10 junho 2007

HOMENAGEM PÚBLICA

Hoje é dia de medalhas. Não o digo ironicamente. Acho que o país deve homenagear todos aqueles que, ao longo da sua existência, pensaram mais nos outros e nas suas comunidades do que neles próprios.
Por isso, a uma dimensão nacional, justifica-se que o Presidente da República tome iniciativas desta natureza, enaltecendo os cidadãos que trabalharam para a causa pública. Da mesma forma se justifica que, a nível local, as autarquias tenham também a capacidade de reconhecer nos seus cidadãos essa generosidade, traduzindo publicamente esse reconhecimento.
Todavia, para ambos os casos, é natural haver intromissão dos políticos, dos partidos e de outras organizações, na escolha das pessoas a incluir nos critérios que permitem atribuir essas homenagens.
Por isso, muitas vezes fico surpreendido. Já o fiquei algumas vezes a nível nacional, mas também, e fundamentalmente, a nível local, com o perfil desses cidadãos de excepção que, de excepção, só verifico terem trabalhado nas suas profissões ao longo das suas vidas, isto é, a excepção foi o terem cumprido um percurso normal inerente a essa profissão ou essa função.
Esquecemo-nos que existem voluntários em causas; esquecemo-nos que, por ideais, lutam muitos cidadãos a pensar nos outros e, perante isso, somos confrontados com homenagens por vezes surrealistas, de índole extemporânea e oportunista de quem atribui e de quem recebe a homenagem.
Gostaria de referir aqui o Sr. José Pombo de Assumar, aqui perto de Portalegre. Toda a sua vida foi carteiro, percorrendo todos os recônditos lugares da região, ao mesmo tempo que era o único funcionário dos correios desempenhando todos os serviços que um posto desta natureza exigia. Foi também dirigente associativo, dinamizando uma das mais antigas colectividades locais.
Homem íntegro, honesto e responsável nas funções que lhe foram atribuídas, nunca os CTT demonstraram publicamente um reconhecimento de gratidão pelo excelente serviço prestado. Se virmos bem, ele desempenhou o papel de vários funcionários que um posto de correios exige.
Homem culto e interessado pelos livros e pelas dinâmicas culturais locais. Preocupado pela juventude, ele próprio pai de seis filhos que com dificuldade criou com a esposa, tinha sempre em mente a forma de manter os jovens ocupados em espaços de socialização comunitária.
O Sr. Pombo encontra-se doente há alguns meses, sempre acompanhado pela extensa família que o ama. Mas encontra-se abandonado, qual gratidão, pela comunidade, e pelos responsáveis políticos dessa comunidade, que têm agora a oportunidade de manifestar publicamente o empenho e a dedicação à causa pública e aos outros, sempre demonstrada pelo Sr. José Pombo.
É altura dos autarcas também perceberem que há outros cidadãos, mais anónimos, que merecem a nossa gratidão e o nosso reconhecimento pelo bem que fizeram.
Em nome de todos, obrigado senhor José “Tonhica”.