12 setembro 2012

A POLÉMICA SOBRE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA PUBLICADA PELO EXPRESSO

Tem andado pelo Jornal Público uma polémica sobre a História de Portugal publicada pelo Expresso e coordenada por Rui Ramos (RR), sobretudo o capítulo (fascículo) que trata da História Contemporânea, nomeadamente o período salazarista.
No Público de sábado, 8 de setembro, Diogo Ramada Curto (DRC) fez uma brilhante análise sobre a polémica que tem envolvido vários historiadores, nomeadamente Manuel Loff (ML), mas também sobre alguns pontos que não concordou com RR sobre essa matéria.
Acho, como DRC, que a História, a perspectiva histórica baseada em factos e elaborada pelos historiadores, deve ser validada pelos seus pares. É um exercício intelectual sério que não deve ser ignorado.
Estou absolutamente de acordo com um dos pontos focados por DRC, que foi sobre a Guerra Colonial e que a direita insiste em chamar de Guerra de África. A minha condição de ex-combatente não me permite deixar de defender a honra daqueles que ficaram caídos mas também todos os outros que por lá passaram.
Segundo DRC, “Rui Ramos sintetiza do seguinte modo o que se passou coma Guerra em África: «Obscura e pouco mortífera»”, comparando-as em termos de mortalidade com a Guerra do Vietname, da Nigéria e do Médio Oriente.
O que tenho a dizer a RR. Obscura? Nem por isso! A guerra colonial foi iniciada pelos Movimentos de Libertação tendo em vista a independência das colónias. Foi fomentada e mantida por Salazar e Caetano com objectivos de não perder o império. Mortífera? RR fala em cerca de 3000 mortos nos três teatros de guerra: Guiné, Moçambique e Angola. Os dados devem estar incompletos. O Ministério da Defesa terá números infelizmente superiores. Para quase o dobro. Mas a questão aqui é em saber se a expressão mortífera pode estar reduzida apenas aos que tombaram em combate e se não deve ser estendida também àqueles outros, e muitos infelizmente, que regressaram estropiados e mutilados. Para estes a guerra anulou-lhes o futuro. Mas a palavra mortífera deve estendida também para a grande maioria dos ex-combatentes, pelo sofrimento provocado pelo SPTG (stress pós-traumático de guerra) com que ainda hoje vivem, os que vivem ainda e já somos poucos, com as mazelas deixadas pela guerra. Suicídio, alcoolismo, violência doméstica, famílias desintegradas, etc.
É altura, mesmo na análise histórica, termos respeito por alguns que foram protagonistas na própria História e que, contra a sua vontade, deram a sua vida ou um tempo da sua vida à Pátria. A crítica deve se feita claro e responsabilizar-se quem teve o poder de decidir.