10 dezembro 2012

A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL COMO PRÁTICA PROGRESSISTA E DEMOCRÁTICA

SURGIU, NO FACEBOOCK, UM DEBATE SOBRE MUITAS DAS TAREFAS QUE SÃO HOJE EXIGIDAS AOS ANIMADORES SOCIOCULTURAIS. SE DEVEM VESTIR FARDA OU BIBE, SE DEVEM OU NÃO FAZER MAGIA OU ENCHER BALÕES, ETC. CLARO QUE HÁ MUITA CONFUSÃO SOBRE O QUE PODEM OU DEVEM OS ANIMADORES SOCIOCULTURAIS DESENVOLVEREM, HOJE, COMO ACTIVIDADES. FALAVA-SE TAMBÉM DO CURSO SER NOVO, ALIÁS, COM INFORMAÇÕES HISTÓRICAS ABSOLUTAMENTE ERRADAS. PERANTE ISTO RESOLVI COMENTAR NO FACEBOOCK, SEM DEIXAR CONTUDO DE PARTILHAR/SOCIALIZAR NOUTRO UNIVERSO QUE NÃO O FACEBOOCK. AQUELE OUTRO DOS BLOGS.

Os cursos são novos mas as práticas são ancestrais. Não é animador quem não tem vocação para tal (falo de capacidade de escuta, capacidade de decisão, criatividade e imaginação, sensibilidade e humildade, domínio da expressão e da comunicação, etc.). O carácter polissémico da ASC (por isso é difícil institucionalizá-la, porque abarca uma diversidade de campos, transversais a outras práticas culturais, sociais, educativas, artísticas) permite que os/as ASC sejam operários em construção como diria Vinícius de Morais, sempre a aprender a fazer, para ensinar a compreender e ajudar a transformar. Para além da formação, e falo exclusivamente da superior porque é a que conheço melhor, a aprendizagem dos animadores é um continuum que faz a ligação entre o passado e o futuro, sendo certo que é no presente onde a emergência surge. A formação superior dá instrumentos mas não se esgota em si própria, é necessária mais formação, e sempre mais formação para dar respostas atempadas que sejam honestas, valiosas, precisas, inovadoras e democráticas. Nenhum curso é melhor do que outro. Não podem dar tudo e por isso não há cursos perfeitos, ideais, e que cheguem afinal para o exercício da profissão. A formação superior ajuda a reflexão, sistematiza a acção e ajuda a desencadear ideias, planos, projectos, etc. Os locais, não se esqueçam da polissemia, são tantos e tão ricos que as nossas experiências serão também enriquecidas, nem que para isso tenhamos ou possamos fazer o que nunca fizemos, por exemplo encher balões, fazer magia, mas também criar outros espaços de socialização que ajude atenuar a crise ou incentivar dinâmicas para novas oportunidades. Não caiam na discussão estéril. Todo o trabalho do animador é impõe-se com a generosidade. Esta começa aqui, no espaço do diálogo a ajudarem-se uns aos outros: na reflexão simples sobre as vossas práticas, na reflexão teórica e sistematizada, na produção de materiais, na descoberta colectiva sobre o objecto da vossa área, no entendimento institucional para a profissão, na solidariedade, enfim, num crescimento/maturidade profissional em continuum. Sou um velho animador e professor que não sabe tudo. Ainda hoje, prestes a entrar na reforma, continuo a aprender convosco, o que me deixa feliz. Mas partilhar neste diálogo, aqui neste espaço, é apenas para vos dizer que sim, que somos capazes de contribuir para a mudança que se impõe neste mundo. Na minha idade já passei e vivi algumas mudanças. Foi preciso construir sempre novas ferramentas para o espaço que sempre abracei: a arte, a cultura e a prática da asc. Não me deixei prender e anquilosar a modelos estáticos. Quis sempre aprender mais, fazendo, experimentando, reflectindo em conjunto e, claro, estudando. Para vos dizer afinal que a ASC será tudo aquilo que os outros quiserem e têm direito e será aquilo que eu for capaz de fazer cada vez melhor em inovação, em aprendizagem e em valores, de forma a contribuir para a autonomia das comunidades, melhorar a sua qualidade de vida e fazê-las sentir que é importante defender e viver a/e em democracia.

Por isso como professor contesto categoricamente aquela observação de Mª Filomena Mónica, no jornal Público de sábado, sobre a inoportunidade dos professores afirmarem, em contexto educativo, a sua preferência por regimes e ou ideologias. Se eu sou um homem progressista, que acredita na democracia e na prática da cidadania e que tudo isso é que torna as pessoas mais livres e mais participativas, por que razão, quando falo de um regime ou ideologia absolutamente contrária, eu não a ataque fundamentado em factos históricos. O exercício da Animação Sociocultural vai no sentido de consciencializar e tornar as pessoas mais autónomas e críticas. Por isso é um ensino e uma prática progressista, inovadora e que defende sem dúvida alguma a democracia, podendo e devendo melhorá-la.