15 janeiro 2010

A consciência colectiva sobre a guerra colonial

Todos os que lêem este blogue sabem do meu interesse pela reflexão sobre a guerra colonial, ou guerra de África, ou ainda guerra do ultramar. E sabem-no porque, diversas vezes, deixei posts de memórias, de reflexão sobre a justiça dessa guerra, sobre as vítimas (mortos, mutilados - física e emocionalmente - e famílias).
Trinta e seis anos passados sobre o fim dessa guerra, pelo menos do nosso envolvimento, muitos silêncios se fizeram sentir. De todos. Dos protagonistas políticos, das hierarquias militares e dos próprios protagonistas do campo de batalha, de um e do outro lado das barricadas. Medos? Dores? Culpas? De tudo um pouco.
Começam a aparecer testemunhos que ultrapassam a coisa política e assentam na coisa pública, no drama do país que ainda vive e viverá por mais uma vintena de anos, tempo de sobrevivência que resta aos veteranos dessa guerra, sequelas que impedem o alcance da paz interior, que dão continuidade à dor física insistentemente visível, sequelas que persistem no medo escondidas pela culpa.
São já, mais de uma dezena, os livros que estão publicados sobre essas memórias: como romance ou poesia ou como memórias da experiência. A leitura da maioria deles fazem, ainda, não me sentir descansado, tranquilo. Exactamente pela culpa, pela dor e pelo medo que todos, sem excepção, ainda sentimos. Mas, falarmos disso, é já uma enorme catarses.
Era bom que a juventude procurasse, também nessas leituras, a compreensão de um tempo histórico que marcou definitivamente a geração dos seus avós, para alguns ainda, dos seus pais. Não faz sentido desvincularem-se desse compromisso. Vocês ainda são vítimas da guerra de África, colonial ou do ultramar.