27 fevereiro 2007

Textos Fevereiro 2007

Ao terminar o Forum da RIA gostaria de deixar mais uma pequena participação.Ao longo deste espaço interactivo tem estado bastante presente a problemática dos animadores voluntários e profissionais. Sobre isto fiz anteriormente uma pequena reflexão.

Uma outra ideia que tem sido recorrente, problematiza a existência de várias nomenclaturas da Animação Sociocultural (ASC). Porventura teremos de chamar os nomes às coisas.

A ASC é um espaço amplo de intervenção social, cultural, educativo, artístico, etc. e que pressupõe uma formação generalista. A capacidade de gerir uma matriz generalista, intervindo numa dimensão pluridimensional, é uma característica do animador sociocultural. Todavia terá de recorrer, por vezes, a animadores especialistas para resolver com eficácia momentos do(s) seu(s) projecto(s).

Do meu ponto de vista não faz sentido haver uma formação inicial que focalize já, e quase exclusivamente, um campo ou uma modalidade de animação. Por isso mesmo haveria toda a conveniência em termos nacionais (falo de Portugal, naturalmente) que a expressão fosse única, de modo a credibilizar institucionalmente a função.

No âmbito de Bolonha tentámos, ao nível dos Politécnicos e Universidades que têm esta área da formação, formalizar uma expressão comum. Se é verdade que não o conseguimos na totalidade, pelo menos uma grande parte onde existem estes cursos já têm a expressão única de ASC.
Se a formação generalista, que denominamos por ASC, se resolve no 1º Ciclo da formação superior, terá de ser no 2º Ciclo da formação superior que as especializações terão o seu espaço/tempo. Será, naturalmente, neste espaço da formação, quiçá influenciado já pela prática profissional, que o(a) jovem animador(a) fará a sua especialização onde dominará certamente a área ou áreas da sua intervenção e interesse.

Consideramos todavia que a formação especialista ainda poderá ter duas dimensões: aquela que ajuda e participa na resolução de problemas das comunidades em termos socioculturais tout court, pondo ao seu serviço áreas e linguagens de menor complexidade, e aquela que ajuda e participa na concretização de projectos mais especializados, como por exemplo a montagem de um espectáculo de teatro, a organização de uma orquestra, etc.

Mais uma achega para o debate. Mais um ponto para a reflexão.



28.Fevereiro.2007

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Gostaria de manifestar a minha total concordância com as intervenções de Victor Ventosa no Fórum da RIA, sobretudo quando coloca as questões em termos epistemológicos. De facto a ASC para ser uma ciência teria de ter um corpus teórico próprio, o que ainda não acontece totalmente. Como sabemos, toda a teoria que suporta o conceito advém, fundamentalmente, de várias disciplinas das ciências sociais e humanas. Por isso, por não ter ainda esse corpus teórico ela poderá ser, e será sem qualquer dificuldade, uma tecnologia social, uma prática social, uma atitude, enfim, porque não também uma filosofia.

Por sabermos que o conceito Animação é polissémico e que, isoladamente, não define a matéria de substância inerente às práticas da ASC, temos de recorrer à história das práticas de intervenção sociocultural na Europa, fundamentalmente. É por influência das políticas culturais de A. Malraux e da descentralização cultural, que vai implementando as Casas de Cultura e os Centros Culturais, sobretudo a partir da década de 60, que o conceito ASC se impõe. Impõe-se através de estratégias precisas, isto é, através da sensibilização à participação dos cidadãos na criação, produção e fruição artística e cultural. A dimensão social tout court só aparece na década de 70. No continente norte-americano, isto é, no Canadá e, especialmente, no Québèc, um processo semelhante teve início durante o período da Revolução Tranquila (década de 70). Aqui havia já preocupações de articular as questões da cultura e da arte com as sociais e educativas.

A nossa experiência em Portugal, após a Revolução de 25 de Abril de 1974, foi seguir o modelo inicial francês: fazer a descentralização e o desenvolvimento cultural em todo o território. Só a partir da década de 80 se começa a integrar a dimensão social nas práticas da ASC.

Parece-me que, por esta razão histórica, o conceito ASC fundamentado pela sua existência prática e teórica, cria universalmente um espaço de intervenção que corresponde a dois patamares: o académico (a investigação) que vai desenvolvendo um corpo teórico específico e que abrange conceitos latos do social e do cultural e o prático (a intervenção) que abrange campos e modalidades de intervenção.

Assim, não faz sentido, como foi sugerido por alguém, substituir o conceito de Animação Sociocultural por Recreação. Este conceito está naturalmente inserido no primeiro e o contrário poderá não ser verdade. Em Portugal e creio que em Espanha e França, o conceito Recreação está bastante associado às práticas de lazer e desporto de ar livre tout court. Em minha opinião o conceito ASC é, do ponto de vista epistemológico, aquele que consegue açambarcar todas as práticas de intervenção, inseridas que estão totalmente nas dimensões social e cultural. Podemos falar sempre, e para definir campos específicos, de modalidades de animação: educativa, cultural, social, desportiva, artística, etc.

Outra das questões levantadas no Fórum, foi sobre o papel da metodologia da ASC. Antes de mais não me parece que haja uma metodologia específica ou própria da ASC, assim como também não há um projecto próprio ou específico de ASC. Todavia, qualquer metodologia que se utilize, ou qualquer projecto, em função de interesses e necessidades, são sempre objectos significativos de mobilização das pessoas individualmente ou das pessoas colectivamente. Por essa razão o movimento associativo pode ter, com as estratégias da ASC, mais dinâmicas e maior implantação local.

Finalmente uma questão recorrente: animador profissional ou animador voluntário? Nas sociedades contemporâneas é uma dupla estrutura indispensável. Há espaços, objectivos, comunidades e experiências que apelam a formas diferentes de actua/intervir. Pode-se ser profissional num contexto e voluntário noutro. A questão aqui tem a ver sobretudo com uma ideia de estatutos de acção e, portanto, da definição de políticas de intervenção sociocultural. Sobre a formação? Aqui temos de ser exigentes. A sociedade contemporânea não se ajusta hoje às incompetências e, por isso, embora em níveis diferentes, a formação de Animadores SC, voluntários ou profissionais, deve ser uma realidade generalizada.




19.Fevereiro.2007

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Gostaria de referir o aparecimento de mais um Blog de Animação, desta feita o Animação Sociocultural e Insularidade dirigido pelo animador madeirense Albino Viveiros. Lamento não ter estado nas jornadas por ele organizadas, há relativamente pouco tempo, precisamente na Ilha da Madeira que conheço e gosto bastante. Albino Viveiros parece-me pertencer a uma daquela cepa de animadores que não desistem e lutam pelas suas convicções e pela sua profissão. A Madeira, e o resto do país, só têm a ganhar com a existência de pessoas com esta alma de animadores. Parabéns meu amigo.

Já várias vezes aqui me referi sobre a qualidade dos espectáculos que percorrem os Centros Culturais, os Cine-Teatros e os Centros de Artes do Espectáculo dispersos pelo país. Sou daqueles que acreditam que a existência de uma REDE é um bem precioso para as populações e para a gestão desses espaços quando enquadrados por uma política cultural local e regional de excelência. Sobretudo uma política cultural que tenha em atenção os interesses e as necessidades das populações e não o protagonismo dos eleitos. Todavia, tenho-me questionado sobre a qualidade dos espectáculos existentes nessas redes. A grande maioria obedece quase exclusivamente a padrões de comercialização dos seus autores e não correspondem à qualidade que obrigatoriamente deve conduzir à criação de hábitos e práticas culturais das populações. Cultiva-se fundamentalmente o mediatismo dos autores que, por alguma circunstância já beneficiam de mediatismo através das vezes que aparecem nas televisões ou na imprensa. Há um circuito de Artes do Espectáculo, nomeadamente de Teatro e de Dança de grande qualidade, não privilegiado pelo mediatismo instituído e que não surgem nas agendas locais de actividades culturais concelhias. Era bom que os eleitos dessem por esse circuito e apostassem na apresentação desses espectáculos nas suas comunidades.

A LIBERDADE VAI PASSAR POR AÍ, como diz o Sérgio Godinho.

Finalmente a mulher é dona do seu corpo e senhora da sua decisão. Em consciência, mas também aconselhada, a mulher decidirá a oportunidade da sua maternidade.

Ao fim de mais de 40 anos reencontrar um amigo de infância e adolescência é uma sensação de liberdade, acreditem. As memórias reencontram-se no presente através da auto-crítica e apresentam-nos a maturidade e a sageza de uma vida que se foi construindo, em percursos paralelos de dois antigos amigos e que afinal nunca deixaram de o ser. Obrigado “Zé” Fernando pelo nosso reencontro.O Manuel já nasceu. Forte, robusto e pronto a lutar pela vida com o apoio de todos nós. É o futuro.

AFINAL A LIBERDADE CONTINUA A PASSAR POR AÍ.



13.Fevereiro.2006

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Que escrever para este espaço semanal, sem computador em casa, foi no mínimo estranho e, talvez até, um pouco doloroso. Os hábitos constroem-se e evoluem até termos consciência dessa habituação, dependência por vezes, que não conseguimos compensar.

Mas fi-lo por compensar. Acreditando que o hábito pelo computador, apesar de tudo, não está arreigado, ou, pelo menos, está controlado. Por isso sou capaz de estar, neste momento, a escrever este texto à mão, com caneta e papel. Dou-me conta que esta relação é mais afectiva, mais próxima e, porventura, mais verdadeira. Talvez mais autêntica.

A autenticidade dos hábitos, bons e maus, tem uma correlação com o processo educativo, isto é, com a forma como a nossa educação e instrução evoluem e se complementam. Esta correlação projecta-se e traduz-se, a maioria das vezes, em paradigmas da consciência e da tomada de decisão permanente.

Se pensarmos que existem hábitos capazes de nos ajudar a crescer como humanos e que são parte integrante da nossa consciência, da nossa personalidade, do nosso mundo e da nossa vontade.Se pensarmos também que poderão existir hábitos capazes de denegrirem a nossa identidade física, psicológica, moral, ética, cultural e religiosa.

Então estamos perante percursos paralelos que nos obrigam a decidir, entre eles, onde está a fonte da nossa humanidade.É por isso que crescemos em educação permanente, acompanhados e sós, capazes de cumprir o nosso projecto de estarmos aqui e agora.

É por isso que somos filhos, irmãos, esposos, pais e avós. Eu próprio, com muita felicidade, estou a um passo de pertencer a esta última categoria.

É por isso que somos cidadãos que reivindicam a cidadania como um processo natural de desenvolvimento da pessoa humana.

Assim, cumpre-se o hábito de uma humanidade sã, projectada por uma matriz da criação e da realização, mas também pela lógica de deveres e direitos a serem cumpridos.



04.Fevereiro.2007