08 julho 2008

CIDADES CRIATIVAS

O conceito de cidades criativas está hoje muito mais associado a novas dinâmicas culturais que apelam e convocam os turistas para a fruição de uma oferta cultural e artística, às vezes de elevada qualidade, mas que estão assentes em projectos de desenvolvimento dependente das grandes indústrias da cultura, do lazer e do entretenimento. São, e estão assim, as grandes capitais do Mundo, assim como outras cidades que conquistaram esse estatuto pelo investimento e por uma enorme oferta turística e cultural de referência.
Este quadro de referência mundial, absolutamente divulgado, e que decorre em determinado espaço/tempo pelas principais cidades do mundo, dão respostas a um fluxo turístico, de passagem, absolutamente carente de iniciativas que configuram vários desejos individuais e colectivos: viajar, conhecer, divertir-se e cultivar-se.
A diversidade na oferta cultural e artística dessas grandes cidades permitirá que as suas populações usufruam também dessa dinâmica assim, como estou quase seguro, não permitirá que essas mesmas populações afirmem uma vontade de experimentação e criação artística e cultural. Será assim em Nova Yorque cujo coração da cidade é o Soho, mas que vai descentralizando novos interesses e dinâmicas para Brooklyn. Será também assim para Barcelona, capital da Catalunha, Região Autónoma de Espanha, que mantém uma oferta cultural e artística de referência. Será assim para Paris e Londres, por tradição histórica, mas também por uma modernidade assente em novos interesses à luz da inovação da cultura e do turismo. Será assim também para Lisboa, Manchester, Amesterdão, Bilbau…

Isto é o que podem oferecer as grandes cidades do mundo. A grande indústria da cultura e do turismo e o que as faz competir entre si. Então e as cidades médias e medianas? Estão condenadas a seguir modelos que não correspondem às suas necessidades, às suas emergências? Um outro conceito de cidade criativa não deverá também ser aplicado nestas cidades demograficamente mais débeis, estruturalmente mais carentes e financeiramente mais pobres?

Estamos perante conceitos de cidades criativas que permitem oscilar entre a grandeza, a moda e o estatuto e a periferia, o envelhecimento e o esquecimento.

Era bom que falássemos desse conceito ou da emergência de novas dinâmicas de outras cidades. A nossa experiência em Portugal, olhando para o mapa do território nacional, deveria levar-nos a pensar que não basta ter Cine-Teatros, Centros de Artes do espectáculo ou Centros Culturais e deixá-los gerir fluentemente em projectos de Rede que não são enquadrados em políticas culturais locais, regionais e nacionais.

Para valorizarmos o conceito de cidades criativas a nossa experiência deveria ser, em primeiro lugar, numa aposta de maior envolvimento de toda a comunidade e, em segundo lugar, no convocar todo um projecto de desenvolvimento turístico e cultural. Como? Acentuando o espaço de uma oferta cultural e artística mais universal, mas coerente e lógica, associada ao processo da criação de hábitos e de formação de públicos, o que constituiria também um factor de desenvolvimento económico. Também, e principalmente, pela oportunidade de criar novos espaços de afirmação individual e colectiva, no que diz respeito à capacidade e oportunidade de constituir-se, cada um dos cidadãos de per si, elementos aglutinadores de um outro conceito de cidade criativa, antecedido objectivamente por uma cidade participativa.