13 fevereiro 2011

DOIS VULTOS DA LÍNGUA PORTUGUESA

Sophia de Mello Breyner Andresen
e
José Régio

A primeira descobri-a aos meus 21 anos em plena guerra colonial. As suas palavras permitiam-me, paradoxalmente, evadir para a realidade dos sonhos e dos desejos. Por momentos esquecia as agruras da guerra e sentia-me livre, sensível e mais humano.
O contacto com José Régio foi mais tarde, por volta dos 26/27 anos em Évora, quando no Centro Cultural de Évora criámos o espectáculo a partir do texto “Mário, Eu-próprio o Outro”. Ficaram-me na memória palavras, que não fazendo parte desse texto, faziam contudo parte da dramaturgia do espectáculo: “Quando eu morrer batam em latas…” muito bem cantadas por um amigo de outros tempos.
Sim, porque os tempos hoje são diferentes. Até o refúgio nas palavras está cada vez mais longe. Como o refúgio nos amigos. Do ser passou-se ao ter. De facto, hoje, nós, tendo muito, temos afinal quase nada.