07 maio 2012

ENCONTRO DE AFECTOS? OU ENCONTRO DE MEMÓRIAS?

Trinta e nove anos após a chegada do meu Batalhão, Caçadores 3832 vindo da Guiné e da Guerra Colonial, cumpre-se o ritual do encontro anual. O pretexto é sempre o almoço e o convívio, mas também tem sido o partilhar a felicidade em família e o sucesso profissional. Sabemos que estas dimensões são sempre diferentes entre os seres humanos e muito mais quando os traumas vividos acompanham eternamente muitos dos homens que fizeram a guerra. A Colonial ou outra qualquer.
Iniciei já muito tarde, creio que vinte anos depois do regresso, o contacto com os meus camaradas, mas foi o suficiente para perceber que todos aqueles pretextos eram afinal secundários. O que prevalecia eram os afectos e as memórias.
No último Encontro, realizado no sábado passado na Curia, festejávamos o 39º ano após o nosso regresso. Percebi que os afectos estavam presentes mas que as memórias, essas, têm-se diluído no tempo. Nomes, datas, pormenores do que foi vivido vão sendo apagados pelo tempo e por outras memórias, porventura mais violentas porque mais recentes.
Vamos envelhecendo, observando em cada um a mancha branca dos cabelos, as rugas a aprofundarem-se nas faces, ao mesmo tempo que, inconscientemente, vamos elaborando a narrativa da nossa decadência humana, afinal do nosso envelhecimento.
Alguns não tiveram a oportunidade de envelhecer. Ficaram lá e cá! Pelo caminho da saudade.