26 outubro 2011

HISTÓRIAS DE TEATRO EM ÉVORA (1)

Évora tem uma tradição longínqua de teatro, direi, cerca de quatro séculos, em que as procissões medievais e os entremezes dançantes figuravam em acções permanentes vindas de Lisboa. Eram manifestações para-teatrais que aconteciam, especialmente, em recepções aos reis, já nessa altura um fenómeno interessante de “espontaneidade” imposta, para manifestar a “gratidão” dos súbditos para com suas Altezas Reais. Fosse como fosse, embora para gáudio das majestades, o que é um facto é que o povo divertia-se através dos seus jogos e rituais que foram ficando no percurso histórico, mantendo-se hoje algumas características da essência.
Falamos de Évora e da sua tradição teatral. O Mestre Gil Vicente permaneceu por lá quinze anos e na sua estadia algo de frutuoso fez e nos deixou, até esse grande amor pelo Teatro. Mestre Gil impulsionou as infra-estruturas teatrais quer ao nível da noção espacial da área de representação, quer já nalgumas técnicas em situação de jogo teatral. Podemos dizer que Gil Vicente foi o pioneiro do fenómeno da descentralização teatral.
O Teatro nunca deixou nem nunca abandonou Évora ao longo dos tempos. Tendo sido bastante áureo com Mestre Gil na passagem da idade média para o renascimento, não foi menos no período do romantismo, já com mais mestres, quer a nível de técnicas de actor, quer a nível da quantidade e qualidade do reportório, quer ainda na proliferação de espaços teatrais designados por Teatros.
Assim, em Évora, foram conhecidos no século XIX alguns teatros públicos que se lotavam completamente, fazendo criar o gosto pelo Teatro que ainda existe em cada eborense. Foram eles, em 1834, o “Teatro Eborense”, conhecido pelo “Teatro das Casas Pintadas”, com sede na Travessa do mesmo nome. Houve o “Teatro Variedades”, de 1862 (?) a 1865, não sendo possível saber onde foi a sua sede. Houve, e felizmente ainda existe, o Teatro Garcia de Resende, uma verdadeira jóia do Teatro à Italiana, de acústica quase milagrosa, dispondo de todas as oficinas no espaço do sub-palco, de alçapões, de maquinaria, de duas varandas de serviço e do lanternim da cúpula. A área do palco é idêntica à reservada ao público, o que compreende as regras exactas e óptimas dos verdadeiros Teatros à Italiana. Houve ainda, não sabemos desde quando, o “Teatro Eborense” a funcionar no Palácio D. Manuel que um incêndio destruiu em 1910.