17 novembro 2008

XVII FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE PORTALEGRE










O texto que transcreverei de seguida fi-lo para o livro editado em 2001 e lançado no X Festival Internacional de Teatro de Portalegre. Pela sua actualidade, apesar de muito ter mudado, gostaria de partilhar o sentimento que tive na altura, e que mantenho, com a Companhia de Teatro de Portalegre.

PEQUENA REFLEXÃO SOBRE A CAPTAÇÃO DE PÚBLICOS PARA O TEATRO FEITA PELA COMPANHIA DE TEATRO DE PORTALEGRE

Esta reflexão não resulta de uma pesquisa, não assume uma dimensão científica e não tem pretensões em colocar, seja o que for, nalgum lugar. Não será sequer uma reflexão, talvez seja mais uma opinião dada sobre a Companhia de Teatro de Portalegre.
A par de uma ou outra divergência de princípios quanto ao papel de uma companhia de teatro na província, que eu teimo em chamar de «descentralização teatral», no essencial respeito e admiro o percurso da Companhia de Teatro de Portalegre (CTP), sobretudo porque este tem vindo a realizar-se por caminhos constituídos de facto como objecto de desenvolvimento sociocultural local e regional.
A esse propósito, referimos o seu próprio projecto estético e artístico assente em sinais de renovação e inovação, as suas preocupações na captação de novos públicos e, finalmente, nas suas relações com a comunidade, especialmente com o movimento associativo da área da acção-cultural local e regional.
Gostaria de comentar dois aspectos essenciais, do meu ponto de vista, na credibilidade da CTP enquanto agente de intervenção cultural nesta cidade e na região.
O primeiro aspecto diz respeito à relação privilegiada que a CTP tem com a Escola, a partir do momento em que actores seus são também professores de Teatro. Esta realidade permite criar condições para conquistar novos públicos, sobretudo jovens, criando-lhes a partir das suas aulas de teatro, potenciais apetências para as práticas teatrais profissionais ou simplesmente amadoras. De tal forma que esta questão é importante que me apraz registar a excelente iniciativa da CTP ao atribuir bolsas de estudo a jovens acabados de concluir o secundário e que manifestam interesse em seguir estudos teatrais quer no ensino superior, quer em escolas profissionais. Naturalmente que o compromisso destes jovens com a CTP, após a conclusão da sua formação, assenta numa colaboração com esta instituição durante algumas épocas.
O outro aspecto que gostaria de focar, diz respeito ao Festival Internacional de Teatro. Realiza-se este ano a sua 11ª sessão (17ª sessão em 2008). Onze anos de referências pluralistas, quer nas opções estéticas apresentadas, formas e conteúdos da produção de espectáculos, quer na diversidade do repertório, dos clássicos aos contemporâneos, do drama ou tragédia à comédia, quer ainda pela oportunidade de apresentar propostas teatrais que vão da dimensão experimental à grande produção. Claro que a actividade teatral da CTP não se desenrola só no período do Festival, isto é, decorre ao longo de todo o ano, todos os dias, tendo por isso passado já mais de 20 anos (hoje 28 anos) de actividades ininterruptas. Os reflexos do Festival poderão ser importantes para as actividades normais da CTP, quer em estratégias para a criação de hábitos de participação das pessoas em actividades culturais, quer na criação de públicos diversificados. Este é, do meu ponto de vista, um dos papéis fundamentais da CTP, chamar o público ao Teatro para ver representar os actores, mas também para incentivar no público a apetência para a participação na vida cultural em geral. Creio que tem sido esta a preocupação da CTP que, com muita persistência, vai conquistando e aliciando o público para um leque diversificado de actividades, mesmo com alguns fortes inimigos como a televisão por exemplo.
O Festival Internacional de Teatro de Portalegre tem o mérito de poder confirmar que a CTP desenvolve na comunidade um projecto de desenvolvimento educativo e sociocultural em vários aspectos: mostra projectos estéticos, artísticos e culturais direccionados para a Arte e Criação Contemporâneas; valoriza, em programas paralelos, o âmbito da formação artística e cultural das populações; consciencializa as populações para as necessidades culturais e artísticas; sensibiliza a comunidade no seu direito de reivindicar a cidadania.
Acredito que todo este compromisso em redor do Festival Internacional de Teatro, mas envolvendo até as simbólicas bolsas de estudo atribuídas a jovens estudantes de Teatro, afirma com muita dignidade e prestígio uma forte implantação da Companhia de Teatro de Portalegre “O Semeador”na cidade e na região e traça definitivamente uma estratégia de desenvolvimento cultural, especialmente nas componentes educativa e sociocultural das populações.