07 novembro 2010

MARIVAUX EM PORTALEGRE

Não é a primeira vez que se representa Marivaux em Portalegre.
Na primeira com:
- O Grupo de Teatro da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Portalegre em 1992.
O Preconceito Vencido - encenação de Avelino Bento
Na segunda vez com:
- A Companhia de Teatro “O Semeador” de Portalegre em 1994.
O Jogo do Amor e do Acaso - encenação de Victor Pires
Marivaux volta de novo com a Companhia de Teatro “O Semeador” desta vez pelas mãos de José Mascarenhas com “A Ilha dos Escravos”.
Deveria ser um acontecimento para uma Comunidade quando, dela, parte um evento desta grandeza. Marivaux é um dos grandes clássicos que viveu entre finais do séc. XVII e meados do séc. XVIII.
Marivaux é considerado por alguns como o mestre francês da máscara e da mentira. Principal instrumento da mentira, a linguagem é também máscara por trás da qual se escondem os personagens. Estes são frequentemente jovens, aterrorizados diante da vida e da ideia de desvelar seus sentimentos. As aventuras psicológicas desses personagens, ao mesmo tempo complexas e ingénuas, desenvolvem-se sob o olhar dos mais velhos (os pais) e dos espectadores, que zombam deles, em uma mistura de indulgência e maldade”. in: Wikipédia, a enciclopédia livre.
José Mascarenhas conhece bem Marivaux. Estudou-o em profundidade na sua licenciatura sob a orientação da Profª Mª João Brilhante. Mas também porque, enquanto aluno da Escola de Formação de Actores do Centro Cultural de Évora, teve aulas de abordagem aos clássicos orientadas por Luís Varela e por uma das pessoas que mais sabia de clássicos do Teatro em Portugal : Mário Barradas.
Há já algum tempo que não via no Teatro de Portalegre um espectáculo que me dispusesse tão bem como este. O texto, a Ilha dos Escravos, curto, presta-se para ser sempre um sucesso como espectáculo, mas dependerá sempre do trabalho dramatúrgico levado a efeito. O conhecimento teórico que Mascarenhas tem do autor, a sua memória como estudante de Teatro dirigido por Barradas e Varela e a sua larga experiência como encenador permitiu passar, a todos quantos no projecto se envolveram, desde os técnicos de luz e som, à cenografia e figurinos, do guarda-roupa aos actores, um cuidado e rigor na execução que me permite considerar um dos melhores trabalhos dos últimos anos da Companhia de Teatro de Portalegre.
As opções linguísticas usadas pelos escravos, nomeadamente o sotaque alentejano do escravo Ificrato (José Mascarenhas) e o sotaque, porventura açoriano, mas que poderia ser também de Nisa ou de Castelo de Vide, da escrava Cleanta (Susana Teixeira), não me chocam, porque me reenviam para uma ideia da máscara e da mentira que não se sustentam.
Valorizando o excelente desempenho de todos os actores, gostaria de particularizar aqui a composição de Mascarenhas mas, sobretudo, o magnífico trabalho de Susana Teixeira. O tempo de comédia bem estruturado, uma dicção, apesar do sotaque, bem definida e límpida e uma interpretação inteligente associada à compreensão do gestus social quer da escrava, quer da ama, dá-nos hoje a possibilidade de entender que o Teatro de Portalegre tem condições para continuar a protagonizar uma Companhia de Reportório que necessita de ser mais apoiada em projectos mais empreendedores e inovadores.