27 junho 2006

Textos Junho 2006

Hoje quero escrever sobre generosidade e, no sentido mais lato, de solidariedade.
O meu amigo Joaquim Miranda deixou-nos no sábado com 55 anos e com um futuro tão distante ainda por percorrer. Conhecia-o, há mais de vinte anos, da luta política e da luta pela democracia e, mais recentemente, como colega na Escola Superior de Educação de Portalegre. A sua generosidade manifestou-se sempre pela sua total entrega à causa pública e à solidariedade junto dos mais desfavorecidos.

Como deputado, primeiro na Assembleia da República e depois como deputado no Parlamento Europeu (o mais antigo), defendeu intensamente o país e a sua região ao pertencer a imensas comissões associadas ao desenvolvimento local e regional.
Era um apaixonado por Portugal e um amante do seu Alentejo e da sua cidade de Portalegre.
Foi sobretudo um Amigo: generoso e solidário.

A mesma entrega com paixão à terra e à região tem, felizmente para todos nós, o Comendador Rui Nabeiro. Exerce com uma humildade, digna desse registo, uma filantropia em que associa a vontade de ver as pessoas felizes, com trabalho e qualidade de vida, com a vontade de ver a sua terra (Campo Maior) e a sua região (Alentejo) desenvolvidas. Por isso, de uma forma altruísta, investe muito nas pessoas, porque acredita, e investe muito na sua terra e sua na região. Esta sua generosidade, que evidencia um alto grau de solidariedade para com os mais desfavorecidos é, seguramente, espontânea e autêntica e pode fazer lembrar ao poder político o quanto esta região está esquecida, devendo este assumir as suas responsabilidades no campo do desenvolvimento local e regional e na luta contra a desertificação.
Para o Comendador Rui Nabeiro o Alentejo merece ser desenvolvido social e culturalmente. Ele faz a sua parte, temos a certeza.

Bem-haja Comendador.





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A nota de leitura de Desidério Murcho sobre a obra de W. K. Clliford, The Ethics of Bellief and Other Essays e o artigo de Mário Santos, A suprema ficção, sobre a obra de Alda Rulls, Ratzinger em Auschwitz, referenciados ambos no Suplemento Mil Folhas do Jornal Público de 10 de Junho de 2006, levam-nos a reflectir sobre a profundidade de uma ética da crença.
Como vai a ética (dos princípios, dos valores, das diferenças, da humanidade…), quando alguns pensam ou duvidam, ainda, que o holocausto alguma vez tenha existido, apesar das provas, e muitas infelizmente.Como vai a crença (da religiosidade e da moral) quando se questiona o princípio da omnipresença de Deus, acentuando-se o carácter da sua flagrante ausência naquele período tenebroso da História da Humanidade.“e porque esteve Ele silencioso?” questionou-se Bento XVI em Auschwitz em 2006.
Porventura alguma vez O ouvimos?





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A ausência de tempo e alguma indisponibilidade para escrever a minha nota semanal sugere-me um convite para, juntos, reflectirmos um pouco sobre esta citação de José Gil.

“ (…) A ausência não é o vazio, contraria-o mesmo, em certo sentido. A ausência diz-se de uma presença, enquanto o vazio não se reporta a um cheio. O vazio é primeiro, está aquém da ausência de tudo. Quando toda a presença desaparece e deixa de haver lugar a preencher por uma coisa, então surge o vazio primordial, de onde sairão as forças para, precisamente, criar, agir, pensar. Do vazio nascem os pensamentos únicos, nunca anteriormente pensados, como dele nasce a obra (eventualmente, de arte) absolutamente original. Para que ocorram, é preciso saber produzir o vazio.”

in: «Portugal, Hoje - O Medo de Existir (2005), Relógio D’Água, pp.103»