13 julho 2008

CULTURA DE ESQUERDA E CULTURA DE DIREITA

Não tive oportunidade de assistir ao Colóquio “Esquerda e cultura: o futuro já não é o que era”, que teve início no dia 4 de Julho de 2008 em Lisboa.
Tenho pena! E tenho pena porque, quer haja uma cultura de esquerda ou cultura de direita, ambas são hoje absolutamente redutoras. Porquê?
Porque tanto a esquerda como a direita têm hoje uma visão megalómana da cultura e, por conseguinte, uma visão elitista da cultura. Porque também quando falam em cultura, referem-se às práticas culturais que convocam os grandes e médios centros urbanos e ignoram as periferias. Depois porque há lobbys dos criadores, em todas as áreas, que limitam e impedem que o acto da criação artística seja extensivo a quem quer que seja, desde que se criem as legítimas oportunidades. Finalmente a cultura não é só a criação artística. A cultura é o espaço onde se constrói o quotidiano, na sua globalidade, tendo-se o passado como referência e o futuro como realização. Por isso a cultura, independentemente de ser de esquerda ou de direita, é “um caminho que se faz caminhando” na procura de novas identidades. E no processo de socialização e expressão que promove, a cultura faz respeitar a diversidade e a pluralidade emergentes.

Para mim não é importante, hoje, discutir-se se há cultura de esquerda ou cultura de direita. Para mim basta que haja Cultura. A utilização que cada um ou cada grupo faz da cultura é que define as intenções ou pode acentuar valores e/ou mensagens de esquerda ou de direita.

Conheço pessoas que são de esquerda que fazem ou promovem cultura de direita e o contrário também. Esta afirmação não me leva a assumir a existência ou a ideia de uma cultura de esquerda ou uma cultura de direita, mas apenas me permite constatar de que a promoção, a divulgação ou o exercício das práticas culturais podem veicular valores ou referências de esquerda ou de direita. Aqui sim, há a esquerda e a direita.

A questão é esta:
- fomentar uma cultura de massas e aleatória, é de esquerda ou de direita?
- desenvolver programas culturais elitistas, de acesso interdito a pessoas ou grupos, é de esquerda ou de direita?
- separar sociologicamente, na teoria e na prática, os vários tipos de cultura, é de esquerda ou de direita?
- cultura popular, cultura de massas, cultura erudita, é património de quem, da esquerda ou da direita?

Do meu ponto de vista todos estes pontos são hoje da esquerda e da direita.
O que os pode diferenciar, na aplicação da Cultura, está sobretudo ao nível da decisão política: das prioridades, dos equipamentos, das estratégias, das oportunidades e do investimento.

Mas estas questões não estão desligadas nem separadas da educação, do crescimento económico, da atitude individual e colectiva, de grupos, de cidadãos, de instituições e de organizações.
A questão aqui está sobretudo associada, hoje, a uma educação ao longo da vida, apetrechada de um sentido de universalidade assente na diferença, na diversidade e na pluralidade. E aqui a esquerda e a direita de qualquer País ou Estado têm essa responsabilidade histórica que enuncia ou não evolução ou estagnação de uma ou de outra ou de ambas.