03 fevereiro 2009

OS PÚBLICOS DA E NA CULTURA

Vamos, finalmente, tendo público(s) na Cultura.
O ano de 2007 em Portugal era já tempo de crise. Mesmo assim, por ano, cada cidadão visitava um museu ou assistia a um espectáculo. São dados de um Relatório do INE (Instituto Nacional de Estatística), publicados também pelo Jornal Público de 30 de Janeiro de 2009, de onde retirei esta informação para fazer a minha breve análise sobre a Cultura que se faz e se vivencia em Portugal.
Vai havendo consciência política de que a Cultura é também uma actividade económica e, por consequência, um elemento importante no desenvolvimento local e regional. A questão aqui é percebermos em que medida estes dados configuram políticas culturais que contribuam para o desenvolvimento cultural das populações.
O Relatório do INE diz respeito, fundamentalmente, à frequência de espectadores nos eventos culturais, portanto à dimensão exclusiva da fruição cultural. Percebe-se que, para além da Tourada, que rende mais que a Música Erudita por exemplo, e dos concertos de Música Ligeira, o Cinema continua a ser a actividade cultural mais enraizada nos hábitos dos cidadãos em Portugal: 16,3 milhões de espectadores que geram 69,1 milhões de euros.
A questão que deve ser realçada neste Relatório diz respeito ao desequilíbrio regional do panorama cultural em Portugal. Em Lisboa, em 2007, houve 11460 sessões de espectáculos ao vivo, número sensivelmente igual à das registadas no conjunto das regiões Norte e Centro. Do Sul, o Jornal Público nem faz referência, o que pode significar que em sede do Relatório do INE serão dados pouco relevantes, já que, só na região de Lisboa, a Cultura gerou 45 milhões de euros, num total de 66,4 milhões, isto é, quase 70% das receitas nacionais.
Uma particularidade neste Relatório que, por razões óbvias, me agrada. A afirmação de que o Teatro é a área artística que maior oferta tem em número de sessões: 12012 sessões, 40% do total. O Teatro atrai anualmente às salas perto de 1,8 milhões de pessoas.
Este boom na oferta da actividade cultural não significa, do meu ponto de vista, que esteja a ser implementada uma política de criação de públicos e muito menos uma estratégia de criação de hábitos e práticas culturais nas populações.
A ausência de políticas culturais tanto a nível do Poder Central, como a nível do Poder Local, é corolário de uma ausência de educação artística e cultural das populações, traduzidas pela inexistência de práticas culturais e artísticas em contexto local e comunitário. Está cada vez mais pobre o movimento associativo; são cada vez menos os grupos culturais e artísticos locais e regionais; aumenta consideravelmente o défice dos equipamentos culturais e artísticos das comunidades locais, espaços convocatórios, por excelência, de práticas de socialização e de criação artística e cultural.
O que está implementado é uma estratégia apenas de consumo cultural, traduzida por uma oferta desenfreada do panorama das indústrias culturais. Cada vez mais a Cultura é oferecida como um menu à la carte que serve apenas alguns grupos económicos dessas mesmas indústrias.
O Relatório do Observatório das Actividades Culturais, e outros estudos, fazem eco do investimento financeiro em prol da Cultura realizado pelo Poder Local. Em média, por habitante, bastante superior ao investimento feito na Cultura pelo Poder Central. É pena que esse investimento não seja rentabilizado em prol da educação artística e cultural das populações.
Contam-se pelos dedos o número de Autarquias que rentabilizam esse financiamento numa política cultural coerente, estratégica para o desenvolvimento dos locais e das populações.
É pena que a maioria das Autarquias se tenha transformado em organizações promotoras de espectáculos e, às vezes, vá lá...até de Cultura.
Fonte: INE (2207); Jornal Público de 30 de Janeiro de 2009