EVOCAR CARLOS QUERIDO
Fez,
no dia 7 deste mês de Julho, 24 anos que Carlos Querido nos deixou.
Com
ele partiu uma parte da memória-viva de uma geração de portugueses chegados ao
Canadá em meados da década de 60 do século XX. Mas o seu legado patrimonial
deixado na Televisão Portuguesa de Montréal, de que foi um dos fundadores no
outono de 1973, e coordenador até à hora da sua morte, ficou em centenas ou
milhares de cassetes-vídeo que durante todos aqueles anos soube construir,
partindo daquilo que lhe era muito caro e que entendia ser extensivo à
Comunidade Portuguesa: a Cultura de uma forma geral e a Cultura Portuguesa de
uma forma particular.
Carlos
Querido a par da sua actividade profissional que o levou para o Canadá, lembro
que era um excelente desenhador-projectista, começou como voluntário a
trabalhar para e com a Comunidade Portuguesa em Fevereiro de 1972 como Animador
Cultural. Desde essa altura passou a ser uma referência para a Comunidade, pela
sua intervenção, pela sua generosidade, pela sua militância e pela sua cultura.
Porque
estou hoje a evocar o nome de Carlos Querido?
Afinal
somos amigos (reforço o somos) desde quatro anos antes de ter partido para o
Canadá com a Luísa e o Pedro, seu primogénito, ainda bebé. Fomos ao longo dos
anos até ao momento em que nos reencontrámos em Montréal, entre 87 e 90,
mantendo contactos esporádicos entre nós, sobretudo reatados por eles quando
vinham a Portugal. Sabiam onde me encontrar. Tínhamos a Arte e a Cultura como
elos de ligação. A minha vida em torno do Teatro e da Dança Clássica nessa
altura permitia que este vínculo de amizade não se extinguisse e fosse
absolutamente generoso até ao fim da sua vida que eu, infelizmente, acompanhei
nos seus últimos meses. As oportunidades criadas por Carlos Querido para eu me
integrar na Comunidade Portuguesa, a partir da implementação de momentos como
apresentador ou animador de programas na Televisão Portuguesa de boa memória,
foram permanentes e permitiram-me durante os dois anos que permaneci em
Montréal conhecer a Comunidade, ter apoio “familiar” de amigos e, sobretudo,
comungar ideias e projectos com um homem que, do meu ponto de vista, estava à
frente da sua época. Era generoso, culto, solidário, humilde, inteligente e dinâmico.
Mas era também um homem insatisfeito, com uma enorme vontade de transformar,
mudar e inovar. Por vezes não foi suficientemente convincente e, por isso, não
teve o(s) apoio(s) que merecia.
Carlos
Querido, estivesse ele ainda entre nós, manteria um espírito aberto e universal
como era próprio dele. Da mesma forma que se entregou definitivamente ao
serviço público, o de servir a Comunidade Portuguesa e nunca se servir dela
como pude constatar durante os anos que permaneci junto dele, esse espírito universal
seria colocado generosamente ao dispor, com a mesma força e intenção, de uma
Comunidade em transformação. De uma Comunidade específica e com identidade
cultural própria, a portuguesa, para outra Comunidade onde a diversidade e a
pluralidade cultural são factores determinantes para uma existência em comum.
Falo, naturalmente, da Comunidade de Língua Portuguesa.
Evocar
hoje Carlos Querido, passados estes 24 anos, é apelar a um sentimento de
reconhecimento e de homenagem por parte da Comunidade a Carlos Querido e para
que esta não se esqueça de todos aqueles que, ao longo da sua História tiveram
e continuam a ter uma forma de estar no seu seio, que é de dedicação e de amor
pelo próximo, pelos valores e pela cultura comum. Que é hoje, sobretudo, pela
Língua Portuguesa.
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