28 julho 2008

O CONTADOR DE HISTÓRIAS

Nestes últimos dois anos, sensivelmente, tenho vindo a receber da Associação “O Contador de Histórias” (www.ocontadordehistorias.com) um conjunto de pequenos textos que têm enriquecido o meu conhecimento sobre reportórios, temas e autores de histórias para a infância e juventude. E porque não também para todas as idades?

Por esta atenção generosa e incentivadora gostaria de agradecer aos responsáveis da Associação em epígrafe.

Devo dizer que no âmbito do ensino da Expressão Dramática e do Teatro, que desenvolvo há trinta e três anos consecutivos, sobretudo na formação de professores(as) do ensino básico e de educadores(as) de infância, mas também na formação de actores, animadores socioculturais e de técnicos de serviço social, trabalho bastante a oralidade, o jogo, a estética e a socialização a partir de histórias tradicionais e contemporâneas.

Apetrechado que estou com um reportório tão intenso, e diversificado, tenho tido oportunidades pedagógicas, didácticas e artísticas singulares, fruto naturalmente de estar na posse de uma diversidade literária e artística, seleccionada, e que, uma vez mais, só tenho a agradecer à Associação “O Contador de Histórias” (historiasdocontador.blogspot.com).

É de louvar todas as iniciativas, para além do envio generoso dos textos, a realização de conferências, cursos e outras actividades que configuram um espaço inter-geracional de formação estética, artística e cultural.

Obrigado meus amigos por prestarem um serviço público inadiável, provavelmente sem qualquer apoio ou merecido reconhecimento institucional.

Bem Hajam.

20 julho 2008

SÃO JOSÉ LAPA




Decididamente uma grande actriz!

Porventura uma das melhores, se não a melhor actriz da sua geração.

Infelizmente tão pouco aproveitada pelo Teatro Português.

O grande público conhece-a da Televisão. Do programa Humor de Perdição de Herman José, de algumas telenovelas e, mais recentemente, do programa Dança Comigo.
Mas a São José é uma actriz muito mais marcante, conforme a Enciclopédia Livre “Wikipédia” nos mostra: "Maria de São José Mamede de Pádua Lapa (Lisboa, 19 de Março de 1951) é uma actriz e encenadora portuguesa. Estreou-se na Casa da Comédia com a peça Deseja-se Mulher, de Almada Negreiros, encenada pela sua irmã, a actriz e encenadora Fernanda Lapa. Concluiu na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa o Curso de Formação de Actores e Encenadores e dirige Amélia Videira na peça A Húngara de Mário Fratti. Fundou a Companhia de Teatro A Centelha, contratada pelo Estado Português para desenvolver no distrito de Viseu um projecto de animação, promoção e descentralização teatral. Aí se apresentou em centenas de espectáculos por todo o distrito durante pouco mais de um ano. Leccionou, ainda, a disciplina de Movimento e Drama na Escola do Magistério Primário de Viseu. Novamente em Lisboa é dirigida por Filipe La Féria na Peça A Paixão de Pier Paolo Pasolini, de René Kaliski, ao lado de Rogério Samora na Casa da Comédia. Recebe da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro o prémio para a Melhor Actriz do Ano pelo seu desempenho na peça Casamento Branco, de Tadeusz Rozewicth. Ingressa, posteriormente, na Companhia do Teatro Nacional onde é dirigida por Artur Ramos em Fernando Talvez Pessoa, de Jaime Salazar Sampaio. A partir daí, salienta a sua interpretação nas peças Mãe Coragem de Bertolt Brecht, encenada por Jean-Marie Villigier; Guerras do Alecrim e Mangerona, de António José da Silva e O Leque de Lady Windermere, Oscar Wilde, ambas encenadas por Carlos Avilez; Passa por Mim no Rossio, texto e encenação de Filipe La Féria. Na encenação salienta os seus últimos projectos - 12 Mulheres e 1 Cadela baseado em textos de Inês Pedrosa, para o Teatro da Trindade (2005) e Sonho de Uma Noite de Verão para o Espaço das Aguncheiras (2006)".

Tenho a sorte de a conhecer há mais de trinta e cinco anos. Fomos colegas na Escola Superior de Teatro e Cinema do Conservatório Nacional em Lisboa; fomos companheiros na descentralização teatral, ela para Viseu e eu para Évora e, felizmente, dessa data até hoje, somos amigos que, reciprocamente, nos respeitamos e admiramos. Os nossos contactos, por via da distância e das ocupações de ambos, fazem-se pontualmente, mas vamos sabendo coisas um do outro através de terceiros que se cruzam nos nossos caminhos.

Para além de considerar a São José Lapa uma talentosa actriz e encenadora, mantenho dela a recordação e a imagem com que a conheci: solidária, combatente, irreverente, amiga e apaixonada. Os anos passaram e a São José trilhou coerentemente um caminho que, paulatinamente, aprofundava os valores em que sempre acreditou, mas com um discurso sempre inovador e que a tornam hoje uma referência pela ética, pela moral e pelo profissionalismo junto dos seus colegas, dos amigos e do público que ela sabe acarinhar.

A dimensão da solidariedade tem sido gerida por si muito discretamente no apoio a causas sociais, culturais e ecológicas. É uma cidadã que exercita a cidadania de uma forma intemporal e desinteressada, aliás traduzida na sua opção pelo Espaço das Aguncheiras construído conjuntamente com a sua filha Inês, também actriz. Neste Espaço, São José Lapa valoriza e dinamiza o respeito pela natureza através de iniciativas culturais e artísticas, especialmente através do Teatro, abrindo um espaço que é privado, a sua área de intimidade, partilhando-o com o público anónimo disposto a entrar na reflexão e no entretenimento lançados pela actriz.

É um projecto que releva da coerência e humanidade de uma mulher que aprendi a respeitar e a admirar de há trinta e cinco anos a esta parte.
Por ser alguém que não desiste e porque luta generosamente pela causa pública, tem a legitimidade que só as pessoas nobres alcançam: a de ser estimada e admirada pelo seu percurso e história de vida. Por isso faço aqui no meu espaço um tributo singelo à grandeza de alguém que admiro e estimo e que sei ser também estimada por muita gente neste país.

Obrigado minha amiga pela amizade e camaradagem de longos anos.

13 julho 2008

CULTURA DE ESQUERDA E CULTURA DE DIREITA

Não tive oportunidade de assistir ao Colóquio “Esquerda e cultura: o futuro já não é o que era”, que teve início no dia 4 de Julho de 2008 em Lisboa.
Tenho pena! E tenho pena porque, quer haja uma cultura de esquerda ou cultura de direita, ambas são hoje absolutamente redutoras. Porquê?
Porque tanto a esquerda como a direita têm hoje uma visão megalómana da cultura e, por conseguinte, uma visão elitista da cultura. Porque também quando falam em cultura, referem-se às práticas culturais que convocam os grandes e médios centros urbanos e ignoram as periferias. Depois porque há lobbys dos criadores, em todas as áreas, que limitam e impedem que o acto da criação artística seja extensivo a quem quer que seja, desde que se criem as legítimas oportunidades. Finalmente a cultura não é só a criação artística. A cultura é o espaço onde se constrói o quotidiano, na sua globalidade, tendo-se o passado como referência e o futuro como realização. Por isso a cultura, independentemente de ser de esquerda ou de direita, é “um caminho que se faz caminhando” na procura de novas identidades. E no processo de socialização e expressão que promove, a cultura faz respeitar a diversidade e a pluralidade emergentes.

Para mim não é importante, hoje, discutir-se se há cultura de esquerda ou cultura de direita. Para mim basta que haja Cultura. A utilização que cada um ou cada grupo faz da cultura é que define as intenções ou pode acentuar valores e/ou mensagens de esquerda ou de direita.

Conheço pessoas que são de esquerda que fazem ou promovem cultura de direita e o contrário também. Esta afirmação não me leva a assumir a existência ou a ideia de uma cultura de esquerda ou uma cultura de direita, mas apenas me permite constatar de que a promoção, a divulgação ou o exercício das práticas culturais podem veicular valores ou referências de esquerda ou de direita. Aqui sim, há a esquerda e a direita.

A questão é esta:
- fomentar uma cultura de massas e aleatória, é de esquerda ou de direita?
- desenvolver programas culturais elitistas, de acesso interdito a pessoas ou grupos, é de esquerda ou de direita?
- separar sociologicamente, na teoria e na prática, os vários tipos de cultura, é de esquerda ou de direita?
- cultura popular, cultura de massas, cultura erudita, é património de quem, da esquerda ou da direita?

Do meu ponto de vista todos estes pontos são hoje da esquerda e da direita.
O que os pode diferenciar, na aplicação da Cultura, está sobretudo ao nível da decisão política: das prioridades, dos equipamentos, das estratégias, das oportunidades e do investimento.

Mas estas questões não estão desligadas nem separadas da educação, do crescimento económico, da atitude individual e colectiva, de grupos, de cidadãos, de instituições e de organizações.
A questão aqui está sobretudo associada, hoje, a uma educação ao longo da vida, apetrechada de um sentido de universalidade assente na diferença, na diversidade e na pluralidade. E aqui a esquerda e a direita de qualquer País ou Estado têm essa responsabilidade histórica que enuncia ou não evolução ou estagnação de uma ou de outra ou de ambas.

08 julho 2008

CIDADES CRIATIVAS

O conceito de cidades criativas está hoje muito mais associado a novas dinâmicas culturais que apelam e convocam os turistas para a fruição de uma oferta cultural e artística, às vezes de elevada qualidade, mas que estão assentes em projectos de desenvolvimento dependente das grandes indústrias da cultura, do lazer e do entretenimento. São, e estão assim, as grandes capitais do Mundo, assim como outras cidades que conquistaram esse estatuto pelo investimento e por uma enorme oferta turística e cultural de referência.
Este quadro de referência mundial, absolutamente divulgado, e que decorre em determinado espaço/tempo pelas principais cidades do mundo, dão respostas a um fluxo turístico, de passagem, absolutamente carente de iniciativas que configuram vários desejos individuais e colectivos: viajar, conhecer, divertir-se e cultivar-se.
A diversidade na oferta cultural e artística dessas grandes cidades permitirá que as suas populações usufruam também dessa dinâmica assim, como estou quase seguro, não permitirá que essas mesmas populações afirmem uma vontade de experimentação e criação artística e cultural. Será assim em Nova Yorque cujo coração da cidade é o Soho, mas que vai descentralizando novos interesses e dinâmicas para Brooklyn. Será também assim para Barcelona, capital da Catalunha, Região Autónoma de Espanha, que mantém uma oferta cultural e artística de referência. Será assim para Paris e Londres, por tradição histórica, mas também por uma modernidade assente em novos interesses à luz da inovação da cultura e do turismo. Será assim também para Lisboa, Manchester, Amesterdão, Bilbau…

Isto é o que podem oferecer as grandes cidades do mundo. A grande indústria da cultura e do turismo e o que as faz competir entre si. Então e as cidades médias e medianas? Estão condenadas a seguir modelos que não correspondem às suas necessidades, às suas emergências? Um outro conceito de cidade criativa não deverá também ser aplicado nestas cidades demograficamente mais débeis, estruturalmente mais carentes e financeiramente mais pobres?

Estamos perante conceitos de cidades criativas que permitem oscilar entre a grandeza, a moda e o estatuto e a periferia, o envelhecimento e o esquecimento.

Era bom que falássemos desse conceito ou da emergência de novas dinâmicas de outras cidades. A nossa experiência em Portugal, olhando para o mapa do território nacional, deveria levar-nos a pensar que não basta ter Cine-Teatros, Centros de Artes do espectáculo ou Centros Culturais e deixá-los gerir fluentemente em projectos de Rede que não são enquadrados em políticas culturais locais, regionais e nacionais.

Para valorizarmos o conceito de cidades criativas a nossa experiência deveria ser, em primeiro lugar, numa aposta de maior envolvimento de toda a comunidade e, em segundo lugar, no convocar todo um projecto de desenvolvimento turístico e cultural. Como? Acentuando o espaço de uma oferta cultural e artística mais universal, mas coerente e lógica, associada ao processo da criação de hábitos e de formação de públicos, o que constituiria também um factor de desenvolvimento económico. Também, e principalmente, pela oportunidade de criar novos espaços de afirmação individual e colectiva, no que diz respeito à capacidade e oportunidade de constituir-se, cada um dos cidadãos de per si, elementos aglutinadores de um outro conceito de cidade criativa, antecedido objectivamente por uma cidade participativa.