18 julho 2011

A CULTURA, PARA O PODER CENTRAL, TEM CADA VEZ MENOS IMPORTÂNCIA

As Organizações Culturais profissionais e amadoras estão, em todo o país, a demonstrar que o país cultural é um território vivo. Cada vez mais, em quase todos os Concelhos, a Cultura emerge, não só como espaço/tempo de identidades mas também como território/acção de mudanças. O povo sente hoje que a aposta no seu desenvolvimento e competências passa por ter uma educação cultural com mais substância, isto é, sente necessidade de ser mais culto e mais interventivo culturalmente, criando para isso oportunidades para participar nos processos da fruição e criação cultural.


O financiamento para a Cultura, e para o seu corolário, o desenvolvimento cultural das regiões, continua a ser suportado quase na totalidade pelo Poder Local apesar de, em muitos Concelhos, não ser ainda muito claro os critérios e as formas de atribuição desse financiamento.
Sou daqueles que pensam que esse financiamento atribuído às Organizações de Cultura deve implicar contra-partidas que se ajustem a um plano de desenvolvimento local e regional. Quero dizer com isto que não basta só fazer-se a sua peça de teatro, o seu concerto, a sua exposição, etc. Deve haver outro tipo de envolvimento das Organizações, profissionais e amadoras, com as Comunidades. Há todo um trabalho de educação, formação e animação cultural que deve ser feito. Implica isto a definição de uma(s) política(s) cultural(ais) capaz de fazer interagir as Organizações entre si, completando-se através de Projectos comuns de Desenvolvimento. Importante será também retirar a ideia de que a Cultura é fundamentalmente a área de espectáculos. Será a mais visível, a mais evidente, mas não é exclusiva de um desenvolvimento cultural sustentável.
O Poder Local continua a suportar encargos que deveriam ser partilhados substancialmente pelo Poder Central. Infelizmente observamos, nas opções políticas actuais, que a Cultura foi subvalorizada, quer pela eliminação do Ministério da Cultura, transformando-o em Secretaria de Estado, quer ainda pelo significado pouco relevante que este cargo tem, que depende do primeiro-ministro, ao não lhe ser garantida a sua presença na reunião do Conselho de Ministros.
Como referia no início do texto, a dinâmica que se faz sentir em todo o país existe porque subjacente a ela estão os interesses e as necessidades das populações. Só esta dupla estrutura poderá ser o motor do desenvolvimento cultural, assumindo-se as Organizações como guias desse desenvolvimento. Exemplos como o movimento desencadeado em Évora, as práticas instituídas em Santa Maria da Feira e os projectos socioculturais um pouco por todo o país revela que, apesar da crise, o país e os seus habitantes querem dar a volta por cima. E a Cultura poderá ser, e é, uma área privilegiada para esse fim.
Nota 1: Não devemos esquecer-nos de um conjunto de técnicos com competências para essas funções, ao lado das Organizações e do Poder Local: Animadores Socioculturais; Animadores Artísticos, Educadores Sociais, Artistas, Professores e outros.
Nota 2: Em muitas Autarquias estes técnicos estão sub-aproveitados, a desempenharem quase exclusivamente trabalho administrativo. É preciso colocá-los no terreno, envolvê-los em projectos, percorrendo as freguesias e os lugares.