27 fevereiro 2011

A(s) memória(s) da guerra colonial

O acto de sonhar e os seus conteúdos trazem-nos, às vezes, a confirmação de que muitas coisas das nossas vidas ainda não estão resolvidas ou, pelo menos, tranquilas.
O meu sonho da noite passada mostrou-me que as minhas memórias sobre a guerra colonial estão ainda muito sensíveis e à flor da pele.
É verdade que, não me querendo lembrar, também não faço por me esquecer.
Se algum trauma tinha no que diz respeito a esta guerra, esse, teve início logo após a minha incorporação no serviço militar. Afinal éramos uma geração que estava condenada a fazer uma guerra que sabíamos ser injusta, cruel e ilegal.
Se algum trauma tinha, estava relacionado com a morte de um primo, ocorrida precisamente no território para onde iria ser o meu destino: Guiné.
Faz hoje 40 anos que parti e 38 que cheguei daquilo que foi, paradoxalmente, um dos períodos mais difíceis da minha vida e um dos períodos onde mais aprendi como ser humano que, posto à prova, aprendeu e partilhou valores como a solidariedade, o respeito pelo outro, a admiração pela coragem, a aceitação da humildade como um valor absoluto e, por fim, a consciencialização de que esta guerra deveria terminar sem demora.
Parti revoltado e com dúvidas.
Cheguei aliviado e com esperanças.
Felizmente um ano e dois meses depois chegava o 25 de Abril de 1974.

22 fevereiro 2011

A HUMANIDADE EM ARTE

Há uns posts atrás questionava-me se, na minha condição de aposentado, iria demonstrar a lucidez e a criatividade de dois colegas e amigos nessa situação.
Não sendo uma questão que me preocupe muito, não deixo, contudo, de a reformular de vez em quando.
Hoje quero, de novo, dar testemunho de mais um amigo, também ele de longa data, que se encontra na mesma situação dos outros dois amigos: aposentado. A todo o momento dá sinais da sua criatividade, imaginação e sensibilidade através do seu talento ligado à poesia, à pintura e à reflexão teórico-filosófica. Refiro-me, naturalmente, a Nicolau Saião.
Nicolau Saião habituou-me a receber, semanalmente, na caixa de correio electrónico, breves reflexões sobre o mundo, as pessoas e a arte. Sendo breves, as reflexões, não deixam de ser sentidas e profundas. É um homem do pensamento, da reflexão e do diálogo. Estas dimensões surgem não só com as palavras. Traduzem-se também pelas imagens.
São muitos os pequenos artefactos de pintura e desenho de Nicolau Saião que recebo na minha caixa de correio electrónico. A maioria deles tem uma história e contexto poético-literário ou, simplesmente, existem enquanto manifestação e expressão artística.
A partir de hoje, com a permissão de Nicolau Saião, vou publicando alguns dos seus pequenos trabalhos. É, sem dúvida, um exercício, este, o da criação artística, que projecta para o mundo a humanidade que há em nós. Nicolau Saião tem-na muito em profundidade.
Filhos da Nação 1

Filhos da Nação 2

Filhos da Nação 3

19 fevereiro 2011

O TEATRO DO PORTO EM LISBOA OU A MEMÓRIA A ANTÓNIO PEDRO

Companhia de Teatro CIRCOLANDO

Apesar dos criadores culturais do Porto entenderem que:
a) lhes faltam espaços de apresentação de espectáculos;
b) as suas obras têm pouca visibilidade;
c) não há política(s) cultural(ais) na cidade do Porto;
d) não precisam de ir a Lisboa para se interrogarem;
e) há mais oportunidades em Lisboa.
E que eu subscrevo na totalidade, não posso, como português e homem de Teatro, deixar de me orgulhar pela dinâmica cultural, alternativa, na cidade do Porto.
Só posso dizer: O PORTO TEM UMA VITALIDADE TEATRAL DO “CARAGO”
(Se me permitem, gostaria de interpretar toda esta dinâmica do teatro portuense em Lisboa como uma homenagem ao grande homem do Teatro Português, António Pedro.)

13 fevereiro 2011

DOIS VULTOS DA LÍNGUA PORTUGUESA

Sophia de Mello Breyner Andresen
e
José Régio

A primeira descobri-a aos meus 21 anos em plena guerra colonial. As suas palavras permitiam-me, paradoxalmente, evadir para a realidade dos sonhos e dos desejos. Por momentos esquecia as agruras da guerra e sentia-me livre, sensível e mais humano.
O contacto com José Régio foi mais tarde, por volta dos 26/27 anos em Évora, quando no Centro Cultural de Évora criámos o espectáculo a partir do texto “Mário, Eu-próprio o Outro”. Ficaram-me na memória palavras, que não fazendo parte desse texto, faziam contudo parte da dramaturgia do espectáculo: “Quando eu morrer batam em latas…” muito bem cantadas por um amigo de outros tempos.
Sim, porque os tempos hoje são diferentes. Até o refúgio nas palavras está cada vez mais longe. Como o refúgio nos amigos. Do ser passou-se ao ter. De facto, hoje, nós, tendo muito, temos afinal quase nada.

06 fevereiro 2011

MEMÓRIA, PRECISA-SE

"Memória, precisa-se
Pior, antes do 25 de Abril, só os mortos
"

Os portugueses têm memória de passarinho, e dos tontos. Podiam pelo menos ter memória de andorinha, que essas voam para longe mas regressam todas as Primaveras aos beirais, e constroem os seus próprios ninhos, com notável empreendedorismo e competência, chilreando sem lamúrias”.

LEIAM POR FAVOR ESTE MAGNÍFICO TEXTO DE INÊS PEDROSA, EM ANEXO, PUBLICADO NA PÚBLICA DE ONTEM

01 fevereiro 2011

COMO A ESCREVER POESIA SE CRESCE


Escrever poesia é a acção de reflectir sobre a mundividência de quem a escreve. Abre horizontes, projecta fantasmas, conquista impossíveis.
Quando escrita sem o rigor estilístico-poético formal, torna-se mais pertinente, ao mesmo tempo que traduz as emergências do sensível de quem escreve.
Quando meninas de um lar de acolhimento de crianças e jovens, provocadas por uma equipa técnica com competência, sensibilidade e visão de um crescimento harmonioso, escrevem poesia, o mundo não está só ali no seu presente. Está também no seu futuro e na esperança. Está na sua percepção individual de que é possível conquistar um lugar no mundo.
NO EDIFÍCIO DA SEGURANÇA SOCIAL EM PORTALEGRE
EXPOSIÇÃO DE POESIA FEITA PELAS MENINAS DO INTERNATO DISTRITAL DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO