25 setembro 2012

Augusto Vintém - Compositor Reconhecido

TESTEMUNHO

Quero aqui hoje dar o meu testemunho sobre alguém que nos últimos 25 anos de convívio profissional, soube e quis crescer como Homem, Amigo e Músico. Falo de Augusto Vintém, português, alentejano e portalegrense.
Este meu testemunho vem com o intuito de confirmar uma amizade e respeito mútuos que se foram desenvolvendo enquanto professores, ambos, na Escola Superior de Educação de Portalegre, nas áreas artísticas.
O Augusto soube e continua a saber que a amizade e a admiração são valores que perdurarão para além dos tempos e que isso só acontece porque se reconhece no outro valores e dignidade que permitem engrandecer os homens na busca do seu caminho para a sabedoria.
Docente, músico e compositor tem uma vasta obra que o colocam, como profissional, docente e investigador, num patamar de músicos/compositores discretos, competentes e artistas. Estes adjectivos permitem configurar um reconhecimento técnico-científico pelos seus pares e organizações da área da música, ao ponto de, nos depositários musicais e institucionais, estar ao lado de músicos e compositores como Luiz de Freitas Branco, João Domingos Bomtempo, Frederico de Freitas, etc.. É assim no acervo/registo da Biblioteca Musical da Escola Superior de Música, como é na Biblioteca Digital do Instituto das Artes, e como será nos depositários, nacionais e estrangeiros, da área da música e da composição.
Quero expressar aqui neste meu testemunho, a par de uma pureza na relação com os seus amigos, a dimensão de homem solidário e um enorme sentido de humor que transforma os espaços de socialização e convívio num lugar prazenteiro e de bem-estar.
Aproveito para referir a tristeza que sinto quando uma comunidade não dá atenção aos seus membros quando têm valor. Por omissão, apenas constituem o laço do estrangulamento de um potencial existente e reconhecido fora dessa comunidade. Ainda perduram ideias de que, o que vem de fora, é muito melhor.
É bom que os portalegrenses, definitivamente, sintam orgulho dos elementos da sua comunidade. Aqueles que cá nasceram, e os outros que não sendo de cá, ajudam a construir e a desenvolver Portalegre.
Obrigado Augusto Vintém pela tua amizade e camaradagem.

12 setembro 2012

A POLÉMICA SOBRE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA PUBLICADA PELO EXPRESSO

Tem andado pelo Jornal Público uma polémica sobre a História de Portugal publicada pelo Expresso e coordenada por Rui Ramos (RR), sobretudo o capítulo (fascículo) que trata da História Contemporânea, nomeadamente o período salazarista.
No Público de sábado, 8 de setembro, Diogo Ramada Curto (DRC) fez uma brilhante análise sobre a polémica que tem envolvido vários historiadores, nomeadamente Manuel Loff (ML), mas também sobre alguns pontos que não concordou com RR sobre essa matéria.
Acho, como DRC, que a História, a perspectiva histórica baseada em factos e elaborada pelos historiadores, deve ser validada pelos seus pares. É um exercício intelectual sério que não deve ser ignorado.
Estou absolutamente de acordo com um dos pontos focados por DRC, que foi sobre a Guerra Colonial e que a direita insiste em chamar de Guerra de África. A minha condição de ex-combatente não me permite deixar de defender a honra daqueles que ficaram caídos mas também todos os outros que por lá passaram.
Segundo DRC, “Rui Ramos sintetiza do seguinte modo o que se passou coma Guerra em África: «Obscura e pouco mortífera»”, comparando-as em termos de mortalidade com a Guerra do Vietname, da Nigéria e do Médio Oriente.
O que tenho a dizer a RR. Obscura? Nem por isso! A guerra colonial foi iniciada pelos Movimentos de Libertação tendo em vista a independência das colónias. Foi fomentada e mantida por Salazar e Caetano com objectivos de não perder o império. Mortífera? RR fala em cerca de 3000 mortos nos três teatros de guerra: Guiné, Moçambique e Angola. Os dados devem estar incompletos. O Ministério da Defesa terá números infelizmente superiores. Para quase o dobro. Mas a questão aqui é em saber se a expressão mortífera pode estar reduzida apenas aos que tombaram em combate e se não deve ser estendida também àqueles outros, e muitos infelizmente, que regressaram estropiados e mutilados. Para estes a guerra anulou-lhes o futuro. Mas a palavra mortífera deve estendida também para a grande maioria dos ex-combatentes, pelo sofrimento provocado pelo SPTG (stress pós-traumático de guerra) com que ainda hoje vivem, os que vivem ainda e já somos poucos, com as mazelas deixadas pela guerra. Suicídio, alcoolismo, violência doméstica, famílias desintegradas, etc.
É altura, mesmo na análise histórica, termos respeito por alguns que foram protagonistas na própria História e que, contra a sua vontade, deram a sua vida ou um tempo da sua vida à Pátria. A crítica deve se feita claro e responsabilizar-se quem teve o poder de decidir.

10 setembro 2012

CARTA ABERTA DE EUGÉNIO LISBOA AO PRIMEIRO MINISTRO

Admiro Eugénio Lisboa pelo seu percurso de intelectual e professor mas também pela sua intervenção cívica atenta. A carta aberta que escreveu ao 1º ministro é um documento que mostra a preocupação de um país e de gerações. Por isso é pertinente!

"Exmo. Senhor Primeiro Ministro
Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe.
Para ser inteiramente franco, escrevo-lhe, não tanto por acreditar que vá ter em V. Exa. qualquer efeito – todo o vosso comportamento, neste primeiro ano de governo, traindo, inescrupulosamente, todas as promessas feitas em campanha eleitoral, não convida à esperança numa reviravolta! – mas, antes, para ficar de bem com a minha consciência. Tenho 82 anos e pouco me restará de vida, o que significa que, a mim, já pouco mal poderá infligir V. Exa. e o algum que me inflija será sempre de curta duração. É aquilo a que costumo chamar “as vantagens do túmulo” ou, se preferir, a coragem que dá a proximidade do túmulo. Tanto o que me dê como o que me tire será sempre de curta duração. Não será, pois, de mim que falo, mesmo quando use, na frase, o “odioso eu”, a que aludia Pascal.
Mas tenho, como disse, 82 anos e, portanto, uma alongada e bem vivida experiência da velhice – da minha e da dos meus amigos e familiares. A velhice é um pouco – ou é muito – a experiência de uma contínua e ininterrupta perda de poderes. “Desistir é a derradeira tragédia”, disse um escritor pouco conhecido. Desistir é aquilo que vão fazendo, sem cessar, os que envelhecem. Desistir, palavra horrível. Estamos no verão, no momento em que escrevo isto, e acorrem-me as palavras tremendas de um grande poeta inglês do século XX (Eliot): “Um velho, num mês de secura”... A velhice, encarquilhando-se, no meio da desolação e da secura. É para isto que servem os poetas: para encontrarem, em poucas palavras, a medalha eficaz e definitiva para uma situação, uma visão, uma emoção ou uma ideia.

A velhice, Senhor Primeiro Ministro, é, com as dores que arrasta – as físicas, as emotivas e as morais – um período bem difícil de atravessar. Já alguém a definiu como o departamento dos doentes externos do Purgatório. E uma grande contista da Nova Zelândia, que dava pelo nome de Katherine Mansfield, com a afinada sensibilidade e sabedoria da vida, de que V. Exa. e o seu governo parecem ter défice, observou, num dos contos singulares do seu belíssimo livro intitulado “The Garden Party”: “O velho Sr. Neave achava-se demasiado velho para a primavera.” Ser velho é também isto: acharmos que a primavera já não é para nós, que não temos direito a ela, que estamos a mais, dentro dela... Já foi nossa, já, de certo modo, nos definiu. Hoje, não. Hoje, sentimos que já não interessamos, que, até, incomodamos..Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo. .Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais – tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter,para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.
.Já alguém, aludindo à mesma falta de sensibilidade de que V. Exa. dá provas, em relação à velhice e aos seus poderes decrescentes e mal apoiados, sugeriu, com humor ferino, que se atirassem os velhos e os reformados para asilos desguarnecidos , situados, de preferência, em andares altos de prédios muito altos: de um 14.º andar, explicava, a desolação que se contempla até passa por paisagem. V. Exa. e os do seu governo exibem uma sensibilidade muito, mas mesmo muito, neste gosto. V. Exas. transformam a velhice num crime punível pela medida grande. As políticas radicais de V. Exa. e do seu robótico Ministro das Finanças - sim, porque a Troika informou que as políticas são vossas e não deles... – têm levado a isto: a uma total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.
Falei da velhice porque é o pelouro que, de momento, tenho mais à mão. Mas o sofrimento devastador, que o fundamentalismo ideológico de V. Exa. está desencadear pelo país fora, afecta muito mais do que a fatia dos velhos e reformados. Jovens sem emprego e sem futuro à vista, homens e mulheres de todas as idades e de todos os caminhos da vida – tudo é queimado no altar ideológico onde arde a chama de um dogma cego à fria realidade dos factos e dos resultados. Dizia Joan Ruddock não acreditar que radicalismo e bom senso fossem incompatíveis. V. Exa. e o seu governo provam que o são: não há forma de conviverem pacificamente. Nisto, estou muito de acordo com a sensatez do antigo ministro conservador inglês, Francis Pym, que teve a ousadia de avisar a Primeira Ministra Margaret Thatcher (uma expoente do extremismo neoliberal), nestes termos: “Extremismo e conservantismo são termos contraditórios”. Pym pagou, é claro, a factura: se a memória me não engana, foi o primeiro membro do primeiro governo de Thatcher a ser despedido, sem apelo nem agravo. A “conservadora” Margaret Thatcher – como o “conservador” Passos Coelho – quis misturar água com azeite, isto é, conservantismo e extremismo. Claro que não dá.
Alguém observava que os americanos ficavam muito admirados quando se sabiam odiados. É possível que, no governo e no partido a que V. Exa. preside, a maior parte dos seus constituintes não se aperceba bem (ou, apercebendo-se, não compreenda), de que lavra, no país, um grande incêndio de ressentimento e ódio. Darei a V. Exa. – e com isto termino – uma pista para um bom entendimento do que se está a passar. Atribuíram-se ao Papa Gregório VII estas palavras: ”Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.” Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.

De V. Exa., atentamente,
Eugénio Lisboa
Ex-Director da Total, em Moçambique
Ex-Director da SONAP MOCEx-Administrador da SONAPMOC e da SONAREP
Ex-Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Londres
Prof. Catedrático Especial de Estudos Portugueses (Univ. Nottingham)
Ex-Presidente da Comissão Nacional da UNESCO
Prof. Catedrático Visitante da Univ. de Aveiro
Doutor Honoris Causa pela Univ. de Nottingham
Doutor Honoris Causa pela Universidade de Aveiro
Medalha de Mérito Cultural (Câmara de Cascais)"


08 setembro 2012

EDUARDO GAGEIRO - QUE ADMIRO E ESTIMO

A LISBOA DE GAGEIRO

Galeria de Exposições dos Paços do Concelho (Pr. do Município - Lisboa)
in: Revista ATUAL - Nº 2080/Expresso - 08SET2012

A LISBOA DE GAGEIRO - Ga