29 abril 2009

DIA MUNDIAL DA DANÇA - TRIBUTO A ANNA MASCOLO




TRIBUTO
A ANNA MASCOLO

Tenho um ideal a alcançar que transcende o mero ensino: o de criar nos meus alunos uma dignidade humana e artística*

Acreditem que Anna Mascolo conseguiu, durante várias décadas da sua actividade de bailarina e pedagoga, concretizar esta ideia de juntar a humanidade da pessoa à criação artística.

Anna Mascolo é guardiã de um património fundamental. Se a Dança é uma arte efémera, fugaz, não o é inteiramente com Anna Mascolo, que lhe soube dar a espessura das grandes intérpretes, a dimensão humana de um ensino qualificado e exigente, condições indispensáveis para fundar a memória da arte*
Com timidez e alguma sensação de ridículo vesti, pela primeira vez na minha vida, entre os meus 16/17 anos, um maillot de dança, assim como calcei sapatilhas rasas e flexíveis que me permitiam realizar pliers, dégagés, saults de chat, sissones, etc., a partir da paciência e competência de Anna Máscolo. Aliás, virtudes demonstradas ao longo de décadas e traduzidas pelo aparecimento de bailarinos e bailarinas que foram figuras de destaque no panorama artístico nacional e internacional na área da Dança (intérpretes, coreógrafos e pedagogos).
Éramos, nessa altura, apenas 4 rapazes, eu próprio, o Zé Salles, o Luís e o Amílcar. Pouco graciosos, porventura porque pouco à vontade. Fazíamos parte de uma vintena de estudantes, maioritariamente raparigas, já moldadas pela técnica clássica iniciada em idade precoce, 4/5 anos, e dotadas de attitude que as levariam, muitas delas, aos palcos e ao ensino.

Recordo-me dos seus olhares. Pouco convencidas das nossas aptidões, não deixavam todavia de manifestar solidariedade, incentivando-nos. O mesmo acontecia com D. Alice, a pianista, com Manuela Valadas, a assistente e até com o Arq. Vitorio, esposo de D. Anna. Mais flagrante ainda, no período de espectáculos, o incentivo de António Esteves e de Tomaz Ribas, também meu mestre em História do Teatro e da Dança no Conservatório Nacional.

Mas o que mais me marcou foi o olhar de Anna Mascolo, oscilando algumas vezes entre o austero e o compreensivo, entre a mestre exigente e a pedagoga confiante. Entre a amiga professora e a artista de uma humanidade absoluta.

Os seus olhares, críticos às vezes, nunca me inibiram. Pelo contrário, incentivaram-me a conquistar os meus limites. Infelizmente foram curtos. A guerra colonial chamou-me, quebrando assim um sonho que esperava duradouro.

Mesmo assim a Dança permitiu-me adquirir, para além de uma educação estética e artística desenvolvida com a disponibilidade e a força de Anna Mascolo, conhecer também o meu corpo, os meus limites e o meu carácter.

Esse era, é, felizmente ainda, um dos objectivos de Anna Mascolo.

Obrigado Senhora D. Anna

* Site de Anna Máscolo : http://annamascolo.com.sapo.pt/

25 abril 2009

25 de abril! Sempre

Lembro-me de 25 de Abril de 1974. Da luta emergente pela mudança, da esperança a concretizar o futuro.
Lembro-me de 25 de Abril de 1974. Da Verdade! Da espontaneidade, da partilha e da alegria. Das expectativas e das cumplicidades.
Lembro-me de 25 de Abril de 1974. Dos amigos e da solidariedade, das conquistas e da Liberdade.
25 de Abril de 2009.
Trinta e cinco anos. Tempo entre o que se ganhou e o muito que se foi perdendo. A esperança deu ligar à desilusão. Dos factos, das histórias, dos homens e das organizações.
25 de Abril de 2009.
Lugar para outra Revolução. Menos partidária. Mais estruturante, mais solidária e mais cidadania.
35 anos apenas de Partidos! Basta!
É preciso reconstruir-se outro Tempo! Com Homens e Mulheres dispostos a encararem o País como território de Liberdades, de Oportunidades, de Justiça, de Conhecimento e de Solidariedade.

23 abril 2009

dia mundial do livro

O Livro continua a ser o objecto privilegiado da apropriação do conhecimento.
Não será a NET, nem os DVDs literários que roubarão aquele contacto com a matéria, o papel, o cheiro.
Não serão as novas tecnologias que se substituirão ao prazer de folhear, de anotar nas margens, de colocar separadores com imagens ou dizeres.
O que insiste em separar a maioria das pessoas do contacto com os livros, continua a ser a ausência de hábitos de leitura, a fragilidade de uma educação sobre o livro, a leitura e a escrita e, naturalmente, os preços praticados.
Os poetas, romancistas, dramaturgos, cientistas, etc., continuam a produzir com a esperança de um dia todos nós podermos vir a ler e, como consequência, todos podermos ser mais cultos.

20 abril 2009

afinal, cooperamos?

A eleição e tomada de posse do Presidente do Instituto Politécnico de Portalegre (IPP), já de acordo com os novos Estatutos, foi a primeira a ser realizada a nível nacional.
Este facto demonstrou a maturidade dos Órgãos de Gestão do IPP democraticamente eleitos e, sobretudo, evidenciou a disponibilidade e motivação de toda a comunidade académica em contribuir para o desenvolvimento e a afirmação do IPP na Região Norte Alentejana.
O discurso do Presidente, agora empossado, foi estruturado em função da esperança e da expectativa; em função do trabalho de muitos e do apoio de todos. Teve a oportunidade de referir os elementos de sucesso, do mesmo modo que enunciou as dificuldades. Apelou ao envolvimento, parcerias, cooperação por toda a Região.
Numa altura em que muitas coisas irão mudar no Ensino Superior Público, conforme informações públicas neste fim-de-semana pelo ministro da tutela, estão criadas as oportunidades, porventura as únicas, para se criarem as redes de parceria, de cooperação, de intercâmbio, mas também de solidariedade.
O apelo que o responsável do IPP lançou não foi ouvido pelos responsáveis políticos, sobretudo pelas Autarquias da região onde o Instituto se encontra implantado. Apenas três Câmaras, de catorze, estiveram presentes na tomada de posse do Presidente do IPP.
Creio ter chegado a altura, e já aqui o referi bastantes vezes, de se deixar de pensar que uma Instituição de Ensino Superior na Região Norte Alentejana não é exclusiva, portanto património, da cidade de Portalegre, apenas porque tem o nome desta cidade. O IPP é de toda a Região e é neste contexto que as dinâmicas interactivas se deverão concretizar.
Mais de 80% dos seus licenciados estão em actividade na região. Uma qualificação profissional em diversos campos de actividade que, com estratégias de desenvolvimento consertado, poderia ser uma aposta colectiva de enriquecimento e desenvolvimento regional.
Não faz sentido a Região (o poder local, as associações, as instituições, as empresas, as escolas e as pessoas individualmente) ignorar a importância que o IPP tem neste espaço geográfico, como aliás outras instituições, quando estas são pólos privilegiados de desenvolvimento regional.
Não faz sentido a Região (o poder local, as associações, as instituições, as empresas, as escolas e as pessoas individualmente) ignorar o conjunto de excelência que o IPP pode hoje proporcionar neste Território ao nível do conhecimento, do saber, da técnica, da ciência, da arte e da cultura, pela qualidade, em progressão, do seu corpo docente, pela partilha dos seus recursos e por um projecto, seguramente comum, de desenvolvimento regional.
O meu maior desejo: que o IPP se afirme como o espaço de referência de desenvolvimento.
A minha maior expectativa: que a Região (o poder local, as associações, as instituições, as empresas, as escolas e as pessoas individualmente) mostre, claramente, vontade de cooperar activamente com o IPP e que ambos transformem o Norte Alentejano numa região de sucesso, onde o futuro, bom, seja já amanhã.

16 abril 2009

A VOZ QUER-SE DE CRISTAL PARA CANTAR




a VOZ quer-se de cristal
para cantar…
de porcelana para se ouvir
e de veludo para sussurar!

canta-se bem e fala-se melhor,
diz-se o que a VOZ tem para dizer!
escutar a VOZ é um bem maior,
pois torna-a também poder!

a VOZ ganha-se para assumir
os silêncios dos outros que a escutam.
a VOZ encontra-se na razão
dos que não estão na inclusão.

a VOZ é técnica, emoção e fantasia
que nem todos encontram no seu caminho.
a VOZ é vento, silêncios e maresia
que nos enche de Natureza, de mansinho.
É IMPORTANTE DAR VOZ AOS POBRES E DESEMPREGADOS AOS DOENTES E AOS FRACOS ÀS CRIANÇAS E AOS VELHOS AOS ARTISTAS E AOS AMANTES À ARTE E À CIÊNCIA À SOLIDARIEDADE À VERDADE DEFINITIVAMENTE, OIÇAM A NOSSA VOZ!

16 de Abril - dia mundial da voz


A VOZ É UM INSTRUMENTO, UMA EMOÇÃO E A VIDA

13 abril 2009

CRISE OU NÃO CRISE, EIS A QUESTÃO!

Tenho reflectido imenso sobre a crise com os meus alunos, futuros animadores socioculturais, técnicos de serviço social, professores e artistas. Falamos da origem, das causas e das consequências da mesma. Reflectimos também sobre as hipóteses de a eliminar. Com boas intenções, com toda a certeza, mas com a consciência de uma retórica que traduz a nossa impotência. É uma questão global, não temos dúvidas, mas no local a crise pode ser atenuada até que se reencontrem os mecanismos da normalidade.
Muitas das coisas que dizemos em contexto de sala de aula, compromete-nos, individualmente, a torná-las públicas noutros contextos, nomeadamente nos contextos comunitários a que pertencemos. A sua concretização é já um projecto pessoal e revela o carácter da militância individual pelas causas.
Mas a discussão sobre a crise compete também às instituições e ao poder político, não só central mas, fundamentalmente, ao poder local. Nesta matéria tem havido uma ausência absoluta. As pessoas são deixadas ao acaso, na ignorância das causas e das consequências, e sem incentivo para as alterar. Não é só com subsídios, financiamentos avulsos e caridade que a crise passa. Tem de haver inteligência colectiva para a ultrapassar. Isso passa pela criação de espaços alternativos onde todos possam ser protagonistas da mudança.
Escrevi neste blogue, durante o mês de Fevereiro, textos que reflectem toda a minha preocupação sobre a crise. Escrevia sobre “As profissões socioculturais e a crise”, sobre “A militância e a solidariedade na Animação Sociocultural” e ainda sobre a “Gestão da Cultura sobre a Crise”.
Tenho consciência do meu papel pedagógico e das minhas responsabilidades de cidadania. Nesse sentido creio que vou contribuindo para alertar as sensibilidades, educar para os princípios e projectar a esperança.
Tudo isto me deixa satisfeito perante um texto interessante que veio no suplemento P2 do Jornal Público de Sábado, 11 de Abril de 2009. “Porque não discutimos a crise em Portugal?” Este suplemento dá as razões por que a crise se discute pouco ou nada em Portugal: “o debate sobre a crise e as suas causas não tem sido feito em Portugal. O P2 perguntou pelas razões por que tal acontece a personalidades que estudam ou acompanham a sociedade e a economia portuguesa. Uns apontam o dedo aos políticos e em particular ao Governo, que acusam de tacticismo eleitoral. Outros consideram que o debate é impedido pelo seguidismo em relação ao modelo económico que entrou em colapso. Há quem diga até que em Portugal não se debatem ideias, só as pessoas. Outros prometem que o debate vem aí”.
É interessante ler o trabalho da jornalista São José Almeida.
Eu, por mim, tenho a consciência tranquila.

10 abril 2009

PÁSCOA = PASSAGEM

Segundo o significado religioso ocidental, Páscoa significa:

- "a passagem da escravidão para a liberdade". ´

Uma analogia possível: O caminho para uma Sociedade mais justa e equilibrada.

- "A passagem da morte para a vida"

Outra analogia possível: O percurso de se fazer Pessoa que ama, respeita e admira.

- "a passagem das trevas para a luz"

Mais uma analogia possível: O trajecto da Paz desenhado pela consciência dos Homens e pela vontade de a conquistar.

Então Páscoa hoje é:

a vontade, a força e a esperança de se sair deste caos, sabendo-se que somos nós, cada um de nós, e todos juntos, a conquistarem a passagem para um mundo melhor, mais justo, mais equilibrado, mais fraterno, mais solidário e, porventura, mais feliz.

FELIZ PÁSCOA

06 abril 2009

HUMANIDADE COMUM

OBAMA fez, em Praga, um discurso que cativou os jovens. A sua mensagem estruturava uma ideia de Humanidade Comum e reforçava os elementos positivos da Globalização. Sabemos, hoje, que esta é uma realidade irreversível, infelizmente mais ao serviço de uma Nova Ordem Mundial Económica que defende o interesse dos grandes grupos económicos e dos mais ricos do planeta que, como sabemos, são a minoria das minorias.

É importante que a Globalização estruture, definitivamente, um discurso político assente na tal ideia de Obama, a Humanidade Comum, e que implemente sim, uma Nova Ordem Mundial Política ao serviço da maioria da população do Planeta.

É aliciante ouvir este conceito, mas difícil será implementá-lo enquanto houver injustiças, desequilíbrios e fanatismo.

A ideia de uma Humanidade Comum pode registar apenas um discurso de retórica se não houver empenhamento de todos, isto é, vontade de mudança nos países, nas nações, nos povos e nas pessoas individualmente. Mas também se não se encarar de outro modo os dogmas, o fanatismo, etc. É urgente encontrar outras formas que humanizem a Humanidade.

Pode-se enfim, ficar pela retórica se, acomodados ou embalados pela proposta de Obama, entendermos que ele é o Profeta que nos traz a Boa Nova e que a responsabilidade de mudar o Mundo está assente exclusivamente sobre os seus ombros.