a discussão nacional

Na sequência de muita indecisão na urgência da discussão sobre os Estatutos do Animador Sociocultural, finalmente o processo foi iniciado pela APDASC, única representante desta classe profissional. Reforço o sentido de única já que, no meu entender, deveriam existir mais organizações de classe que poderiam consubstanciar uma ideia de Federação, cujo peso e legitimidade para a reivindicação seria seguramente mais eficaz.
Muito embora alguns docentes do ensino superior tenham sido convidados para participarem nestas discussões promovidas pela APDASC a nível nacional, creio que a Escola Superior de Educação de Portalegre é, neste momento, a única instituição do ensino superior público, que faz formação de animadores socioculturais, a organizar um Encontro que problematiza, exclusivamente, as questões da profissão e dos Estatutos dos ASC e de onde sairão conclusões que apresentará ao grupo nacional liderado pela APDASC, que elaborará os Estatutos a serem aprovados no Congresso Nacional em Novembro em Aveiro.
Não esqueço, naturalmente, toda a discussão histórica deste processo, relembrando as primeiras propostas de Estatutos criadas pela APAC, liderada pelo Francisco Albuquerque na década de setenta e pela ANASC sobre a liderança de Marcelino Lopes. São modelos que nos servirão de inspiração para a criação de um novíssimo documento que responda às necessidades da Animação Sociocultural e do Animador Sociocultural do Séc. XXI.
Nas minhas deslocações nacionais, a fóruns onde se discutem estas problemáticas, tenho-me apercebido de alguma dificuldade na gestão da discussão sobre os perfis, funções e competências do ASC, assim como na dificuldade da definição das várias categorias profissionais a incluir nos Estatutos, nomeadamente, quando falamos de formação técnico-profissional em ASC e de formação superior em ASC. Os próprios profissionais, de ambos os níveis de formação, têm alguma dificuldade em identificar, estratificando-os, os perfis, funções e competências para o exercício da profissão. Existe uma amálgama conceptual que é urgente redefinir. É um trabalho que está a ser feito com alguma sensibilidade e inteligência pelos líderes do processo apoiados na discussão pública pelos profissionais e pelos formadores dos dois níveis de ensino.
Congratulo-me com o desenvolvimento deste processo. Agradeço ao Carlos Costa, ao Albino Viveiros e à Direcção da APDASC a forma simpática com que me receberam em Aveiro e Madeira nestes dois últimos fins-de-semana.

PS. Não esqueci ontem o Dia Mundial da Poesia. Mas o cansaço que venho a acusar nestas últimas semanas, que se vai notando pela irregularidade com que escrevo neste blogue, provocado pelo excesso de trabalho em várias frentes, as viagens e o pânico de viajar de avião, não me permitiram associar à efeméride aqui no blogue. Faço-o hoje apelando a que comprem, leiam, escrevam e digam POESIA.

09 março 2010

"É preciso sacudir as consciências adormecidas"

Retomando a expressão utilizada no blogue A VOZ PORTALEGRENSE do meu amigo Mário Casa Nova Martins* “É preciso sacudir as consciências adormecidas”, a propósito da criança que se suicidou em Tondela, parece-me que as consciências adormecidas de vez em quando acordam sobressaltadas. O bullying não é nada de novo. Não tinha nome, mas sempre houve. Eu lembro-me, e tenho sessenta anos, para não ser achincalhado, humilhado e não me baterem, não dizia nunca que gostava de ser bailarino clássico ou actor. Mas não foi só em criança, foi na adolescência e como adulto, nomeadamente na tropa.
Estamos falar de uma educação cultural a que deveríamos estar sujeitos todos, sem excepção, no contexto da Escola, no seio das famílias, nos espaços cívicos de socialização, associações, grupos, colectividades, nas igrejas/religiões, nas políticas, na comunicação social e por aí fora.
É verdade que os instintos maus e a maldade existe em muitos espíritos e, por vezes, é difícil de controlar. Mas também é verdade que em muitos aspectos das relações humanas não queremos ver o que está à vista, isto é, anomalias no funcionamento societário.
Existem responsabilidades do Estado, das Organizações, das Famílias, dos Grupos mas também dos indivíduos.
Neste caso de Tondela, a Escola (os professores e os funcionários) são responsáveis porque deviam estar atentos. Mas não vamos transformar a Escola no bode expiatório de um problema que é de todos.
Não basta só sobressaltarmo-nos quando a tragédia acontece. É preciso respondermos de imediato, todos sem excepção, para atenuar ou resolver este e outros problemas. Assumir, cada um de nós, individual e colectivamente, a culpa.
Temos, institucional e profissionalmente, algumas estratégias ao dispor da Escola, nomeadamente a integração na equipa educativa de outros profissionais capazes de ajudarem a sublimar tendências agressivas, ocupando as crianças e os jovens, mas também envolvendo as famílias e as organizações, em actividades de aprendizagem e de práticas de cidadania.
É preciso estender os cordões à bolsa e integrar nas equipas educativas profissionais como os animadores socioculturais, educadores sociais e artistas. São áreas de intervenção que podem, em muito, ajudar a colmatar processos educacionais no campo da cultura e da humanidade.
Caberá, em simultâneo, outras responsabilidades às famílias, muitas das quais também têm de fazer formação e às organizações socioculturais e religiosas que constituem as comunidades. Mas tudo isto é também uma responsabilidade política, nacional e local. É preciso trabalharmos todos em conjunto e percebermos que a humanidade da pessoa por vezes tem de ser humanizada.


*http://avozportalegrense.blogspot.com/

01 março 2010

A propósito da preservação da memória a Raul Solnado, a família, para responder a alguns dos sonhos do actor, está decidida a meter mãos à obra para concretizá-los.
Tenciona avançar com a construção de uma Escola de Teatro e com um Museu sobre o actor, ambos com o nome do artista. Para o Museu conta com o espólio do actor, que se traduz em obras de arte, oferecidos a Raul Solnado por outros artistas amigos, mas também por outro tipo de objectos mais pessoais.
Penso que as duas iniciativas farão, sem dúvida, perdurar na memória colectiva a importância da personalidade, do talento e da humanidade de Raul Solnado.
Não me parece boa ideia que o espólio do actor, nomeadamente algumas dessas obras de arte, deva ir a leilão, para custear a construção da Escola de Teatro. Um e outro projecto podem ter percursos diferentes de viabilização. Do meu ponto de vista os dois espaços podem coexistir e completar-se. De que forma?
A primeira coisa a saber é se a Câmara Municipal de Lisboa está disponível a ceder espaço físico digno para a implementação destes dois projectos ou, porventura, a disponibilizar, a preço zero, terreno para construção de raiz. Afinal, qualquer destes dois equipamentos culturais na cidade de Lisboa, com a matriz de utilidade pública, seria uma enorme manifestação de gratidão para com Raul Solnado que em vida deu, à cidade e ao país, o seu talento, a sua generosidade e o seu humor.
Os Projectos levados a bom termo, têm condições de avançar, pelo tipo de apoio que hoje é possível alcançar, através de programas-quadro europeus para a cultura, do próprio governo português e das autarquias da grande Lisboa.
A Escola de Teatro para funcionar, e como se tratará de uma escola profissional, terá todas as condições de viabilização ao abrigo da legislação que legitima o ensino técnico-profissional.
A família deverá rodear-se de um conjunto de pessoas competentes em vários domínios, nomeadamente no plano jurídico, artístico e financeiro. Só uma equipa generosa, como foi Raul Solnado, poderá ajudar a família do actor a concretizar este seu sonho adiado.
Comigo podem contar para a formação teatral.