09 junho 2013

                          A BANALIZAÇÃO DA MEDALHA OU DA CONDECORAÇÃO


Numa peça de teatro de Catherine Dasté, “O Eucalipto Feiticeiro, Jerónimo e a Tartaruga”, há um quadro que se chama “o país dos medalhosos”. A fábula é a de que o medo que têm pelo Eucalipto Feiticeiro leva aqueles cidadãos a portarem-se bem. Por isso têm medalhas. País cinzento este que atribuiu medalhas cinzentas a cidadãos cinzentos.

O nosso país também se tornou um país de medalhados. Não por causa do medo, mas porque continuamos ainda cinzentos, herança de um regime cinzento. Por tudo e por nada é-se medalhado, condecorado. Se tivéssemos um Rei seríamos um país de duques e baronesas. Como temos a República temos imensos comendadores e medalhados.

A banalização das condecorações tanto a nível nacional como a nível local, alterou o significado do feito que leva alguém a ser distinguido. Não basta ser um bom ou exímio trabalhador na sua área, é pago para isso; não basta ter uma ideia brilhante; não basta mostrar que se está nos lugares públicos. De facto, a dimensão de se viver apenas, não deveria ser razão para distinções. É preciso fazer-se algo de diferente. Em prol da Ciência, da Arte, da Cultura, pois claro. Mas também, e sobretudo, fazer alguma coisa de diferente pelos outros, pela comunidade e pelo país, através da abnegação, da solidariedade, da generosidade, dos afectos…

Temos muitos(as) comendadores(as) e medalhados(as) no âmbito nacional e local. Algumas dessas pessoas merecem essa distinção, mas a maioria tem-na porque o processo não está desvinculado dos interesses de grupos, de partidos, de lobbies, etc.

Era interessante que se reencontrasse a dimensão que singulariza o acto de se ser condecorado ou medalhado. Afinal deve-se distinguir o(s) melhor(es), caso sejam pessoas individualmente, organizações ou colectivos.