17 maio 2009

85º Aniversário da Confederação Portuguesa de Colectividades

A Confederação das Colectividades de Cultura e Recreio está a festejar o seu 85º aniversário. O programa da efeméride contempla aquilo que está na génese das Colectividades de Cultura e Recreio: o espaço, por excelência, de cultura e arte de expressão popular.
As Colectividades surgem como espaço de socialização comunitária e escolas de alfabetização popular, ao mesmo tempo que pretendem responder às carências culturais do movimento operário. Acentuam ainda o espírito do Movimento Associativo preconizado por António Sérgio.
Com o Estado Novo, pela mão de António Ferro, é imposta uma hegemonia estética que retira a este movimento cultural e cívico a espontaneidade e a diversidade estética.
Em meados da década de 60 tornam-se espaços de resistência cultural e política. Nas zonas de maior concentração operária, um pouco por todo o país, nas Colectividades de Cultura e Recreio, o culto das práticas culturais e artísticas clandestinas, de estéticas mais elaboradas e diversificadas, coabitam com o culto das práticas culturais oficiais e de estéticas duvidosas e inofensivas. A cultura de resistência coexiste com a cultura oficial. Afinal a alternativa entre uma consciencialização crítica à criação e produção cultural e uma alienação a produtos artísticos e culturais inofensivos incapazes de permitirem o desenvolvimento das populações. Aliás intencional.
Esta contemporaneidade de projectos, oficiais e clandestinos, estrutura-se com a lucidez e a coragem dos dirigentes associativos. Embora decorram em muitas das Colectividades, nos seus espaços físicos, a clandestinidade assume-se muitas vezes em tempo de “fora de horas”. Sei do que falo porque vivi experiências dessa natureza em Colectividades situadas na minha terra, Sacavém, território operário e politizado.
Mas a coragem e a determinação para estas manifestações não surgiam só dos dirigentes associativos. Os “ensaiadores” dos grupos de teatro ou dos jogos florais, assumiam na essência um estatuto nobre de animadores socioculturais, conceito emergente nessa época em França e ignorado e desconhecido em Portugal.
Estes velhos ensaiadores, mas novos animadores socioculturais, assumiam e desenvolviam empiricamente a filosofia e a prática da animação sociocultural e do animador, como a entendemos hoje do ponto de vista epistemológico.
O movimento das Colectividades está hoje mais fragilizado. Foram-se perdendo hábitos de socialização, assim como se foram construindo outros espaços de criação e produção cultural e artística, mais universais. A História faz-se e as Colectividades estão lá, a enunciarem um tempo e uma identidade que define um povo e um país.
Parabéns à Confederação das Colectividades.