01 dezembro 2008

PEDRO PINHEIRO (1939-2008) - “O artista mais completo do espectáculo”*

1963! Não me recordo do mês. Talvez Setembro ou Outubro. Assistia, com minha mãe, à peça de Shakespeare “O Mercador de Veneza” no Teatro da Trindade em Lisboa. Lembro-me de alguns actores: Álvaro Benamor, Lígia Telles e Pedro Pinheiro, um jovem, estudante do Conservatório, dez anos mais velho do que eu.

Foi o meu primeiro contacto, apenas visual, com o Pedro Pinheiro.

1969. Dezembro, Teatro Maria Matos. Integrado na Companhia de Bailados de Anna Máscolo, minha mestra e directora, dançávamos, de Maurice Ravel, o bailado “Ma Mère l’Oie”. Partilhava o camarim com o Amilcar Martins e o José Salles, já desaparecido também. Fomos surpreendidos com a visita de Pedro Pinheiro e creio que, já nesta altura, o Alberto Barreto, o Beta para os amigos. Apenas para nos darem os parabéns pelo espectáculo.

Fevereiro de 1975. Évora, Teatro Garcia de Resende. A Companhia do Centro Cultural de Évora, actual CENDREV, tinha acabado de se instalar vinda de Lisboa, iniciando um processo de descentralização teatral. Representávamos nesse momento o Soldado Raso com uma encenação do meu professor do Conservatório e director também, Mário Barradas. Uma vez mais fui surpreendido por uma visita ao meu camarim pelo Pedro Pinheiro e, desta vez, tenho a certeza, também com o Beta.

De 1975 até poucos meses antes do seu falecimento tivemos oportunidade de construir, reciprocamente, uma amizade baseada na admiração e no respeito. Estivemos juntos em muitas tertúlias, em casa do Alberto Barreto, com jantares e conversas longas sobre arte, poesia, política, enfim sobre a vida.

O que me recordo do Pedro? Antes de mais por ser um intelectual, conhecedor do mundo e da vida. Um excelente dramaturgo, com obra publicada, e um óptimo actor e encenador. Talvez tivesse ficado mais conhecido pelo grande público pela sua participação no programa televisivo “Malucos do Riso”. Mas toda a gente sabe, aqueles que amam o Teatro, que o Pedro fez muito mais do que isso e durante bastantes anos.** Para além disso, o Pedro era uma Homem de uma enorme humildade e humanidade absoluta.

Lamento não ter estado junto dele nos últimos meses da sua vida. Estes coincidiram com momentos difíceis, também, na minha vida pessoal.

Chorei a sua partida, com pena de ter perdido um amigo.

http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/773126d86f959bcb0b6b0d.html *

- foto: Revista Actual do Expresso de 22 de Novembro de 2008