30 março 2009

UNIVERSIDADE DE ÉVORA - 450 ANOS



Para a Universidade de Évora, seus estudantes, professores e funcionários, assim como para a cidade de Évora e sua população é, seguramente, um enorme orgulho, estes 450 anos de vida da Universidade.
Pelo passado, pelo presente e, naturalmente, pelo futuro.
Não posso deixar de me associar intelectualmente a este evento pela razão de que fui aluno e professor da Universidade. Sobretudo, não posso deixar de me associar afectivamente a este evento pela minha condição de cidadão que, não sendo da região, fui protagonista de uma integração social e cultural cativante durante os onze anos que lá vivi.
Considero que este Colóquio Internacional percorrerá a História da Educação em Portugal revelando o apogeu de épocas em que o ensino universitário foi um dos baluartes mais importantes, senão o mais importante, no desenvolvimento do país.
A Universidade de Évora, ontem como hoje, é uma referência universal.
Apenas lamento, e porque continuo na região do Alentejo, que os dirigentes da Universidade de Évora, de algum tempo para cá, estruturem a sua implementação na região e no país através de uma política de informação agressiva e hegemónica, tentando ignorar que o Ensino Superior no Alentejo também se faz hoje na região com os Institutos Politécnicos de Portalegre e de Beja.
A prova disso é dada neste convite para o evento acima referido. A nenhum dos Presidentes dos dois Institutos, de Portalegre e de Beja, lhes é dado o mérito de estarem representados formalmente na Comissão Científica, à semelhança de outros de fora da região que, por mérito e estatuto, têm esse lugar.

27 março 2009

VIVA O TEATRO. VÁ AO TEATRO - 27 DE MARÇO

No passado dia 16 de Março o Albino Viveiros festejou antecipadamente, por vontade própria, o Dia Mundial do Teatro de 2009, publicando a mensagem alusiva à efeméride da autoria de Augusto Boal.

A iniciativa do meu amigo madeirense fez-me voltar atrás quase trinta anos, quando eu iniciava o exercício final de interpretação do meu 3º para o 4º ano da Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional. Era meu professor/director desse exercício académico Augusto Boal.

Revi na mensagem agora escrita por Boal, para o Dia Mundial do Teatro de 2009, a mesma coerência e o mesmo espírito militante e solidário para com os desfavorecidos, assim como a mesma truculência e ironia para com os opressores. Afinal, aquilo que fez dele um criador teatral universal. Para Augusto Boal o primado da criação artística está no carácter e no exercício de uma função social da Arte em geral e do Teatro em particular. Por isso foi singular aquele caminho percorrido conjuntamente com Paulo Freire em torno dos oprimidos. São estas preocupações sócio-políticas que o levam a criar, escrever e praticar o Teatro do Oprimido.

Iniciávamos um exercício de Interpretação muito ao seu jeito, abrindo caminho para pôr em cena um dos seus textos dramáticos, “As Mulheres de Atenas”. A proposta era aliciante porque iria envolver, ao vivo, o cantor Chico Buarque d’Hollanda, seu amigo e compadre. Recordo que, inspirado pela peça de Boal, Chico Buarque, ele próprio, fez também uma bela canção sobre a mesma temática e com o mesmo nome. Porém este momento não veio a acontecer no espectáculo por razões que desconheço, já que eu próprio, a meio do projecto, me ausentei do elenco rumando a Paris com uma bolsa da Gulbenkian por um ano.

A lembrança que tenho de Boal é absolutamente marcante. Para além do grande criador, lembro-me do homem solidário com a Humanidade.

O seu nome está projectado em todos os cantos do Mundo. Recordo a intensidade de afectos que os meus colegas e companheiros das artes e da animação sociocultural da América Latina manifestam quando se referem a ele.

Lembro de me sentir orgulhoso junto dos meus colegas de mestrado da Universidade de Montréal no Canadá quando, dando exemplos da prática teatral de Boal, eles me apelidavam de sortudo por ter tido a oportunidade de trabalhar com o mestre.

De facto foi um enorme prazer ter conhecido Augusto Boal e ler agora, trinta anos depois, a sua mensagem do Dia Mundial do Teatro.

Obrigado mestre. SARAVÁ aí para o Brasil que tanto ama.

VIVA O TEATRO. VÁ AO TEATRO
Mensagem do Dia Mundial do Teatro em 2009 por Augusto Boal
Verdade Escondida
Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida! Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de ideias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!
Não só casamentos e funerais são espectáculos, mas também os rituais quotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro!
Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espectáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a plateia e a plateia, o palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver, tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida quotidiana.
Verdade escondida.
Em Setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro, apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós, em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da bolsa quando fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.
Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre: no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espectáculo, eu dizia aos meus atores: "Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida".
Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, géneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.
Actores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!
Augusto Boal

26 março 2009

compasso I

Este Blog fez, durante o mês de Fevereiro, 3 anos!
Nem uma referência postada! O tempo e a dispersão pelas inúmeras actividades anularam a minha disponibilidade para "festejar" a efeméride.
Afinal "O meu blog deu-me o Mundo". É uma referência a essa realidade experimentada que, proximamente, sairá em livro com a chancela do IPP e da sua Colecção "Largo da Sé".
Os conteúdos deste livro partem de uma estratificação assente em várias categorias identificadas, postadas ao longo dos três anos.
Organizá-lo tem sido uma tarefa aliciante.

21 março 2009

DIA MUNDIAL DA POESIA

A poesia nasce dos poetas e das palavras
fruto do sentir da vontade e da emoção
caminha enunciando outras estradas
que nos transportam sentimento ao coração

A poesia faz-se da conversa que se sonha
E de imagens que no tempo se projectam
Dela se espera alquimia que ponha
O tempo em paz de sentires que nos afectam

ABento - 21 de Março de 2009

Encontro de Poetas Vivos no CCB. Vale a pena estar lá.
http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Literatura/Pages/DiaMundialdaPoesia.aspx

17 março 2009

Quando morre uma andorinha...

Quando morre alguém, seja de que forma for, é sempre um pouco da Humanidade que parte. Bem sei, quando há nascimentos o equilíbrio restabelece-se e a Humanidade recompõe-se.

Lembro-me, na minha passagem pela Guiné colonial, hoje Guiné-Bissau, de assistir algumas vezes a rituais de choro pela perda de um ente querido. O choro era sereno, quase discreto, quando um homem grande partia, isto é, quando um Velho morria. Mas quando era um Jovem, o choro era gritante, penoso e sofredor. Estes rituais, que continuam apesar da aculturação e ocidentalização marcam, pela sua intensidade, a serenidade pela partida de um Velho no pressuposto cultural e religioso de ter já vivido muito tempo, assim como marcam, também pela intensidade, a dor pela partida de um Jovem. Afinal com tanto tempo ainda por viver…

Quando morre um Jovem, também nós sentimos essa diferença nos sentimentos, na ética e na inoportunidade…

O Francisco partiu. De uma forma abrupta, violenta e cruel.

O Animador Francisco legou, na sua Comunidade, a força e o animus da sua intervenção sociocultural.

Era jovem, com um sorriso sempre presente e com a vontade de ajudar a transformar o Mundo.

Não teve tempo.

A Animação Sociocultural perdeu um dos seus militantes, uma gota deste mar imenso que é a Intervenção sociocultural e Comunitária.
Quando morre uma andorinha não acaba a Primavera.
Vamos trabalhar mais afirmando a Animação Sociocultural como tempo e espaço que o Francisco gostaria de ter percorrido connosco.

11 março 2009

A CULTURA DO TURISMO TRÁGICO

Os povos, desde a Antiguidade, sempre viajaram pelo circuito dos mártires e dos heróis. Quilómetros e quilómetros eram percorridos com o intuito de se venerar o seu santo ou o seu herói.

Hoje está na moda viajar para ver lugares que foram espaços de tragédia, horror e miséria humanas. Espaços associados aos flagelos provocados pela Natureza e, mais grave ainda, provocados pelo Homem ao seu semelhante. Aqueles outros espaços que indiciam a barbárie, existente ainda, na Humanidade ou parte da dela.

Chamam a este hobby, turismo trágico.

Gostaria de reflectir sobre esta questão com duas hipóteses, isto é, gostaria de saber quais as motivações que levam as pessoas para estes itinerários:

a) - pela vontade de observar in loco estes espaços ou estes territórios podendo configurar apenas um espírito de voyeur com tudo o que este conceito poderá implicar?

b) - pela decisão de visitar estes lugares estando implícita a ideia de aprofundar a(s) memória(s) face às tragédias vividas pelos nossos semelhantes, ao mesmo tempo que consideram esse momento um tempo e um espaço de recolhimento, de solidariedade e de homenagem?

Do ponto de vista da prática turística ou da venda de produtos turísticos, estas duas dimensões estarão absolutamente identificadas? Será que a primeira hipótese a realizar-se poderá transformar-se na segunda, face ao sentir das emoções e ao reatar das memórias colectivas?

Não me aflige este tipo de turismo, se ele porventura consciencializa para a memória e para a História longínqua ou recente. Se a experiência da viagem e do contacto com o espaço/território e com os artefactos, elementos da tragédia, estruturam pensamentos capazes de reconstituir a verdade histórica e não a negação desse(s) facto(s).

O que me aflige sim, é a vontade gratuita de ver encenada uma realidade que já não é, a partir da exposição de elementos exteriores ao tempo. O que me aflige é ver esses lugares transformados em espaços de exposição gratuita e folclórica, porventura sem qualquer enquadramento histórico, cultural e sociológico.

Este tipo de turismo não pode ir contra a natureza e a ética humanas. Imagine-se, por hipótese, um grupo de pessoas invadir, mesmo como turistas, um bairro completamente desestruturado, onde a fome e a miséria humanas estão em grande plano. Onde as pessoas desse local são vistas, como se num circo estivessem, e nada é feito por elas, nada é feito para melhorar as suas vidas . Onde está aqui a moral e a ética das pessoas, das organizações e do próprio conceito de viagem e de fruição? Em boa verdade, a menos que o façam com uma missão de solidariedade.

Esta reflexão vem a propósito de um artigo interessante do complemento Fugas do Jornal Público da semana passada. Fiquei a pensar nisto e a desejar visitar alguns dos lugares apontados. Não como turista, tenho a certeza, que viajam à procura da aventura, mas como alguém que conhece e é sensível à História do Mundo e dos Homens e quer problematizar a Cultura, interrogando-se sobre o porquê de tanta maldade. Mas, sobretudo, com a firme determinação de não querer fazer parte daqueles que praticam o negacionismo.

08 março 2009

A MULHER ESSE SER SUPREMO

Gostaria de dizer, com ternura, às MULHERES do meu país, que o tempo é delas definitivamente. Que o tempo, afinal, sempre foi delas.
Porque conceberam e com a maternidade a Humanidade cresceu.
Porque amaram e com os afectos a Humanidade sentiu.
Porque choraram e com as feridas da alma a Humanidade venceu…

Este foi, é, e será sempre o papel da MULHER, de qualquer cultura, ideologia e credo.

Mas, e o Homem? Que importância dá ele a esta profunda entrega da MULHER?

Onde está verdadeiramente o seu tempo e espaço para uma entrega com a mesma intensidade?

Talvez valha a pena, nós Homens, repensarmo-nos!

04 março 2009

OUVIR, VER E FALAR

Tenho ouvido falar muito da crise!
Ao governo, que a justifica ao mesmo tempo que tenta geri-la.
Aos partidos, que não a aceitam e tentam encontrar culpados.
Aos técnicos, que a argumentam mas que não convencem.
Aos media, que a divulgam mas que não esclarecem.

Tenho visto falar da crise!
Mas não vejo compreender a informação.
Mas não sinto resultados para a atenuar.
Mas não percebo porque não se generaliza a sua discussão.
Mas não encontro vontades de a partilhar.

Talvez falar da crise…
Faça sentido falarmos todos sobre ela,
Seja importante sermos protagonistas na sua resolução,
A nível nacional? Claro!
A nível regional? Certo!
A nível local? Ideal!

Então, falta-nos falar da crise:
nas comunidades onde se estabelecem as relações de proximidade;
nos locais onde se desenvolvem as relações de vizinhança;
em casa onde permanecem os afectos.

Pois é, falar da crise mais próximo das pessoas, e com elas próprias, é construir uma forma de a suavizar: a solidariedade.