24 junho 2007

AH! POIS, AS CONDIÇÕES…

É verdade, conjunturalmente parece estar criado o momento para pressionar o governo, nomeadamente o ministério que regulamenta os estatutos das profissões, no sentido de, uma vez por todas, se encarar a profissão de Animador Sociocultural como fazendo parte de um métier que, legitimado pela história cultural da Europa dos últimos 50 anos, tem evoluído no panorama profissional português, dando respostas diversificadas a necessidades sentidas nos campos do cultural, social, educativo e artístico (matriz que, no meu entender, configura o grande espaço de intervenção do animador sociocultural).

Quando digo estar criado o momento ou, se quisermos, as condições, reporto-me aos esforços desenvolvidos por muita gente no sentido de se encontrar uma nomenclatura comum, quer a nível da formação profissional, quer a nível da formação superior, que facilitasse a elaboração de um estatuto profissional geral, o Estatuto Profissional do Animador Sociocultural, com um perfil e uma deontologia únicos, mas que na sua redacção reenviasse para as funções nas mais diversificadas áreas da intervenção sociocultural. Refiro-me aqui às várias modalidades de animação, que existem de facto na função e/ou funções do animador, mas que devem estar enquadradas juridicamente no plano mais geral do animador sociocultural.

As condições surgem porque no ensino profissional, por exemplo, a nomenclatura é única, animador sociocultural, por decisão das políticas educativas. Já o mesmo não se pode dizer do ensino superior. Fiz parte, em 2005, de uma equipa nacional nomeada pelo ministério do ensino superior, que tinha como objectivo encontrar esse elemento comum, a nomenclatura, como até os currículos ao abrigo de Bolonha. Posso dizer, das poucas escolas dos politécnicos e de uma ou outra universidade presentes, conseguiu-se chegar à nomenclatura única e a uma proposta de currículo. Só que, chegados cada um de nós às nossas instituições, os currículos sofreram alterações em função das pressões dos vários departamentos científico-pedagógicos. Apesar de tudo temos hoje, no ensino superior, maioritariamente a nomenclatura de animação sociocultural.

Mas as condições também existem, porque hoje há mais profissionais e, por arrastamento, também mais animadores socioculturais desempregados. Esta situação só acontece pela ausência dos estatutos profissionais. Com este vazio jurídico a profissão existe em função dos interesses dos empregadores, tanto do privado como do público. Paradoxalmente é esta situação que dá maior consciência política e profissional aos animadores socioculturais, levando-os a integrar-se cada vez mais em associações representativas de classe, reivindicando, nessas organizações, espaços para a formação contínua e para a promoção e defesa da profissão. O salutar é, pois, o aparecimento de novas associações profissionais, blogs e, apesar de tudo, projectos desenvolvidos tanto a nível profissional, como a nível de voluntariado. Não nos podemos esquecer que o animador voluntário também existe e que deve ter o seu espaço também enquadrado juridicamente no estatuto profissional do animador sociocultural.

17 junho 2007

BEM-HAJA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

A Fundação Calouste Gulbenkian tem estado a festejar os seus 50 anos - (1956-2006).
Ao longo de 2006 e já deste ano também, organizou conferências mundiais e outros eventos, nacionais e internacionais, que colocam Portugal no percurso mundial da Arte e da Cultura.
A Fundação é, como sabemos, uma instituição privada. Mas isto não tem impedido de, muitas vezes, cumprir uma parte dos compromissos em matéria de arte, cultura e ciência que deveriam ser da responsabilidade do Estado. E fá-lo pelos seus princípios e filosofia, desde sempre impregnada por um desejo do seu fundador: servir os portugueses e Portugal.

Uma das áreas fortes da sua política de intervenção cultural está associada à atribuição de bolsas de estudo. Em Portugal e no estrangeiro centenas ou, mais certo, milhares de portugueses e não só, têm beneficiado de bolsa para iniciarem ou prosseguirem os seus estudos em muitas áreas do conhecimento, desde as Artes e Cultura a todas as Ciências. Não só apoia em termos de investigação avançada como também em formações iniciais.

O meu escrito desta semana surge como um agradecimento público à Fundação Calouste Gulbenkian. Para agradecer o muito que fez pela minha formação profissional e académica. Quero agradecer a bolsa que recebi enquanto fazia o meu curso de Teatro no Conservatório Nacional; a minha participação como estagiário no corpo de baile do (saudoso) Ballet Gulbenkian no tempo do coreógrafo Milko Sparembleck; a minha passagem pela Casa de Portugal em Paris durante o ano lectivo de 1979, quando me especializava em técnicas de dança moderna e mimo. Finalmente, depois de um grande percurso, isto é, de muitos anos a rentabilizar aquilo que aprendi, a minha bolsa de Teatro para um doutoramento na área da Comunicação e Arte realizado em 2002 na Universidade de Aveiro. Reconheço que, sem o apoio da Fundação, seria difícil ter chegado a este patamar profissional e também à minha realização pessoal.

No momento, gostaria de referir o excelente programa do Fórum Cultural que está a decorrer na Fundação, durante os meses de Junho e Julho, sobre o Estado do Mundo. Vale a pena assistir a todos os momentos. Na impossibilidade de o fazer, veja alguns. Trata-se de uma visão sobre o que de melhor se fez e se faz, na Arte e na Cultura, no Mundo Contemporâneo.

Bem-haja F.C. Gulbenkian. Estou profundamente reconhecido pela solidariedade e confiança que têm demonstrado e continuam a demonstrar, pelo Povo Português e por Portugal.

10 junho 2007

HOMENAGEM PÚBLICA

Hoje é dia de medalhas. Não o digo ironicamente. Acho que o país deve homenagear todos aqueles que, ao longo da sua existência, pensaram mais nos outros e nas suas comunidades do que neles próprios.
Por isso, a uma dimensão nacional, justifica-se que o Presidente da República tome iniciativas desta natureza, enaltecendo os cidadãos que trabalharam para a causa pública. Da mesma forma se justifica que, a nível local, as autarquias tenham também a capacidade de reconhecer nos seus cidadãos essa generosidade, traduzindo publicamente esse reconhecimento.
Todavia, para ambos os casos, é natural haver intromissão dos políticos, dos partidos e de outras organizações, na escolha das pessoas a incluir nos critérios que permitem atribuir essas homenagens.
Por isso, muitas vezes fico surpreendido. Já o fiquei algumas vezes a nível nacional, mas também, e fundamentalmente, a nível local, com o perfil desses cidadãos de excepção que, de excepção, só verifico terem trabalhado nas suas profissões ao longo das suas vidas, isto é, a excepção foi o terem cumprido um percurso normal inerente a essa profissão ou essa função.
Esquecemo-nos que existem voluntários em causas; esquecemo-nos que, por ideais, lutam muitos cidadãos a pensar nos outros e, perante isso, somos confrontados com homenagens por vezes surrealistas, de índole extemporânea e oportunista de quem atribui e de quem recebe a homenagem.
Gostaria de referir aqui o Sr. José Pombo de Assumar, aqui perto de Portalegre. Toda a sua vida foi carteiro, percorrendo todos os recônditos lugares da região, ao mesmo tempo que era o único funcionário dos correios desempenhando todos os serviços que um posto desta natureza exigia. Foi também dirigente associativo, dinamizando uma das mais antigas colectividades locais.
Homem íntegro, honesto e responsável nas funções que lhe foram atribuídas, nunca os CTT demonstraram publicamente um reconhecimento de gratidão pelo excelente serviço prestado. Se virmos bem, ele desempenhou o papel de vários funcionários que um posto de correios exige.
Homem culto e interessado pelos livros e pelas dinâmicas culturais locais. Preocupado pela juventude, ele próprio pai de seis filhos que com dificuldade criou com a esposa, tinha sempre em mente a forma de manter os jovens ocupados em espaços de socialização comunitária.
O Sr. Pombo encontra-se doente há alguns meses, sempre acompanhado pela extensa família que o ama. Mas encontra-se abandonado, qual gratidão, pela comunidade, e pelos responsáveis políticos dessa comunidade, que têm agora a oportunidade de manifestar publicamente o empenho e a dedicação à causa pública e aos outros, sempre demonstrada pelo Sr. José Pombo.
É altura dos autarcas também perceberem que há outros cidadãos, mais anónimos, que merecem a nossa gratidão e o nosso reconhecimento pelo bem que fizeram.
Em nome de todos, obrigado senhor José “Tonhica”.

05 junho 2007

FIM DE CICLOS



Chegámos ao fim de mais um ano lectivo e, seguramente, ao fim de um paradigma. No próximo ano lectivo já estaremos a funcionar, praticamente em todo o Ensino Superior, segundo os parâmetros de Bolonha e, por isso, é inevitável a mudança de paradigma.
Tudo vai mudar!
- O tempo em que decorrerá a formação: o primeiro ciclo (licenciatura) em três anos e o segundo ciclo (mestrado) entre um ano e ano e meio; - A abordagem pedagógica e científica por parte dos professores face a um tempo curto e rápido na formação e que não pode ignorar as competências a adquirir pelos estudantes em plena sociedade global e em mutação; - A nova forma de ser estudante, quer na gestão do seu tempo autónomo, quer na gestão do tempo presencial da formação; - A avaliação e o paradigma dos ECTS; - Finalmente a mobilidade de estudantes e professores que trará consigo a grande mudança cultural no sistema de ensino superior europeu.
Será uma fórmula com sucesso? Será o espaço das oportunidades para aqueles outros que querem ir mais longe? Será de facto o melhor para a Europa e para cada um dos seus países? O tempo, a seu tempo, o dirá.
Inevitavelmente chegou também o fim da licenciatura bietápica para os estudantes de Animação Sociocultural da Escola Superior de Educação de Portalegre. Haverá, não obstante, um período de transição de um, dois anos.
O que mais me marcou nos últimos anos, enquanto professor do curso, foi a capacidade dos estudantes terem percebido o papel fundamental do Animador e da Animação e, em conformidade, os seus projectos finais de intervenção sociocultural corresponderem, a maioria das vezes, aos interesses e às necessidades das populações.
Houve quase sempre empenhamentos acima da média, onde o espírito da militância sociocultural era a razão da sua intervenção, não havendo muitas vezes a mesma correspondência por parte de algum poder local. Talvez por receio de perderem o protagonismo ou por serem absolutamente conservadores e resistentes à mudança.
Sobre esta matéria o poder local e, por arrastamento, as suas comunidades, só poderão beneficiar em termos de desenvolvimento local se a porta da cooperação entre eles e as organizações for franca, aberta, progressista e democrática.
Finalmente, entre vários encontros que se têm realizado, gostaria de referir aquele que vai ter lugar na Escola Superior de Educação de Coimbra, entre 21 e 22 do corrente mês, realizado pela Lucília Salgado e não só, naturalmente, sobre o “Aprender em Tempo de Lazer - O Enriquecimento Curricular.
Entre vários oradores, vai estar presente o meu amigo e colega da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Victor Andrade de Melo, a própria Lucília Salgado e outros convidados que tornarão, tenho a certeza, um Encontro Internacional de grande qualidade. Vou tentar estar presente, pelo menos um dos dias, mais que não seja para dar um abraço a todos estes meus colegas, alunos e ex-alunos que espero possam também estar presentes.