03 outubro 2012

PESQUISA SOBRE O PAPEL DAS MULHERES NA GUERRA COLONIAL

APELO A UMA COLABORAÇÃO
A Guerra Colonial também teve combatentes que pouca gente se recorda ou pelo menos fala deles. Neste caso, delas, das Mulheres! Há alguma bibliografia sobre esta temática, mas anda em torno da poética e do romance e de um ou outro testemunho. Com efeito as Mães, as Irmãs, as Namoradas ou as Esposas estiveram numa retaguarda que pautou também por um profundo desgaste, por uma permanente ansiedade e desespero e também, infelizmente, pelo luto. Fiz a guerra em África (Guiné) entre janeiro de 1971 e março de 1973 e sei o que meus pais, especialmente a minha mãe, que era quem me escrevia, mas também a minha jovem irmã, sentiam pela experiência que eu vivia naquele momento. Ainda está por fazer, com algum rigor científico, este trabalho de investigação: o que sentiram e transmitiram as Mulheres portuguesas na sua condição de familiar directo de um jovem combatente em África? Como no final deste ano civil passarei para um outro ciclo da minha vida, a reforma, gostaria de ocupar esse tempo com esta fascinante tarefa. Assim solicitava aos(às) meus(as) amigos(as) que me ajudassem. Se são familiares directos, indirectos ou ainda amigos, de Mulheres que viveram esse drama, o terem tido um filho, um irmão, um namorado ou esposo na guerra de África, as pudessem abordar com meia dúzia de questões que passo a referir:
QUESTIONÁRIO
1º - grau de parentesco; 2º - idade; 3º - habilitações; 4º - o que pensaram e pensam ainda sobre a Guerra Colonial que afectou a sociedade portuguesa, e naturalmente, os povos das ex-colónias) Era uma guerra justa? Injusta? Porquê? Fez algum sentido? 5º - o que sentiram quando seu ente querido foi mobilizado e partiu? 6º - quantas vezes por mês lhe escrevia? 7º - quantas vezes por mês recebia carta dele? 8º - do que lhe falava ele com mais consistência? Dos ataques/combates? Da calma e paisagem africana? Dos medos? Das relações entre camaradas? 9º - o que escrevia ao seu ente querido? Falava-lhe do dia-a-dia da família? Dava-lhe conselhos? Falava-lhe dos seus receios ou medos?10º - o que sentiu quando o viu chegar perto de si? 11º caso, infelizmente, o seu ente querido não tenha regressado, diga como encarou esse momento? E como o encara ainda hoje? Obrigado. Agradeço o envio destas respostas, se possível organizadas desta forma, para o endereço ( afpbento@gmail.com )

CONGRESSO SOBRE A MULHER (MÃES, NAMORADAS/ESPOSAS E IRMÃS) NA GUERRA COLONIAL

A Guerra Colonial tem, nesta altura, um espólio literário interessante.
Existem testemunhos, romances, ficção e poesia, feita, a maioria dela, pelos próprios ex-combatentes.
Existe também uma colecção da Editorial Notícias (3 volumes) com as actas de três Congressos Mundiais sobre a Guerra Colonial organizados por Rui de Azevedo Teixeira, professor na Universidade Aberta.
Existe ainda um trabalho, recentemente publicado por Beja Santos, que traz um apport de quase todas as publicações sobre esta matéria. O trabalho de Beja Santos é enquadrado por análises sociológicas interessantes sobre os textos de vários autores.
Para além dos três Congressos acima referidos, têm existido, pontualmente, ao longo do país e dos anos, pequenos Encontros e Conferências.
Mas há um lado da Guerra Colonial pouco conhecido, e que já aqui fiz referência, que é o papel das Mulheres na Guerra Colonial: as mães, as namoradas/esposas e irmãs.
Sobre esta temática, algumas mulheres da sociedade portuguesa têm-se debruçado sobre o tema. Trata-se, a maioria delas, de esposas e filhas que traduzem globalmente o sentir das Mulheres da Guerra Colonial. Também uma ou outra mulher do meio académico e escritoras.
Neste último caso referimo-nos particularmente a Margarida Calafate Ribeiro, investigadora, que publicou “As Mulheres Portuguesas e a Guerra Colonial” e a escritora Luísa Jorge que, nalguns dos seus livros, nomeadamente na “Costa dos Murmúrios” refere, en passant, esse papel da mulher, sobretudo a dimensão da solidão.
Do que pesquisei, e que se inscreve mais nesta problemática, aparecem ainda mais duas ou três publicações. Uma, editada pela Fonte da Palavra, traz o testemunho na primeira pessoa de Ana Bela Vinagre, que transmite o sentir das mulheres da guerra colonial, mas também o seu próprio, através do testemunho como esposa de um ex-combatente e deficiente das Forças Armadas, mas também  testemunhos das mulheres da sua região, Leiria, com o título “A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial”. Outra, desta feita em documentário cinematográfico realizado por Marta Pessoa, que propõe, através “do lado feminino e escondido da Guerra colonial”, um novo olhar pelos testemunhos menos conhecidos das mulheres, mães e avós dos ex-combatentes.
Das poucas Conferências ou Encontros realizados sobre esta problemática temos a assinalar, uma organizada por altura do lançamento do livro de Margarida Calafate Ribeiro e outra nos Açores pela mão de Susana Serpa Silva da Universidade daquela região.
O interesse por esta problemática advém de eu ter sido ex-combatente e ter sentido de perto a angústia e o sofrimento das mulheres da minha vida: minha mãe, minha avó e minha irmã. Esta circunstância leva-me também a fazer uma investigação, sobre a problemática em questão, num universo mais amplo e que pretendo terminar por altura do Congresso sobre as Mulheres na Guerra Colonial a realizar em parceria entre a Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Portalegre e a Associação Cultural de Portalegre “JANUS”, em Novembro de 2013 em Portalegre.