13 outubro 2011

NÃO! NÃO PODEMOS IGNORAR - EM MEMÓRIA DE MÁRIO BARRADAS



NÃO! NÃO PODEMOS IGNORAR!
Não podemos ignorar que a história cultural da cidade de Évora está, de há trinta e seis anos, quase trinta e sete, a esta parte, associada à presença do CENDREV/Centro Cultural de Évora. Com ele foram criadas as condições para a prática e o usufruto da Cultura, naturalmente em parceria com a Câmara Municipal e o Ministério da Cultura, mas também as condições para se estabelecerem dinâmicas culturais locais face a objectos e linguagens artísticas diferenciadas, o que tem constituído uma proximidade da população com a criação artística contemporânea e universal.
Esquecer este percurso e este investimento, é anularmos a nossa própria identidade e o nosso crescimento cultural. Esquecer este percurso intencionalmente é tentar apagar a História e os factos sociais que dela emanaram ou que são emergentes.
É esta emergência, em plena situação de crise mundial, que pode e deve reforçar a cidadania das comunidades criando-lhes, com a urgência que se impõe face à degradação das identidades locais e nacionais, aliás em perigo neste momento, oportunidades de afirmação cultural, mas também de adesão ao conhecimento artístico, cultural, científico e social. O papel das Organizações públicas e privadas é fundamental para concretizar este desiderato. O CENDREV tem uma história de sucesso na cidade de Évora nesta matéria, mas também a nível regional, nacional e internacional, que não pode nem deve ser interrompida, sob pena de considerarmos culpados todos aqueles que por divergências de opinião têm dificuldade em aceitar a pluralidade e a diversidade.
Deixei a cidade de Évora em 1986 e com ela a saudade de ter sido, em muitos momentos, um, entre milhares, dos protagonistas das suas dinâmicas culturais. Voltei ontem (10 OUT2011) para, solidariamente, me associar ao protesto desencadeado pelo CENDREV sobre a urgência e a exigência da assunção dos compromissos não cumpridos pela Câmara Municipal de Évora e, já agora, pela Direcção Geral das Artes. O não cumprimento de acordos estabelecidos, perante contrapartidas que foram asseguradas pelo CENDREV leva a que, neste momento, os salários e outros encargos da Companhia não sejam respeitados. Nesta altura há um atraso de dois meses, quase três, de salários e o incumprimento por parte do CENDREV de outras obrigações, nomeadamente de ordem fiscal e de segurança social. Este incumprimento compromete a solicitação de financiamento no próximo quadro de apoio às Artes. O CENDREV não merece esta situação. O que eles têm trabalhado mesmo sem financiamento. Desde Junho até ao momento que não baixam os braços, estando quase perante a próxima estreia. Mas também a cidade e a sua população não pode ser penalizada pela ausência de práticas culturais com a dimensão que o CENDREV institucionalizou em Évora. Não basta dizer que se cumpre mas só quando houver oportunidade. Como também é penalizador, e estrangulador da actividade, a quebra de mais de setenta por cento do financiamento que a CME pretende impor ao CENDREV.
Deixei em 1986 uma cidade activa e dinâmica culturalmente, onde o Património construído era enriquecido com o exercício de práticas culturais diversificadas e universais. Encontrei agora uma cidade com um Património Construído pronto para a azáfama das objectivas dos turistas japoneses, animados pelos barulhos e incoerências de umas praxes académicas.