25 novembro 2010

CICLO DE CONFERÊNCIAS DE SENADORES







21 novembro 2010

OS CONGRESSOS E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS

Entre 12 e 14 do corrente decorreu em Viana do Castelo o “I Congresso sobre o estado do Teatro em Portugal” e em Aveiro, entre 18 e 20, também deste mês, aconteceu o “I Congresso sobre a Profissão e os Estatutos Profissionais do Animador Sociocultural”.
Foram duas semanas muito agitadas profissionalmente porque, entre congressos, aconteceram as viagens e a actividade docente. Mas valeu a pena.
No primeiro Congresso, sobre o estado do Teatro em Portugal, fiquei com a ideia de um conflito latente entre os criadores e os académicos. Para ser mais realista, a percentagem de criadores presentes no Congresso foi de um criador para dez, quinze académicos, o que, por si só, revela o interesse daqueles para com os espaços de debate de uma área tão ampla, que não se reduz à criação e produção de espectáculos teatrais. A dimensão do Teatro, como se pôde verificar no decorrer do debate, tem uma amplitude de tal grandeza que nos reenvia para um protagonismo disseminado entre muitas áreas da vida, do quotidiano e do estudo. É por isso que, em minha opinião, não há razão para a existência de qualquer conflito entre os protagonistas acima referidos, porque o Teatro é a arte mais plural e democratizadora.
Foi, sobretudo, um Congresso que ajudou a colocar o Teatro num patamar de arte responsável e comprometida com a vida dos cidadãos.
Foi também um Congresso que esteve sob “um olhar de afectos e de cumplicidades” do meu saudoso mestre e amigo Mário Barradas, cuja personalidade foi merecedora de mais uma homenageada póstuma.
Do Congresso de Aveiro, sobre a Profissão e os Estatutos dos Animadores Socioculturais saíram, finalmente, dois documentos, aprovados por unanimidade, que consubstanciam uma definição da carreira, de papéis e de perfis dos Animadores Socioculturais Portugueses. Afinal os documentos que legitimam o exercício da profissão: o Estatuto Profissional e o Código Deontológico.
A partir de Janeiro, a Comissão que saiu nomeada pelo Congresso, iniciará o trabalho de divulgação e difusão destes documentos junto do poder político, das várias tutelas envolvidas nos territórios da Animação Sociocultural, mas também junto do poder local, instituições de formação média e superior e dos empregadores, de forma a criar-se um espaço favorável à aprovação formal e institucional destes documentos o mais rapidamente possível.
O sucesso de ambos os Congressos deve-se ao trabalho voluntário de pequenas equipas que, durante meses a fio, trabalharam incansavelmente para que tudo decorresse com normalidade. Do Congresso de Viana do Castelo saúdo toda a equipa através do Marcelino Lopes e do Congresso de Aveiro saúdo também toda a equipa através do Carlos Costa. Muito obrigado a ambos pela forma como fui recebido mas, sobretudo, por tudo quanto fui aprender.

11 novembro 2010

CONGRESSO DE TEATRO EM VIANA DO CASTELO HOMENAGEIA MÁRIO BARRADAS

O I Congresso sobre o estado do Teatro em Portugal iniciar-se-á amanhã em Viana do Castelo, culminando no próximo domingo.
Serão muitos os painéis de debate sobre a temática “O estado do Teatro em Portugal” onde irão participar pessoas ligadas à actividade global do Teatro. Vai ser interessante porque, até este momento, não houve ainda um Congresso em que se debatesse toda a problemática do Teatro em Portugal, desde o ensino à investigação, da criação à produção, da função à missão e por aí fora…
Parece-me interessante pela razão acima mencionada mas, também, e porque me toca particularmente, por ser um Congresso que vai homenagear Mário Barradas.
Aqui neste blogue, e em livro também, tive oportunidade de falar sobre Mário Barradas, fazendo eu a minha singela homenagem. O CENDREV (ex Centro Cultural de Évora), por razões óbvias, também fez já a sua homenagem. Curiosamente é na descentralização cultural, que ele defendeu toda a vida, que estas homenagens surgem, espontâneas e verdadeiras.
Na grande cidade, na Lisboa cosmopolita, o Mário tem sido absolutamente ignorado, quer pelos poderes públicos que ele serviu com militância, quer mesmo pelos próprios colegas que em vida o apaparicavam, tentando obter deles apenas proveitos próprios.
Incomoda-me bastante o frenesim que se faz, aquando da estreia de espectáculos teatrais sobre grandes dramaturgos, clássicos e contemporâneos, badalando-se como se nunca tivessem sido feitos em Portugal. Lembro que o Mário Barradas em Évora, com o Centro Cultural de Évora e posteriormente com o CENDREV, encenou belíssimos espectáculos que mostrou à cidade, às cidades, mas também a muitas zonas rurais deste país. Poderia falar de muitos autores clássicos e contemporâneos encenados e representados excelentemente por Mário Barradas, mas prefiro falar de um deles que está agora aí em cena como se fosse a grande novidade do teatro em Portugal: O Senhor Puntila e o seu criado Mati” de Brecht. Do trabalho do Mário sobre este texto lembro a excelente encenação e a magnífica interpretação. O Mário Barradas estava magnífico, virtuoso e inteligente, como sempre o era. Mas também me lembro das interpretações do José Peixoto, da Júlia Correia, do João Lagarto e de tantos outros.
Esta homenagem que vai ser feita ao Mário Barradas em Viana do Castelo, no I Congresso sobre o estado do Teatro em Portugal, permitam-me que a complete e a materialize no seu projecto mais profundo, que foi o início, o nascer do Centro Cultural de Évora. Foi esta instituição, dirigida por Mário Barradas, que traçou e divulgou uma matriz, bastante presente hoje em muitas das Companhias de Teatro em Portugal dirigidas por antigos discípulos de Mário Barradas.
Assim a primeira foto mostra a primeiríssima Companhia do Centro Cultural de Évora. As restantes relembram-nos a excelente interpretação do Mário no papel do Senhor Puntila.


07 novembro 2010

MARIVAUX EM PORTALEGRE

Não é a primeira vez que se representa Marivaux em Portalegre.
Na primeira com:
- O Grupo de Teatro da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Portalegre em 1992.
O Preconceito Vencido - encenação de Avelino Bento
Na segunda vez com:
- A Companhia de Teatro “O Semeador” de Portalegre em 1994.
O Jogo do Amor e do Acaso - encenação de Victor Pires
Marivaux volta de novo com a Companhia de Teatro “O Semeador” desta vez pelas mãos de José Mascarenhas com “A Ilha dos Escravos”.
Deveria ser um acontecimento para uma Comunidade quando, dela, parte um evento desta grandeza. Marivaux é um dos grandes clássicos que viveu entre finais do séc. XVII e meados do séc. XVIII.
Marivaux é considerado por alguns como o mestre francês da máscara e da mentira. Principal instrumento da mentira, a linguagem é também máscara por trás da qual se escondem os personagens. Estes são frequentemente jovens, aterrorizados diante da vida e da ideia de desvelar seus sentimentos. As aventuras psicológicas desses personagens, ao mesmo tempo complexas e ingénuas, desenvolvem-se sob o olhar dos mais velhos (os pais) e dos espectadores, que zombam deles, em uma mistura de indulgência e maldade”. in: Wikipédia, a enciclopédia livre.
José Mascarenhas conhece bem Marivaux. Estudou-o em profundidade na sua licenciatura sob a orientação da Profª Mª João Brilhante. Mas também porque, enquanto aluno da Escola de Formação de Actores do Centro Cultural de Évora, teve aulas de abordagem aos clássicos orientadas por Luís Varela e por uma das pessoas que mais sabia de clássicos do Teatro em Portugal : Mário Barradas.
Há já algum tempo que não via no Teatro de Portalegre um espectáculo que me dispusesse tão bem como este. O texto, a Ilha dos Escravos, curto, presta-se para ser sempre um sucesso como espectáculo, mas dependerá sempre do trabalho dramatúrgico levado a efeito. O conhecimento teórico que Mascarenhas tem do autor, a sua memória como estudante de Teatro dirigido por Barradas e Varela e a sua larga experiência como encenador permitiu passar, a todos quantos no projecto se envolveram, desde os técnicos de luz e som, à cenografia e figurinos, do guarda-roupa aos actores, um cuidado e rigor na execução que me permite considerar um dos melhores trabalhos dos últimos anos da Companhia de Teatro de Portalegre.
As opções linguísticas usadas pelos escravos, nomeadamente o sotaque alentejano do escravo Ificrato (José Mascarenhas) e o sotaque, porventura açoriano, mas que poderia ser também de Nisa ou de Castelo de Vide, da escrava Cleanta (Susana Teixeira), não me chocam, porque me reenviam para uma ideia da máscara e da mentira que não se sustentam.
Valorizando o excelente desempenho de todos os actores, gostaria de particularizar aqui a composição de Mascarenhas mas, sobretudo, o magnífico trabalho de Susana Teixeira. O tempo de comédia bem estruturado, uma dicção, apesar do sotaque, bem definida e límpida e uma interpretação inteligente associada à compreensão do gestus social quer da escrava, quer da ama, dá-nos hoje a possibilidade de entender que o Teatro de Portalegre tem condições para continuar a protagonizar uma Companhia de Reportório que necessita de ser mais apoiada em projectos mais empreendedores e inovadores.

01 novembro 2010

Luísa Schmidt no Expresso de 30OUT2010: prosperidade sem crescimento?

“(…)
AS NOVAS HORTAS

E por falar em estupidez, digam lá se era estúpida e retrógrada a ideia das hortas urbanas, há anos defendida por Ribeiro Telles; Paris tem-nas cada vez mais; Berlim e Londres estão repletas delas; tal como muitas cidades norte-americanas, com destaque para Chicago. Por toda a parte – seja por recreio, por economia, por cultura, por ambiente, por necessidade, ou pelo que quiserem, crescem as hortas urbanas. No Porto já há inúmeras e em Lisboa, que sempre as teve, embora meio clandestinas e quase envergonhadas, avançam agora também. O Museu do Traje está a alugar talhões do seu Parque Botânico Monteiro-Mor para hortas que a população das redondezas (de todas as idades e estatutos) tem vindo a procurar cada vez mais. Na alta de Lisboa já existem várias. Idem da Quinta da Granja. Em Chelas, pelo meio do lastimável urbanismo que por lá se fez, a CML vai disponibilizar os 15ha já utilizados pela população e água própria para rega. Telheiras tem prometido um terreno para fazer o mesmo (assim a EPUL o disponibilize)… Falávamos acima da prosperidade sem crescimento. Ora aqui têm. As hortas urbanas são um belo exemplo concreto de como é possível melhorar a qualidade de vida nos aspectos económicos, sociais, recreativos, ambientais e paisagísticos.”
A semana passada em Montargil, onde participei num colóquio sobre Cultura, falando com Aurora Carapinha, velha amiga de Évora, arquitecta paisagista e professora na Universidade desta cidade, hoje Directora Regional da Cultura, referíamo-nos exactamente a esta problemática e à enorme influência que o Professor Ribeiro Telles teve, como professor de arquitectura paisagística, na sua geração. A este propósito lembrei-me de referir um post colocado aqui neste blogue acerca de dois anos e meio, e que, face ao artigo de Luísa Schmidt no Jornal Expresso, tem pertinência em ser recuperado para nova leitura.


"AS HORTAS DE LISBOA
(postado neste blogue em 15 de Junho de 2008)


Uma reportagem na Revista Única do Jornal Expresso de 13 de Junho de 2008 fez-me reavivar memórias de infância. Longe de qualquer nostalgia, esta reportagem reenviou-me para uma prática sociocultural existente na cidade de Lisboa e em toda a zona sub-urbana operária, que se estendia de Sacavém aos Olivais, Cabo Ruivo e Matinha, toda a zona oriental e ribeirinha da cidade de Lisboa, reformulada com a realização da EXPO98, até outras zonas da cidade e seus arrabaldes. Refiro-me às hortas de Lisboa.
Desde o seu desaparecimento, associado em grande parte à emigração, mas também à guerra colonial, até ao momento da reportagem acima referida, essas memórias eram pontualmente convocadas sempre que o Prof. Ribeiro Telles defendia, e defende com muita energia, as hortas da cidade como espaços harmoniosos e de equilíbrio sustentável.
Sendo eu de Sacavém, portas de Lisboa, as minhas memórias afectivas, sensoriais e culturais de infância estão particularmente ligadas ao movimento operário da Fábrica de Loiça de Sacavém, local de passagem de muitas gerações familiares, entre as quais a minha. Precisamente, eram aqueles e outros operários, antigos camponeses, os actores destes espaços, onde a tradição e a modernidade, paradoxalmente, se misturavam num misto de sobrevivência e de festa.
As hortas de Lisboa não surgem com a revolução industrial, vêm de trás. Mas permanecem com o advento da mesma mantendo-se como espaço complementar de sobrevivência.
O curioso desta história é que as minhas lembranças não convocam particularmente o gestus social associado ao acto de fazer a pequena agricultura de subsistência. Esse não era o meu interesse, nem tão pouco a minha preocupação. O que é convocado, ao tempo dessa prática, é antes o espaço de socialização comunitária e a mostra diversificada das culturas regionais que se encontravam num espaço e tempo comum onde se enunciavam, para mim, a matriz e a identidade cultural do povo português.
Não eram só as famílias locais que se aventuravam nessas práticas. Muitas delas, por fazerem parte de gerações de operários, contactavam pela primeira vez a arte de trabalhar a terra aprendendo com outras comunidades oriundas de todo o país.
É neste espaço de socialização que a minha memória mais se afirma e se reencontra com as minhas opções de vida: a ligação à cultura, à arte e à animação cultural.
Foi aqui que ouvi falar de projectos culturais, de colectividades de cultura e recreio; de teatro de amadores, de animadores e ensaiadores.
Foi a partir destes espaços de socialização comunitária que vi emergir as práticas culturais e artísticas do nosso povo. Umas mais regionais e outras já com tendências mais universais.
Creio que foi a partir desta minha vivência social que despertei para aquilo que sou hoje.
Foi a partir da cultura da terra que encontrei o caminho da cultura do espírito. Foi esta afinal que me projectou para o espírito cultural e para as artes.