19 julho 2014

EVOCAR CARLOS QUERIDO

Fez, no dia 7 deste mês de Julho, 24 anos que Carlos Querido nos deixou.
Com ele partiu uma parte da memória-viva de uma geração de portugueses chegados ao Canadá em meados da década de 60 do século XX. Mas o seu legado patrimonial deixado na Televisão Portuguesa de Montréal, de que foi um dos fundadores no outono de 1973, e coordenador até à hora da sua morte, ficou em centenas ou milhares de cassetes-vídeo que durante todos aqueles anos soube construir, partindo daquilo que lhe era muito caro e que entendia ser extensivo à Comunidade Portuguesa: a Cultura de uma forma geral e a Cultura Portuguesa de uma forma particular.
Carlos Querido a par da sua actividade profissional que o levou para o Canadá, lembro que era um excelente desenhador-projectista, começou como voluntário a trabalhar para e com a Comunidade Portuguesa em Fevereiro de 1972 como Animador Cultural. Desde essa altura passou a ser uma referência para a Comunidade, pela sua intervenção, pela sua generosidade, pela sua militância e pela sua cultura.
Porque estou hoje a evocar o nome de Carlos Querido?
Afinal somos amigos (reforço o somos) desde quatro anos antes de ter partido para o Canadá com a Luísa e o Pedro, seu primogénito, ainda bebé. Fomos ao longo dos anos até ao momento em que nos reencontrámos em Montréal, entre 87 e 90, mantendo contactos esporádicos entre nós, sobretudo reatados por eles quando vinham a Portugal. Sabiam onde me encontrar. Tínhamos a Arte e a Cultura como elos de ligação. A minha vida em torno do Teatro e da Dança Clássica nessa altura permitia que este vínculo de amizade não se extinguisse e fosse absolutamente generoso até ao fim da sua vida que eu, infelizmente, acompanhei nos seus últimos meses. As oportunidades criadas por Carlos Querido para eu me integrar na Comunidade Portuguesa, a partir da implementação de momentos como apresentador ou animador de programas na Televisão Portuguesa de boa memória, foram permanentes e permitiram-me durante os dois anos que permaneci em Montréal conhecer a Comunidade, ter apoio “familiar” de amigos e, sobretudo, comungar ideias e projectos com um homem que, do meu ponto de vista, estava à frente da sua época. Era generoso, culto, solidário, humilde, inteligente e dinâmico. Mas era também um homem insatisfeito, com uma enorme vontade de transformar, mudar e inovar. Por vezes não foi suficientemente convincente e, por isso, não teve o(s) apoio(s) que merecia.
Carlos Querido, estivesse ele ainda entre nós, manteria um espírito aberto e universal como era próprio dele. Da mesma forma que se entregou definitivamente ao serviço público, o de servir a Comunidade Portuguesa e nunca se servir dela como pude constatar durante os anos que permaneci junto dele, esse espírito universal seria colocado generosamente ao dispor, com a mesma força e intenção, de uma Comunidade em transformação. De uma Comunidade específica e com identidade cultural própria, a portuguesa, para outra Comunidade onde a diversidade e a pluralidade cultural são factores determinantes para uma existência em comum. Falo, naturalmente, da Comunidade de Língua Portuguesa.

Evocar hoje Carlos Querido, passados estes 24 anos, é apelar a um sentimento de reconhecimento e de homenagem por parte da Comunidade a Carlos Querido e para que esta não se esqueça de todos aqueles que, ao longo da sua História tiveram e continuam a ter uma forma de estar no seu seio, que é de dedicação e de amor pelo próximo, pelos valores e pela cultura comum. Que é hoje, sobretudo, pela Língua Portuguesa.