09 março 2010

"É preciso sacudir as consciências adormecidas"

Retomando a expressão utilizada no blogue A VOZ PORTALEGRENSE do meu amigo Mário Casa Nova Martins* “É preciso sacudir as consciências adormecidas”, a propósito da criança que se suicidou em Tondela, parece-me que as consciências adormecidas de vez em quando acordam sobressaltadas. O bullying não é nada de novo. Não tinha nome, mas sempre houve. Eu lembro-me, e tenho sessenta anos, para não ser achincalhado, humilhado e não me baterem, não dizia nunca que gostava de ser bailarino clássico ou actor. Mas não foi só em criança, foi na adolescência e como adulto, nomeadamente na tropa.
Estamos falar de uma educação cultural a que deveríamos estar sujeitos todos, sem excepção, no contexto da Escola, no seio das famílias, nos espaços cívicos de socialização, associações, grupos, colectividades, nas igrejas/religiões, nas políticas, na comunicação social e por aí fora.
É verdade que os instintos maus e a maldade existe em muitos espíritos e, por vezes, é difícil de controlar. Mas também é verdade que em muitos aspectos das relações humanas não queremos ver o que está à vista, isto é, anomalias no funcionamento societário.
Existem responsabilidades do Estado, das Organizações, das Famílias, dos Grupos mas também dos indivíduos.
Neste caso de Tondela, a Escola (os professores e os funcionários) são responsáveis porque deviam estar atentos. Mas não vamos transformar a Escola no bode expiatório de um problema que é de todos.
Não basta só sobressaltarmo-nos quando a tragédia acontece. É preciso respondermos de imediato, todos sem excepção, para atenuar ou resolver este e outros problemas. Assumir, cada um de nós, individual e colectivamente, a culpa.
Temos, institucional e profissionalmente, algumas estratégias ao dispor da Escola, nomeadamente a integração na equipa educativa de outros profissionais capazes de ajudarem a sublimar tendências agressivas, ocupando as crianças e os jovens, mas também envolvendo as famílias e as organizações, em actividades de aprendizagem e de práticas de cidadania.
É preciso estender os cordões à bolsa e integrar nas equipas educativas profissionais como os animadores socioculturais, educadores sociais e artistas. São áreas de intervenção que podem, em muito, ajudar a colmatar processos educacionais no campo da cultura e da humanidade.
Caberá, em simultâneo, outras responsabilidades às famílias, muitas das quais também têm de fazer formação e às organizações socioculturais e religiosas que constituem as comunidades. Mas tudo isto é também uma responsabilidade política, nacional e local. É preciso trabalharmos todos em conjunto e percebermos que a humanidade da pessoa por vezes tem de ser humanizada.


*http://avozportalegrense.blogspot.com/