18 janeiro 2009

REFLEXÃO SOBRE OS ENCONTROS DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL













OS PRÓXIMOS ENCONTROS DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL




Estamos a entrar no ciclo dos Encontros e/ou Fóruns de Animação existentes no ensino superior em Portugal.
Naturalmente que a proliferação destes Encontros destina-se, por um lado, à criação de dinâmicas internas, isto é, à criação de espaços de reflexão junto dos estudantes, levando-os a contactar com as experiências e práticas e com a reflexão académica mais elaborada e, por outro lado, com o objectivo estratégico de marcação do território formativo, podendo a partir daí cativar-se novos estudantes para as escolas que têm esses cursos. Diga-se em boa verdade que me parece uma boa estratégia.
Todavia, todos eles sem excepção, têm uma dinâmica bastante localizada, incapazes ainda de captarem públicos mais diversificados, quer dizer, mais transdisciplinares, como ainda públicos dispersos pelo território nacional. Isto deve-se sobretudo aos modelos em vigor no que concerne à forma como decorrem esses eventos.
A primeira questão que levanto diz respeito à ausência de produção teórica de relevo produzida em Portugal. Do meu ponto de vista ela deve ter três dimensões: ser académica tout court, ser teórico-prática envolvendo teórico-práticos e prático-teóricos e, finalmente, ser prática tout court. Sabemos que não é fácil publicar em Portugal, mas também constatamos que, pese embora esse condicionalismo, essa produção não existe literalmente. Se olharmos aqui para o lado, na nossa vizinha Espanha, verificamos que publicam em todas estas dimensões, o bom e o mau, literalmente, porque existe produção.
Ao fim de todos estes anos de formação em Animação existentes no país, ainda não é visível uma produção teórica a partir da vivência prática. O número de animadores(as) existentes, dispersos(as) em campos e modalidades diversas de animação, não é ainda sinónimo de uma reflexão prático-teórica capaz de enunciar uma maturidade profissional que se traduza não só pela definição de um perfil profissional, como pela existência dos respectivos estatutos profissionais.
Também não vislumbramos na Academia essa produção. Primeiro porque a grande maioria dos professores destes cursos só tomaram contacto com a realidade da animação através da docência, depois porque a polissemia do conceito de animação leva a algumas confusões semânticas e epistemológicas, não se sabendo, ou não se definindo, quem são os professores de animação, se isto porventura for importante, ao mesmo tempo que não se criam espaços que trabalhem o objecto Animação. Falta no espaço académico a investigação que deverá ser, no meu entender, de investigação-acção.
Voltando de novo aos Encontros. São úteis, são indispensáveis, mas devem permitir que se debata e defina o objecto Animação. Devem intervir nessa reflexão teórica os profissionais que reflectirão sobre as suas práticas, teorizando-as, assim como os académicos, que deverão teorizar estando também mais próximos das práticas.
Finalmente é bom rentabilizar nestes Encontros quem sabe e quem é competente. É altura de se abandonar algum provincianismo fomentador de cultos de personalidade. Na discussão/reflexão devem estar todos em igualdade de circunstâncias.