TEXTOS MAIO 2006
De vez em quando surgem ideias geniais por parte dos partidos que vão estando no governo deste país. Muitas dessas ideias são de tal ordem geniais que a sua realização e/ou execução se tornam complexas. É uma complexidade que afecta, a maioria das vezes, aqueles que fazem trabalhar a máquina da administração do Estado.
Se é verdade que o actual governo do PS tenta, a todo o custo, mexer nessa máquina infernal, burocrática, morosa e despesista, ensaiando novas dinâmicas e novas respostas da administração pública, nem que para isso muitos dos funcionários públicos sejam dispensados, sobretudo os que “estão a mais”, nós acreditamos que estão mal distribuídos, também é verdade que muitas das decisões a esta mudança não podem passar por pôr em causa estatutos profissionais, direitos adquiridos e políticas democráticas que regem os princípios da coexistência pacífica, onde os valores têm uma dimensão universal.
Nos últimos governos do PSD/CDS, o Ministério da Educação quis “lavar as mãos” de responsabilidades, que só a ele competia, na questão da colocação dos professores. Tentou que esta responsabilidade passasse para as autarquias. Ainda bem que o movimento sindical de todas as tendências o impediu, e também muitas autarquias, que reconheceram ser esta uma tarefa do poder central. Podemos imaginar, que em muitos concelhos onde ainda impera o caciquismo local (uma prática salazarenta ainda em vigor em muitos locais) e onde o compadrio político se faz sentir com muita acutilância, muitas injustiças e arbitrariedades iriam decorrer desta nova competência do poder local.Felizmente que esta intenção não seguiu em frente.
Com este governo do PS, já aqui nos manifestámos, colocaram-se professores em locais que estão fora das suas competências profissionais, nomeadamente em museus, companhias de produção artística, centros culturais, etc., justificando assim o emprego total (falso) dos professores e fazendo cair o emprego de novas profissões vocacionadas para esses lugares, como são por exemplo os animadores socioculturais.
Também com este governo PS estão a pôr-se em causa as competências dos professores, quando têm de fazer substituições em áreas que não são as suas e têm de prolongar um horário que não traz mais valias à função educativa. Mais um espaço vocacionado para a intervenção dos animadores socioculturais nas escolas que está ser perdido.
Finalmente, ainda com este governo PS, a última medida anunciada sobre a Escola, cai sobre a interferência dos pais na avaliação dos professores. É uma medida surrealista. Afinal que competências têm os pais, e que o digam os pais-professores, para haver uma promiscuidade na função? Estamos completamente de acordo que se façam provas públicas de competências para progressão nas carreiras, não só com os professores, como também com toda a administração pública. A questão aqui é saber quem deve estar no juízo dessa avaliação. Naturalmente os pares, que são os que sabem da poda. Pensamos todavia que os júris deverão ser constituídos por elementos internos e externos às organizações.
Esta medida a ser realizada, leva-nos moralmente a avaliar-nos uns aos outros, independentemente das competências. Eu, como pai, professor e cidadão quero começar a avaliar os juízes, os médicos…e por aí fora!
___________________________________
Portugal, enquanto país, tem seguramente muitas dívidas de gratidão para com muitos portugueses e estrangeiros que, nas suas áreas e actividades, têm contribuído para o desenvolvimento e evolução do país.
No plano da Educação e da Cultura gostaria de realçar dois nomes com quem muita gente da minha geração se cruzou numa área comum, o Teatro (nas suas duas componentes Expressão Dramática / ExDra e Arte Dramática / ArtDram), através das aprendizagens transmitidas por estas individualidades de excelência: GISÈLE BARRET, Professora Jubilada da Universidade da Sorbonne (França) e da Universidade de Montréal (Canadá) e JOÃO MOTA, Professor Jubilado da Escola Superior de Teatro e de Cinema (Portugal). Um e outro souberam e quiseram, durante os últimos trinta anos, contribuir para a integração plena desta área na educação, nomeadamente na formação de professores e de educadores de infância. Os seus discípulos e, posteriormente colegas, não esquecerão, seguramente, o perfil de artistas e de pedagogos que lhes foi dado como referência e, portanto, como herança.
Felizmente a gratidão e o reconhecimento a estes grandes senhores já se faz sentir. Acaba de ser publicada uma monografia, e aqui louvo a coragem e a competência da Eugénia Vasques que a elaborou, sobre João Mota enquanto pedagogo teatral. Ao mesmo tempo, um conjunto de ex-alunos de Gisèle Barret, a maioria professores no ensino superior, fez chegar ao conselho científico de uma universidade portuguesa um dossier, ainda a completar-se, no sentido de lhe ser outorgado o título de doutor honnoris causa. Penso também que o João Mota mereceria este grau académico. Fica aqui lançado o repto a qualquer uma das universidades portuguesas, nomeadamente a todas as que têm cursos de teatro.
Gostaria apenas de transcrever uma pequena nota introdutória do livro da Eugénia Vasques sobre João Mota, que revela afinal a dimensão humana, artística e pedagógica deste actor, encenador, professor e pedagogo:“Para João Mota, a ideia de biografia não é uma ideia produtiva. Sensível, quase até à obsessão, pelo fazer e ter projectos, pela interrogação e pelos desafios, enumerar coisas já feitas constitui para esta criatura enérgica e estuante de vida não só uma concessão ao narcisismo como um princípio de enclausuramento próximo de morte anunciada. (…) este professor entende a Pedagogia como um modo de ser simples, de estar atento e gostar dos outros, depois de gostar de si e um modo de, mudando-se a si mesmo e ajudando os outros a aceitar a mudança e a diferença, intervir objectivamente na sociedade.”
___________________________________
“ Fomos convidado a escrever para a Revista Riso e Riscos Nº 1 do Internato de Nossa Senhora da Conceição, em Portalegre. O tema geral da Revista está subordinado ao tema «Sombras no Olhar». Pelo facto da revista ter uma divulgação apenas local, tomei a liberdade de publicar no meu blog, com a respectiva concordância da directora, a minha colaboração na revista.”
A CULTURA ESPREITA AS SOMBRAS…
Quando escrevo tenho consciência de duas dimensões que podem interferir nos conteúdos que quero partilhar. Por excesso, o não conseguir desligar-me da dimensão científica que se apresenta no meu quotidiano, na Escola e em casa, mas também no tempo e no espaço que as separa. Por defeito, o pessoalizar de tal forma a intenção da escrita, que deixo de definir a linha entre a emoção e a razão. De qualquer modo, em ambas as dimensões tenho consciência de não perder, ainda, a noção da realidade, mesmo quando ela se (nos) apresenta em (por) metáforas.“Sombras no Olhar”! É a metáfora que nos conduz, no limite, à consciencialização dessa linha que separa a emoção da razão. Compreendemo-la enquanto leitmotiv que pressiona os processos de legitimação da cidadania e, enunciá-la desta forma, referindo-se a pessoas, neste caso a crianças e jovens institucionalizadas, é apresentar permanentemente as razões da solidariedade.
A solidariedade constrói-se a partir daquilo que se dá, mas também através da forma como se vive. Os valores que levam à prática da solidariedade, capazes de eliminar as tais sombras no olhar, são extensos, plurais, intensos, diferentes, diversos e tudo o mais que constitua a satisfação, individual e colectiva, de fazermos o melhor pelos outros.
Não se trata de incluir nesta dádiva uma ideia exclusivamente material da solidariedade mas, pelo contrário, trata-se de reforçar o sentido da solidariedade como uma dimensão absoluta onde predominam os valores e as crenças, a cidadania e a democracia, o conhecimento e o saber, o humor e o amor. Trata-se afinal de entender a solidariedade como um acto cultural, uma forma de vida individual e colectiva, um projecto de sociedade. Falamos assim de cultura e dos seus processos de socialização.
Socializando-se pela e com a cultura torna-se mais fácil consciencializar para a cidadania, no que isso implica nos deveres e nos direitos de cada um de nós. É a oportunidade de construirmos o percurso da autonomia que nos há-de conduzir à legitimação dos nossos interesses e à afirmação das nossas necessidades.
Se é verdade que o actual governo do PS tenta, a todo o custo, mexer nessa máquina infernal, burocrática, morosa e despesista, ensaiando novas dinâmicas e novas respostas da administração pública, nem que para isso muitos dos funcionários públicos sejam dispensados, sobretudo os que “estão a mais”, nós acreditamos que estão mal distribuídos, também é verdade que muitas das decisões a esta mudança não podem passar por pôr em causa estatutos profissionais, direitos adquiridos e políticas democráticas que regem os princípios da coexistência pacífica, onde os valores têm uma dimensão universal.
Nos últimos governos do PSD/CDS, o Ministério da Educação quis “lavar as mãos” de responsabilidades, que só a ele competia, na questão da colocação dos professores. Tentou que esta responsabilidade passasse para as autarquias. Ainda bem que o movimento sindical de todas as tendências o impediu, e também muitas autarquias, que reconheceram ser esta uma tarefa do poder central. Podemos imaginar, que em muitos concelhos onde ainda impera o caciquismo local (uma prática salazarenta ainda em vigor em muitos locais) e onde o compadrio político se faz sentir com muita acutilância, muitas injustiças e arbitrariedades iriam decorrer desta nova competência do poder local.Felizmente que esta intenção não seguiu em frente.
Com este governo do PS, já aqui nos manifestámos, colocaram-se professores em locais que estão fora das suas competências profissionais, nomeadamente em museus, companhias de produção artística, centros culturais, etc., justificando assim o emprego total (falso) dos professores e fazendo cair o emprego de novas profissões vocacionadas para esses lugares, como são por exemplo os animadores socioculturais.
Também com este governo PS estão a pôr-se em causa as competências dos professores, quando têm de fazer substituições em áreas que não são as suas e têm de prolongar um horário que não traz mais valias à função educativa. Mais um espaço vocacionado para a intervenção dos animadores socioculturais nas escolas que está ser perdido.
Finalmente, ainda com este governo PS, a última medida anunciada sobre a Escola, cai sobre a interferência dos pais na avaliação dos professores. É uma medida surrealista. Afinal que competências têm os pais, e que o digam os pais-professores, para haver uma promiscuidade na função? Estamos completamente de acordo que se façam provas públicas de competências para progressão nas carreiras, não só com os professores, como também com toda a administração pública. A questão aqui é saber quem deve estar no juízo dessa avaliação. Naturalmente os pares, que são os que sabem da poda. Pensamos todavia que os júris deverão ser constituídos por elementos internos e externos às organizações.
Esta medida a ser realizada, leva-nos moralmente a avaliar-nos uns aos outros, independentemente das competências. Eu, como pai, professor e cidadão quero começar a avaliar os juízes, os médicos…e por aí fora!
___________________________________
Portugal, enquanto país, tem seguramente muitas dívidas de gratidão para com muitos portugueses e estrangeiros que, nas suas áreas e actividades, têm contribuído para o desenvolvimento e evolução do país.
No plano da Educação e da Cultura gostaria de realçar dois nomes com quem muita gente da minha geração se cruzou numa área comum, o Teatro (nas suas duas componentes Expressão Dramática / ExDra e Arte Dramática / ArtDram), através das aprendizagens transmitidas por estas individualidades de excelência: GISÈLE BARRET, Professora Jubilada da Universidade da Sorbonne (França) e da Universidade de Montréal (Canadá) e JOÃO MOTA, Professor Jubilado da Escola Superior de Teatro e de Cinema (Portugal). Um e outro souberam e quiseram, durante os últimos trinta anos, contribuir para a integração plena desta área na educação, nomeadamente na formação de professores e de educadores de infância. Os seus discípulos e, posteriormente colegas, não esquecerão, seguramente, o perfil de artistas e de pedagogos que lhes foi dado como referência e, portanto, como herança.
Felizmente a gratidão e o reconhecimento a estes grandes senhores já se faz sentir. Acaba de ser publicada uma monografia, e aqui louvo a coragem e a competência da Eugénia Vasques que a elaborou, sobre João Mota enquanto pedagogo teatral. Ao mesmo tempo, um conjunto de ex-alunos de Gisèle Barret, a maioria professores no ensino superior, fez chegar ao conselho científico de uma universidade portuguesa um dossier, ainda a completar-se, no sentido de lhe ser outorgado o título de doutor honnoris causa. Penso também que o João Mota mereceria este grau académico. Fica aqui lançado o repto a qualquer uma das universidades portuguesas, nomeadamente a todas as que têm cursos de teatro.
Gostaria apenas de transcrever uma pequena nota introdutória do livro da Eugénia Vasques sobre João Mota, que revela afinal a dimensão humana, artística e pedagógica deste actor, encenador, professor e pedagogo:“Para João Mota, a ideia de biografia não é uma ideia produtiva. Sensível, quase até à obsessão, pelo fazer e ter projectos, pela interrogação e pelos desafios, enumerar coisas já feitas constitui para esta criatura enérgica e estuante de vida não só uma concessão ao narcisismo como um princípio de enclausuramento próximo de morte anunciada. (…) este professor entende a Pedagogia como um modo de ser simples, de estar atento e gostar dos outros, depois de gostar de si e um modo de, mudando-se a si mesmo e ajudando os outros a aceitar a mudança e a diferença, intervir objectivamente na sociedade.”
___________________________________
“ Fomos convidado a escrever para a Revista Riso e Riscos Nº 1 do Internato de Nossa Senhora da Conceição, em Portalegre. O tema geral da Revista está subordinado ao tema «Sombras no Olhar». Pelo facto da revista ter uma divulgação apenas local, tomei a liberdade de publicar no meu blog, com a respectiva concordância da directora, a minha colaboração na revista.”
A CULTURA ESPREITA AS SOMBRAS…
Quando escrevo tenho consciência de duas dimensões que podem interferir nos conteúdos que quero partilhar. Por excesso, o não conseguir desligar-me da dimensão científica que se apresenta no meu quotidiano, na Escola e em casa, mas também no tempo e no espaço que as separa. Por defeito, o pessoalizar de tal forma a intenção da escrita, que deixo de definir a linha entre a emoção e a razão. De qualquer modo, em ambas as dimensões tenho consciência de não perder, ainda, a noção da realidade, mesmo quando ela se (nos) apresenta em (por) metáforas.“Sombras no Olhar”! É a metáfora que nos conduz, no limite, à consciencialização dessa linha que separa a emoção da razão. Compreendemo-la enquanto leitmotiv que pressiona os processos de legitimação da cidadania e, enunciá-la desta forma, referindo-se a pessoas, neste caso a crianças e jovens institucionalizadas, é apresentar permanentemente as razões da solidariedade.
A solidariedade constrói-se a partir daquilo que se dá, mas também através da forma como se vive. Os valores que levam à prática da solidariedade, capazes de eliminar as tais sombras no olhar, são extensos, plurais, intensos, diferentes, diversos e tudo o mais que constitua a satisfação, individual e colectiva, de fazermos o melhor pelos outros.
Não se trata de incluir nesta dádiva uma ideia exclusivamente material da solidariedade mas, pelo contrário, trata-se de reforçar o sentido da solidariedade como uma dimensão absoluta onde predominam os valores e as crenças, a cidadania e a democracia, o conhecimento e o saber, o humor e o amor. Trata-se afinal de entender a solidariedade como um acto cultural, uma forma de vida individual e colectiva, um projecto de sociedade. Falamos assim de cultura e dos seus processos de socialização.
Socializando-se pela e com a cultura torna-se mais fácil consciencializar para a cidadania, no que isso implica nos deveres e nos direitos de cada um de nós. É a oportunidade de construirmos o percurso da autonomia que nos há-de conduzir à legitimação dos nossos interesses e à afirmação das nossas necessidades.
Vejo, com este princípio, a oportunidade para que muitas sombras no olhar, em crianças institucionalizadas, se dissipem e se transformem em coisas do olhar vistas com profundidade. Afinal, coisas do olhar vividas em oportunidades permanentes, criadas pelas instituições que acolhem essas crianças e jovens, assim como pelas comunidades envolventes e/ou pela sociedade em geral.
A criação de espaços de afirmação cultural, artística, social e educativa em espaços privados, portanto em casa e/ou em espaços públicos, portanto na comunidade, deve ser uma prioridade, de forma a fomentar nas crianças e nos (as) jovens vontades de crescimento intelectual, apetências para a fruição cultural e autonomias para a participação/criação cultural e artística.
Tal como em casa cabe aos pais criar espaços conjuntos de crescimento e autonomias, nomeadamente aquelas que implicam processos de socialização societária, e que complementam a dimensão educativa partilhada com a escola, também nas instituições de acolhimento de crianças e jovens esta dimensão deve estar presente como uma prioridade absoluta, criando-se paisagens de harmonia, de estética, de reflexão e de experimentação.
A tarefa das instituições, desenvolvida por uma equipa técnica competente, eficaz, sensível, culta e democrática, deve constituir o espaço capaz de fazer a ponte cultural entre a vida privada e a vida pública. Sem reduzir exclusivamente a sua intervenção a uma actividade social e/ou educativa, estas equipas deverão fomentar nas crianças e nos (as) jovens novos interesses e novas necessidades que os (as) ajude a conhecer o mundo e dele possam usufruir o conhecimento e partilhar o saber e a arte. O papel do (a) animador (a) sociocultural é de uma intensa responsabilidade. Cabe, nas suas tarefas internas, criar condições para uma experimentação que envolva as crianças e os (as) jovens em actividades onde o lúdico (o jogo, a socialização e concretização de projectos comuns, mas também diferentes), a expressão artística (nomeadamente através das linguagens teatral, musical e da própria dança), a comunicação oral e verbal e a comunicação não-verbal, mas também o conhecimento literário e a leitura, a tradição e a inovação, sejam objectos de interesses permanentes, autonomizando-as para a procura das questões do sensível e da inteligência e consciencializando-as para as oportunidades surgidas em função dos seus interesses e necessidades.
O trabalho desenvolvido na instituição deve contribuir para a criação de hábitos culturais e artísticos e deve despoletar nas crianças e nos (as) jovens sentimentos para a participação e criação cultural e artística que se projecte para além do seu espaço privado. O espaço público, afinal o espaço da própria integração sociocultural, é um dos anseios absolutos de qualquer ser humano e estes, mais do que ninguém, devem ter a oportunidade de conquistá-lo afirmando a sua igualdade e os seus direitos de cidadania.
Esta tarefa do (a) animador (a) iniciando-se em casa, isto é, na instituição acolhedora, cria assim nas crianças e nos (as) jovens um substrato cultural que lhes permite entender melhor o mundo, ao mesmo tempo que as desafia a experimentar a cultura em toda a sua plenitude. Podemos afirmar que a ponte está feita, isto é, as conexões entre as suas vidas privadas e públicas fazem-se naturalmente, sem constrangimentos e com a plena consciência do direito de igualdade de oportunidades. Mas a tarefa ficará muito mais completa se se comprometer também a comunidade envolvente, neste projecto comum, de crescimento das crianças e jovens. A instituição e o (a) animador (a) deverão manter contactos permanentes com as organizações locais, regionais e nacionais, de âmbito cultural e artístico, de forma que o envolvimento destas crianças e jovens se faça de um modo natural, isto é, progressivo e democrático. A vida pública, recheada de diversidade, permite a cada um (a) destes (as) jovens e crianças, fazerem as suas opções socioculturais. A fruição e/ou criação culturais e artísticas estarão ao mesmo nível de acesso que a escola, a família e os amigos e isso dá-lhes coragem para reivindicarem a legitimidade de experimentarem e construírem novos projectos de vida.Voltando à metáfora sombras no olhar. Relacionando-a com a cultura e com a arte entendemos que, através da vivência destas, as sombras no olhar produzirão progressivamente uma teia de cores que corresponderão à afirmação do direito de cada um a estar no mundo, seguramente melhor preparado para enfrentar todas as intempéries.
___________________________________
Por se gostar de arte ou apenas porque se é romântico, muitas pessoas, num determinado momento das suas vidas, tiveram o sonho ou o desejo de se fazer à estrada, integrando uma caravana de circo, qual saltimbanco, para explorar a ilusão voadora no trapézio ou encontrar a felicidade no riso do palhaço.
Na memória de muitos de nós, sobretudo dos mais velhos, daqueles que não foram educados em tempo e época de globalização, perpassa a nostalgia de uma cultura popular, traduzida por afectos e proximidades e vivida intensamente em comunidade.
Entre essas culturas populares o Circo estava muito presente. Situado entre artes mágicas e técnicas de arrojo, o Circo envolvia-nos no seu chapiteau como um manto que nos protegia, por algum tempo, da crueldade do mundo e, lá dentro, denunciava-as.
O Circo, arte ancestral, capaz de conciliar a tradição e a inovação está, apesar disso, secundarizado no interesse das pessoas que, por sua vez, encontram novas atracções sob o chapiteau do mundo. Por isso está esquecido ou preterido. Faltam-lhe os afectos e a partilha que imperavam numa relação saudável, autêntica e humilde com o público. Falta-lhe sobretudo a dialéctica na relação.
De repente a Televisão fez-se amiga do Circo! Com o intuito de aumentar o share em horário nobre fez um reality show passado no circo. Não se discute aqui o conceito de reality show nem sequer a performance dos candidatos ao prémio final. Diremos apenas que, através desses candidatos, o Circo mostrou a arte nobre que o envolve: o sentido de grupo, a preserverança, a coragem, o saber e a humildade. O Circo mostrou que os homens e as mulheres, que o constituem, são dotados de uma enorme capacidade de se apropriarem das artes e técnicas circenses, de as viverem intensamente e de as transmitir de uma forma natural e responsável aos aprendizes. São uns pedagogos natos. O saber e o fazer andam de mãos dadas até à perfeição.Faltava-nos afinal saber mais sobre como se vive no e para o circo. A Televisão foi amiga do Circo e mostrou-nos. O Circo tornou-se de novo popular e desejado.
___________________________________
É importante que dos encontros sobre Animação Sociocultural que vão proliferando pelo país, saiam documentos que traduzam o espaço da reflexão existente e que, todos juntos, possam configurar e justificar o(s) modelo(s) de animação que queremos implementar tanto na formação (técnica e superior) como nos campo da intervenção.
No caso das 3ªs Jornadas em Chaves saiu o livro final de todas as comunicações. Documento importante que nos alerta para a prioridade de se definir epistemilogicamente o conceito de Animação Sociocultural, embora se perspectivem duas abordagens à formação: uma, que configura uma formação geral e específica e que parte da ideia mais geral de uma Animação Profissional tout court; outra que se perspectiva a partir do trabalhador social também tout court e finalmente uma outra que emerge claramente da Pedagogia Social ou das Ciências da Educação. Só a definição de Bolonha, em toda a Europa irá definir o(s) modelo(s) definitivo(s).
No caso do I Fórum em Portalegre, que decorreu o ano passado, todo o seu conteúdo será publicado na Revista Aprender Nº 30, de Dezembro de 2005, e sairá justamente no primeiro dia do II Fórum que terá início a 17 de Maio de 2006. Seguramente também daqui sairão os documentos inerentes.
II FÓRUM DE ANIMAÇAO EDUCATIVA E SOCIOCULTURAL: SABERES E EXPERIÊNCIAS
17 E 18 DE MAIO
AUDITÓRIO DA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE PORTALEGRE