07 janeiro 2009

TESTEMUNHO À TÉTÉ - MULHER PALHAÇO


Maria Teresa Madeira Ricou, artista de circo, pantomine, musical e fazedora do impossível, agitadora de personagens, inventora de sítios e projectos, com talentos e muita determinação... Frontal e directa, ela abraça o sonho de construir, de inventar de participar, de estar lá, nas revoluções e nas injustiças sociais nas violências em que gentes pequenas e grandes são maltratadas.

In: Clube UNESCO de Educação Artística
http://www.clubeunescoedart.pt/consultores/teresar.php

Conheci a Teresa Ricou no ano lectivo 73/74 do século passado quando iniciava os meus estudos em Teatro na Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional. Não porque fossemos colegas. Teresa Ricou, muito antes, já viajava pela Europa, e pelo mundo, frequentando escolas de palhaços em busca da formação que lhe permitiria, no futuro, definir a personagem romântica de mulher-palhaço que criou e como é conhecida. Tété. Conhecia-a porque frequentava a sua casa através do seu irmão Sebastião, ele sim meu colega de Conservatório.
Tété é conhecida internacionalmente por ser a 1ª mulher-palhaço não só em Portugal mas também na Europa.

Pouco ou quase nada contactámos ao longo destes últimos 30 anos. Fui sabendo de si pela sua dedicação ao Circo. Ainda nos finais da década de 70 e inícios da década de 80 acompanhei a sua luta onde se assumia como uma acérrima defensora, em Portugal, do Circo popular e do Circo familiar.

Pertenceu à Direcção Geral de Acção Cultural do Ministério da Comunicação Social como responsável pelo sector do Circo. Creio que, desta sua passagem pelo poder, o Circo foi assumido como uma arte nobre, de tal forma que os seus protagonistas deixaram de ser vistos como nómadas para passarem a ser vistos como artistas em itinerância. Valorizou a formação profissional, a educação das crianças e até mesmo a criação de uma aldeia do circo onde no Inverno todos estes artistas se acomodavam e instalavam as suas casas-atrelados vivendo com dignidade.
Fui sabendo, ficámos todos a saber, que fundou o Chapitô ali para a Costa do Castelo. Lisboa ficou mais nobre porque, finalmente, já tinha uma Escola de Circo, cujo corolário tinha sido o de resgatar a dignidade perdida dos artistas de circo em Portugal.
Este projecto, O Chapitô, tinha naturalmente a marca da generosidade e da solidariedade da Tété, por isso é transversal a uma série de valências que configuram uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONG) e uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) com estatuto de Superior Interesse Social e Manifesto Interesse Cultural.

O Chapitô tem como matriz a intervenção e integração social através das artes, onde mantém uma relação contínua de enriquecimento mútuo com a sociedade e a cultura.

Foi a solidariedade e a dedicação da Teresa Ricou, da Tété, que levou a que se elaborasse, pela primeira vez em Portugal, um projecto com uma visão social e artística, tão profundo e extenso, guiado pelos valores da solidariedade e de equidade, e onde a arte desempenha um papel fundamental na valorização pessoal, na educação integrada e na socialização.

Obrigado Teresa Ricou por nos dares esta lição de generosidade.

Obrigado Tété por seres tão solidária.

PS: Aproveitem para verem a última criação teatral da Companhia de Teatro do Chapitô. “A Tempestade” de William Shakespeare, em cena entre 08 de Janeiro e 01 de Março.