30 julho 2009

Mário Barradas e o Doutoramento Honoris Causa

Se me é permitido, e porque a fonte é óbvia, quero agradecer ao JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, a oportunidade da entrevista de Mário Barradas, que integrarei na totalidade neste post.
O meu objectivo é o de, uma vez mais, aqui neste blogue, fazer um tributo público a um homem que a História do Teatro Português e a Descentralização Teatral e Cultural em Portugal muito devem.
Porque a memória dos portugueses, nomeadamente do público de teatro, dos actores e encenadores e dos académicos está em défice, gostaria de lembrar a importância deste homem no processo da Descentralização Teatral e da Inovação Estética do Teatro em Portugal iniciados no princípio da década de 70.
Gostaria de lembrar o importante que foi para o Alentejo, e outras regiões do país, a implementação de novas Companhias de Teatro dirigidas por jovens actores e encenadores formados pela Escola de Teatro do Centro Cultural de Évora, hoje CENDREV.
Referia ainda, para reavivar as nossas memórias, sobretudo à cidade de Évora, e ao distrito, o quão importante foi a implementação do Centro Cultural de Évora em Janeiro de 1975, cujo trabalho passou pela recuperação das práticas teatrais de amadores e de profissionais, assim como incidiu num processo amplo de dinamização, animação e educação cultural em toda a cidade e região.
Era a razão forte, do meu ponto de vista, para a Universidade de Évora, que atribui o seu primeiro Doutoramento Honoris Causa em Teatro, o fizesse a alguém que esteve literalmente ligado ao Teatro e à Cultura, assim como à cidade de Évora e à Região Alentejo em termos culturais e artísticos durante quase 30 anos. Para além de ser uma figura de referência nacional e internacional no campo da investigação, criação e produção teatral.
A Universidade de Évora é soberana na atribuição dos seus títulos honoríficos e, por isso, não está em causa a atribuição deste título académico aos grandes actores, que muito admiro, Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho. Apenas lamento, como alentejano de coração, como actor da primeira equipa da descentralização teatral em Évora, em Janeiro de 1975, e como académico, que o primeiro Doutoramento Honoris Causa em Teatro da Universidade de Évora não tivesse sido atribuído ao Doutor Mário Barradas pelas razões apontadas. Que são grandes no meu entender.



22 julho 2009

OS ETERNOS, E DUPLOS, FINS DE ANO

A problemática dos dois fins de ano, em cada ano civil, já foi suficientemente reflectida por mim, algures neste blogue. Provavelmente num fim de ano lectivo ou, eventualmente, num fim de ano civil.
Um começa, o lectivo, ainda o outro percorre o tempo que lhe resta.
Um acaba, o civil, e já o outro vai a caminho.
A vida pessoal e profissional, apesar deste teórico desencontro, está cada vez mais fundida. Uma e outra estão cada vez mais inter-dependentes.
Por isso, na gestão de ambas, tem de existir sabedoria, bom-senso, equilíbrio, humor e inteligência.
Eis-me chegado ao fim do ano lectivo de 2008 -2009. De Agosto do ano passado até ao momento, muita água correu debaixo da ponte, muita emoção foi vivida, algumas alegrias, mas também bastante sofrimento. Ainda há percalços, dúvidas e medos. Sentimentos que gostaria de ver dissipados antes do fim de ano civil de 2009.
Não sei se, durante Agosto, abordarei pela escrita este blogue. Sei apenas que vou rentabilizar este período para serenar, namorar, ser avô a tempo inteiro, preparar a festa dos 80 anos de meu pai, ler, ouvir música e, mais para o fim do mês, iniciar as minhas lições de condução.
Quero voltar em Setembro retemperado, para iniciar um ano que, espero, seja bem melhor que este, agora a terminar.
Boas Férias para os meus leitores, amigos e colegas.

15 julho 2009

A Cultura como compromisso versus os compromissos da Cultura

O Primeiro-Ministro assumiu, após as eleições europeias, ter investido pouco, eu direi nada, na Cultura. Neste momento, disposto a corrigir esse erro, ou já em campanha para as legislativas, iniciou um ronda de contactos com as pessoas da Cultura, tentando retirar ideias para o seu programa cultural. As pessoas da Cultura que Sócrates ronda são, a maioria delas, criadores e gestores culturais centrados em Lisboa e no Porto. Mas a Cultura é muito mais do que isso, isto é, não se resume a Lisboa e Porto, não se esgota nas artes do espectáculo e noutras formas de criação artística, assim como não se esgota nos gestores culturais. É certo que o PM quer fazer um bom Programa para a Cultura, mas é certo também que a Política Cultural deve ter uma dimensão nacional e, portanto, devem ser consultadas outras individualidades que tenham experiência na descentralização cultural, que conheçam o país real e que tenham uma visão mais sistémica e sustentável da Cultura.
Tudo isto, também, a propósito das campanhas para as autarquias. Embora sejam depois das legislativas, em muitos lugares deste país iniciou-se já a campanha para o poder local. Os candidatos emergem com os seus pré-programas políticos.
Esta realidade é extensiva à terra onde habito e que amo: Portalegre
As forças políticas locais iniciam as démarches de contactos. Há já candidatos confirmados. Resta agora estar atento ao que dizem, naquilo que me interessa particularmente, sobre Cultura e sobre políticas culturais locais.
A Cultura em Portalegre, que poderia ser rentabilizada como uma actividade económica importante, a par do Turismo, tem sido sistematicamente encarada como uma actividade pouco relevante. Por maiores ou menores picos de eventos culturais no concelho, isto é, na cidade, nenhuma força política foi capaz, até ao momento, de definir uma estratégia de desenvolvimento local a partir da Cultura. Continuo a afirmar Cultura, no seu sentido mais lato e não só na produção artística.
Aliás, o estado em que se encontra a Cultura em Portalegre deve-se aos dois partidos, PS e PSD, que, alternadamente, lideraram a Câmara nos últimos vinte anos. Justiça seja feita à outra força política, a CDU, que vai estando na Assembleia Municipal e, pontualmente, tem um vereador no executivo, e cujas tentativas de estabelecimento de um plano estratégico para a Cultura foram sempre inviabilizadas. Temos tido, nestes últimos anos, uma política cultural errática, sem enquadramento sociocultural e sem rigor desenvolvimentista. As freguesias do concelho estão dotadas ao abandono total. Na maior parte delas, senão na totalidade, não existe sequer um centro cultural ou uma casa da cultura onde as suas populações possam socializar-se e traçar planos autónomos em matéria de criação e produção cultural.
Em suma, sem querer fazer uma reflexão teórico-política sobre a Cultura em Portalegre, necessitava de saber, como eleitor, e como pessoa que pensa e vive a Cultura, o que pensam fazer as forças políticas que se irão candidatar à Câmara Municipal de Portalegre. A saber sobre:
- que política ou políticas culturais, isto é, que estratégias de desenvolvimento cultural estão interessadas em definir e informar;
- para quando a Comissão Municipal de Cultura;
- que estatuto e funções terá, definitivamente, para interesse de Portalegre e das suas populações, a Fundação Robbinson;
- Qual o compromisso na construção de espaços de socialização comunitária dispersos pelas freguesias do concelho - construção e gestão;
- estão interessadas ou não em rever a gestão e a política cultural do CAEP, envolvendo entre outras coisas, um Centro de Animação e Educação Cultural e Artística;
- porque não utilizar os profissionais de Animação Sociocultural na sua função e estatuto, isto é, deixando-os propor e animar projectos socioculturais em todo o concelho, e se as freguesias precisam, em vez de ficarem, como estão, como funcionários administrativos da Câmara.
Haveria muito mais por questionar. Mas entendo que algumas respostas poderão estar implícitas nos programas de política cultural de todas as forças políticas concorrentes. Ficarei na expectativa da importância desse ponto nos programas eleitorais para a autarquia de Portalegre. Mais, ficarei imensamente satisfeito se algumas dessas forças políticas responderem nos seus programas às questões por mim formuladas, incluindo o compromisso de executá-las.

08 julho 2009

ANIMADORES SOCIOCULTURAIS - oportunidade e urgência

O apelo que a APDASC faz aos Animadores Socioculturais (ASC) no sentido de participarem no Encontro de Animação Sociocultural em Cucujães responde, no meu entender, a estes dois indicadores: oportunidade e urgência.
Oportunidade porque, pela primeira vez, os ASC organizam o seu próprio Encontro através da dinâmica e do serviço público que a APDASC tem vindo a realizar. Pela primeira vez não se trata de um Encontro de académicos onde se discutem as questões epistemológicas da Animação Sociocultural associadas às suas pesquisas académicas, mas trata-se tão só da constatação por parte dos ASC da necessidade de discutirem, eles próprios, os seus problemas profissionais e a problemática da Animação Sociocultural de quem se encontra todos os dias no terreno.
Urgência. Afinal chegou o momento de se discutirem as questões formais associadas ao Estatuto Profissional, à profissão, ao conceito de empregador de ASC e aos perfis de quem faz, aos vários níveis, a Animação Sociocultural.
Neste sentido vejo com bastante pertinência este Encontro Profissional. Consubstancia de facto a Oportunidade e a Urgência de uma discussão nacional, que faltava fazer, e da qual era urgente que saísse um documento importante que pressionasse o poder político para a tomada de decisões que conjuguem a definição da profissão e, definitivamente, se estratifiquem os espaços onde a Animação Sociocultural é profissional.
Não se entende daqui, das minhas palavras, que os académicos não possam participar. Penso que também é importante mas, desta feita, com um discurso direccionado para a problemática da profissão de ASC e da Animação Sociocultural enquanto estratégia de desenvolvimento enquadrando estes profissionais.
Apesar deste meu post e da reconhecida importância do evento, mas também pelos laços que me ligam à APDASC e, sobretudo, ao Carlos Costa, não me é possível estar presente por questões inadiáveis. Deixo todavia votos de um eficaz Encontro e que dele resulte, finalmente, algo que ilustre a vivacidade da Animação sociocultural e do desempenho dos ASC.