15 dezembro 2009

Os símbolos do Natal

Falar do Natal, para mim, é recordar sempre a infância.
Infância com tempo e espaço da procura, do crescimento, das memórias, das referências e da cultura.
Cultura que me definiu, e define ainda, uma identidade e uma civilização.
A civilização judaico-cristã.
Esta é a matriz da minha formação. No carácter, na humanidade e nos valores.
Reenvia-me para a minha prática de fé formal: a Igreja e o Evangelho.
Reenvia-me também para a Natividade: Maria, José e o Menino.
Se da primeira me fui afastando ao longo dos anos, dos segundos ficou sempre em mim a crença e a fé.
Era então o Natal. O Menino que simbolizava a paz e o amor e as oferendas. Foi, durante alguns anos, a razão da existência de muitas crianças da minha geração. O sapatinho na chaminé e as prendas aí deixadas pelo Menino Jesus, materializadas pelas mãos dos pais.
O comércio era suave, menos apelativo ao consumo e o Presépio lá estava para colocar em comunhão as famílias e todos os crentes.
Depois veio o Pai Natal, gordo, com ho, ho, hos, renas e trenós e o apelo anglo-saxónico ao consumo. O Menino Jesus foi sucessivamente trocado por outros interesses: mais globais, menos locais, menos comunitários.
De repente surge um movimento que quer repor a verdade simbólica. Afirmar de novo, pelo Natal, a figura do Menino Jesus, através da fixação de um estandarte pelas janelas e pelas portas.
Recebi a ideia com ternura.
Até ao momento em que ouvi cristãos afirmarem que era para ajudar a Igreja.
Prefiro a dimensão simbólica do Natal vivido apenas com as minhas crenças e desejos.

09 dezembro 2009

A pedido da minha colega e amiga Ana Silva, companheira neste caminho da ASC, docente na ESE de Santarém.

04 dezembro 2009

Longevidade a troco de quê?

Quem como eu, e são muitas as pessoas da minha geração que passam esta experiência, sabe que a longevidade dos seus progenitores tem, a maior parte das vezes, custos difíceis de suportar. Destes últimos, a dolorosa via-sacra a percorrer entre médicos, hospitais, medicação em quantidade e várias dependências que os tornam frágeis, ao ponto de sentirem humilhação na sua própria existência. Dos primeiros, a incapacidade de dar respostas a questões imediatas; a tortura e a angústia de tornar numa rejeição aquilo que é a melhor decisão para todos; enfim, o dilema de entender como, onde e porque decidir o futuro breve dos pais.
Viver até ao impossível é aquilo que a ciência permite e aquilo que todos nós gostaríamos que assim fosse se, porventura, a saúde, a mobilidade, a dependência e a lucidez estivessem num patamar que nos permitisse a autonomia para viver e não sobreviver. Viver o percurso da longevidade breve que a ciência vai permitindo é legítimo, é ético, mas a maioria das vezes é penoso. Como lidar com o calvário, o sofrimento e a incapacidade de dar o que mais desejaríamos aos nossos pais: uma vida longa e saudável.
Quem vive a experiência de decidir sobre se um dos pais, ou ambos, devem ser institucionalizados em lares; quem se entristece pelo sofrimento de um dos pais, ou ambos, quando estão ou precisam de ser hospitalizados. Questiona muitas vezes a dimensão dos seus próprios afectos.
Vivemos um enorme paradoxo. Perante a inevitável perda dos progenitores idosos, lutamos para que se mantenham junto de nós, mesmo com sofrimento. Ao mesmo tempo, e porque também é inevitável, sentimos essa incapacidade de encarar o seu sofrimento e a sua dependência.
As excepções de anciãos saudáveis e de longa vida, como o cineasta Manuel de Oliveira por exemplo, não pode tornar-se o exemplo que descansaria as nossas consciências. Vive-se afinal até que Deus queira e esse ciclo só Ele pode determinar e que nós, humildemente, devemos aceitar.
Todavia podemos e devemos criar condições para uma existência mais digna dos nossos idosos, dos nossos pais, mesmo recorrendo à institucionalização. São as organizações que têm os espaços, as condições e as respostas mais adequadas às urgências. Podemos ficar tranquilos, mas as nossas responsabilidades e afectos devem aumentar.