A VIDA É BELA
de Roberto Benigni
Naturalmente que este não será o
único filme da minha vida. Os conceitos e os contextos vão sendo alterados em
função de interferências no meu próprio vivido. Por isso mudam. E, essa
circunstância, faz-me escolher obras-primas da Arte, da Cultura e da Ciência
que me marcam, marcaram e marcarão
indelevelmente para a vida.
A escolha deste filme, A VIDA É BELA,
como um dos filmes da minha vida, surge por duas razões. A primeira diz
respeito à pertinência deste filme no contexto actual das relações entre
nações. O fascismo ou outros totalitarismos ou mesmo grupos radicais aparecem
sempre, umas vezes assumidos outras camuflados, umas vezes ainda em registo
standard outras ainda sofisticados. Mas quer numas formas quer noutras, todos provocam
o caos, a guerra, a destruição e a miséria. Afinal resultado da maldade humana.
E isto é verdadeiramente uma grande preocupação minha. Pela minha geração, mas
sobretudo pelos mais jovens e pelas crianças. Vemos o que se está a passar na
Palestina, na Síria ou mesmo na Ucrânia. Porque nasci no pós-guerra e ainda me
apercebi de algumas das sequelas dessa tragédia humana, porque fiz também a
guerra colonial, recuso-me hoje a ser de novo observador/protagonista histórico
deste flagelo e desta bestialidade humana. Por isso quero, com este filme,
fazer um alerta e ajudar na re/ou consciencialização sobre o modo como este
mundo está a ser gerido pelos poderosos e por quem os serve.
A outra oportunidade está relacionada
com a minha formação artística e como criador. Não sou naturalmente indiferente
às questões de ordem estética e artística. Reconheço no filme uma grande
produção e realização que nos reenvia para uma estética, direi
neo-neo-realista, capaz de mexer sentidos e atitudes para processos individuais
e colectivos de desenvolvimento e transformação cultural.
Também não posso ignorar a narrativa
brilhante, camuflada por um ludismo (a metáfora da vida bela, como atitude
positiva perante as adversidades), e pelo humor que nos leva, divertindo, a
pensar objectivamente nos medos e nos receios.
Direi por fim que a figura de
Benigni, chapliniana mas também keatoneana, é repleta de um tempo e de um espaço
de representação e de trabalho de actor que o eleva a um nível de qualidade
superior, singular, mas também universal.
OBS: texto escrito em desacordo com o AO