27 fevereiro 2011

A(s) memória(s) da guerra colonial

O acto de sonhar e os seus conteúdos trazem-nos, às vezes, a confirmação de que muitas coisas das nossas vidas ainda não estão resolvidas ou, pelo menos, tranquilas.
O meu sonho da noite passada mostrou-me que as minhas memórias sobre a guerra colonial estão ainda muito sensíveis e à flor da pele.
É verdade que, não me querendo lembrar, também não faço por me esquecer.
Se algum trauma tinha no que diz respeito a esta guerra, esse, teve início logo após a minha incorporação no serviço militar. Afinal éramos uma geração que estava condenada a fazer uma guerra que sabíamos ser injusta, cruel e ilegal.
Se algum trauma tinha, estava relacionado com a morte de um primo, ocorrida precisamente no território para onde iria ser o meu destino: Guiné.
Faz hoje 40 anos que parti e 38 que cheguei daquilo que foi, paradoxalmente, um dos períodos mais difíceis da minha vida e um dos períodos onde mais aprendi como ser humano que, posto à prova, aprendeu e partilhou valores como a solidariedade, o respeito pelo outro, a admiração pela coragem, a aceitação da humildade como um valor absoluto e, por fim, a consciencialização de que esta guerra deveria terminar sem demora.
Parti revoltado e com dúvidas.
Cheguei aliviado e com esperanças.
Felizmente um ano e dois meses depois chegava o 25 de Abril de 1974.