que animação sociocultural? Sei que não vou por aí
Estranhar-se-á, porventura, uma ausência prolongada de escritos sobre Animação Sociocultural (ASC) neste blogue. Tem sido intencional. Tem sido uma pausa assumida, esta de não escrever sobre ASC. Não que o assunto esteja esgotado, que não se continue a exercer e a praticar ASC, também que não se continue a reflectir e a ensinar ASC. Apenas o que se faz e o que se escreve começa a tornar-se redundante. Não observo evolução na produção conceptual, quer da parte dos teóricos de referência, que estão na academia, quer da parte dos práticos do quotidiano, que são os animadores socioculturais que estão no terreno.
Da minha parte dou a mão à palmatória. Os pequenos textos não me satisfazem e para produzir ensaios ou tratados conceptuais teria de retornar amiúde à função de animador sociocultural para reflectir sobre as minhas práticas perante um mundo em constante mudança. Algo impossível de fazer nas condições que temos para a investigação académica, com um tempo demasiado preenchido no ensino formal.
A minha esperança situava-se no retorno da informação sobre as práticas de ASC e sobre as funções do Animador Sociocultural trazidas por estes, através da publicação de reflexões profundas sobre as suas práticas.
Quando, em 1994, a Escola Superior de Educação de Portalegre assumiu a responsabilidade de avançar com o primeiro curso de ASC do ensino superior público, na altura só bacharelato, omisso no livro de Marcelino Lopes "Animação Sociocultural em Portugal", estava no horizonte do seu corpo docente, e no meu particularmente, a possibilidade de conquistarmos um espaço que funcionasse como um centro de produção e pesquisa em ASC, assente substancialmente na reflexão sobre as práticas dos Animadores Socioculturais formados por esta Escola e, a partir desse momento, por todas as Escolas que formassem esses profissionais.
Até hoje não saiu sequer um opúsculo sobre práticas, dos poucos milhares de animadores que estão no terreno. As suas preocupações, justas diga-se de passagem, estão literalmente dominadas pela ausência dos estatutos profissionais, o que torna precário o emprego, como também dominadas pela ânsia de uma formação constante e variada.
Vemos em dois, três blogues, falar-se sobre animadores e animação, sobretudo na perspectiva da função e das áreas sendo, todos os outros, apenas espaços de divulgação de actividades.
Há muito que me questiono sobre a importância dos Encontros, Congressos, sobretudo quando funcionam apenas como espaços de vaidades intelectuais.
O que deverá ser feito?
Continuo a pensar que a questão da precariedade de emprego tem uma relação com a inexistência de Estatutos Profissionais e, portanto, é urgente que os Animadores se organizem de uma forma associativa mais substancial e assertiva. Que seja visível um movimento forte sobre a função e a profissão do Animador Sociocultural. Seguramente haverá maior peso institucional que terá força para pressões políticas sobre a definição da carreira.
Que nos contextos associativos e profissionais se criem espaços de investigação conjunta entre estes e os académicos.
Que se criem dinâmicas e interacções entre professores e investigadores de animação sociocultural no seio da academia. É importante que o pensar e a experiência individual enriqueçam o colectivo e a qualidade de ensino e da formação. Chegou o momento das Escolas de formação superior deixarem de estar de costas voltadas umas para as outras. Discutam sobre os quadros conceptuais, sobre a formação, sobre planos de estudos. Ajudem a encontrar um caminho para a profissão e não se reduzam só a formar.
Este foi sempre o meu desabafo. Mas o eco nunca o tive.
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