17 agosto 2009

Isabel Alves Costa, Artista e Pedagoga / 1946-2009

Isabel Alves Costa era uma mulher do Teatro, sobretudo do Teatro de Marionetas. É com esta responsabilidade, a divulgação desta arte através do Festival Internacional de Marionetas do Porto, e por ter sido durante vários anos Directora do Teatro Rivoli no Porto, que é mais conhecida.
Mas Isabel era também uma pedagoga. Nesta condição foi pioneira e companheira num projecto educativo levado a efeito no Ministério da Educação nos finais da década de 70: a integração da Expressão Dramática na formação de Professores do Ensino Básico e Educadores de Infância e nos currículos de Expressão Dramática das Escolas Primárias (hoje Básicas). Durante muitos anos fez parte daqueles que António Nóvoa apelidou de «geração de oiro da Expressão Dramática em Portugal».
Publicou bastante sobre Expressão Dramática e sobre Fantoches. Durante muito tempo foi professora de Expressão Dramática em Escolas do Magistério e em Escolas Superiores de Educação.
Enquanto formou professores encontrámo-nos sempre em todos os Congressos Internacionais de Expressão Dramática e Teatro organizados pela Associação de Professores de Expressão Dramática e Teatro, a cuja direcção ainda pertenceu. A última vez que nos vimos, e falámos imenso, foi no Encontro de Educação Artística realizado no Porto há pouco mais de dois anos.
Só hoje, através do Jornal Público, soube da sua morte. Rezei pela sua alma.
“Isabel Alves Costa, directora do Festival Internacional de Marionetas do Porto e ex-responsável artística do Rivoli, faleceu hoje em Monção.
A programadora Isabel Alves Costa (1946-2009), primeira e última directora artística do Rivoli Teatro Municipal, no Porto, morreu ontem na sua casa de férias, em Monção, vítima de doença súbita. Filha de Henrique Alves Costa, histórico director do Cineclube do Porto e figura determinante na divulgação do cinema em Portugal entre as décadas de 50 e 70, e irmã do arquitecto Alexandre Alves Costa, Isabel Alves Costa teve um papel fundamental na estruturação da vida cultural do Porto durante a década de 90 e foi uma das programadoras mais activas do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, como responsável pela área das artes do palco.
O Governo francês atribuiu-lhe a medalha de Chevalier des Arts et des Lettres em 2006 - foi estudar para Paris em 1963 e regressou em 1997 à Sorbonne para se doutorar em estudos teatrais. O Rivoli, que dirigiu desde a reabertura como teatro municipal, em 1993, até à entrega do equipamento a Filipe La Féria por iniciativa de Rui Rio, em 2007, foi a sua grande aventura pública e pessoal. Durante os anos em que esteve à frente do teatro, Isabel Alves Costa transformou-o na sala de espectáculos de referência da cidade, sobretudo nas áreas da dança e do novo circo.
O processo que terminou com a concessão do Rivoli a um privado (e que Alves Costa descreve minuciosamente em "Rivoli 1989-2006", o livro com que pôs um ponto final nesse capítulo) debilitou-a profundamente, mesmo a nível físico, como explicou ao PÚBLICO na primeira entrevista que aceitou dar sobre esse assunto, em Setembro do ano passado: "[Foi] muitíssimo sofrido. As pessoas não têm noção de como estas coisas nos marcam o corpo. Eu tenho tido, desde que saí do teatro, uma série de problemas que, dizem-me os médicos, resultam dos últimos anos do Rivoli. Tenho de virar muitas páginas para o meu corpo voltar a ter um funcionamento mais ou menos normal."
Foi virar essas páginas ali ao lado, como directora do Festival Internacional de Marionetas do Porto, que ela própria fundou em 1989 e que nos últimos anos se realizou mesmo em frente ao Rivoli, na Praça D. João I, e também para o Alto Minho, onde em 2005 assumiu o acompanhamento artístico da companhia de teatro Comédias do Minho, um projecto único no país pela sua relação de igual para igual com o território.
João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, destacou ao PÚBLICO justamente a necessidade que Isabel Alves Costa tinha de "partilhar o conhecimento com a comunidade": "Sempre tive pena que a cidade não soubesse aproveitar o muito que a Isabel tinha para oferecer", diz, realçando o contributo que Isabel Alves Costa deu nestes últimos anos como consultora para os eventos de teatro de rua e novo circo do Serralves em Festa. Pessoalmente, acrescenta, "Isabel vai fazer falta aos amigos, nas tertúlias, com o seu sentido crítico sobre a cidade, o país e o mundo".
Visão humanista das artes
"Era uma mulher de esquerda com uma visão humanista do papel das artes", continua Madalena Victorino, que trabalhou intensivamente com Isabel Alves Costa nos primeiros meses deste ano, depois de esta a convidar para um projecto de imersão com as Comédias do Minho que resultou na peça Contra-Bando. "Fez um trabalho extraordinário no Rivoli e um trabalho sistemático e pioneiro com o Festival Internacional de Marionetas do Porto, para além de ser uma referência relativamente ao conhecimento teatral", frisa.
A ex-vereadora da Cultura do PS, Manuela de Melo, que a chamou para dirigir o Rivoli e pivotar a reconstrução de uma política cultural para a cidade, sublinha ainda o modo como o seu projecto de programação para o espaço serviu de modelo para outros teatros municipais do país. "Fazia muito da profissão a sua própria vida", resume. É uma outra maneira de dizer que a profissão - e sobretudo o Rivoli - lhe saiu do corpo.”

08 agosto 2009

PALMAS PARA UM GRANDE SENHOR: RAUL SOLNADO

SOLNADO O CRÍTICO DA GUERRA - O AMANTE DO RISO

O riso é uma terapia que ajuda a encontrar o nosso sentido de humor e um pouco da nossa felicidade. Felizes daqueles que nos oferecem esse elixir. São portadores de uma enorme generosidade. SOLNADO para além de ser um grande actor, era generoso e solidário. A minha geração aprendeu a rir e a perceber nas palavras por si ditas o sentido da crítica e a consciência de cidadania.

RAUL SOLNADO morreu hoje aos 79 anos mas ficará para sempre na nossa memória como um companheiro que nos acompanhou sempre com um sorriso e uma graça inteligente que nos transportavam para uma ideia de felicidade construída por cada um de nós a pensar nos outros.

02 agosto 2009

AS NOSSAS MUNDIVIDÊNCIAS

Não se pode ficar indiferente ao excelente artigo de Alexandra Lucas Coelho (ALC), na Revista Ípsilon do Jornal Público de 6ª feira 31 de Julho de 2009, sobre o último livro do portalegrense Rui Cardoso Martins (RCM). Sobretudo não se pode deixar de sentir emoção perante as interferências de RCM no belo texto de ALC.
São ambos de uma geração que ainda acreditam nos valores e no ser humano. Por isso, pertencem ainda aqueles cuja forma de se encontrarem passa, literalmente, pela utilização da estética e da ética e não pela retórica. No fundo pela procura de uma profunda mundividência.
O texto de ALC é essa busca de mundividência. Mas também é mundividência o caminho que faz caminhando* RCM quando refere outros (as), num percurso que é de todos, mas que só alguns conseguem percorrer.
O elenco de referências utilizadas por RCM, que conheço pessoalmente por ser filho de dois amigos e colegas, é vasto e universal, o que nos reenvia para o patamar de um homem culto, de vida e de mundo. Por isso não me surpreende.
Todavia não poderia ficar indiferente a um nome por ele referido: António Buero Vallejo.**
Aqui, regresso ao post anterior sobre Mário Barradas (MB). Também homem culto, de vida e de mundo. MB e RCM pertencem a duas gerações, separadas por uma outra, onde os pontos comuns surgem, porque a Arte e a Vida são um contínuum inesgotável. É esta essência que torna umas pessoas, mais do que outras, protagonistas da reflexão, da crítica, da obra e do conhecimento. Portanto pessoas portadoras de sabedoria e de profunda humanidade.
António Buero Vallejo é, também, uma dessas extraordinárias pessoas que RCM conhece pela sua obra de dramaturgo, que MB conheceu pela sua proximidade de encenador com o dramaturgo e que eu conheci num Seminário excelente que desenvolveu na Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional de Lisboa, nos finais de 1974, quando Mário Barradas era então director.
António Buero Vallejo trazido por Mário Barradas e recordado por Rui Cardoso Martins, merecia esta homenagem.
Se bem me lembro, como nós o escutámos.
Da esquerda para a direita, Simões, Avelino, Gil, São José, Maria, Valentim, Buero Vallejo e Mário Barradas.