15 outubro 2008

“DEMOCRATIZAR A DEMOCRACIA…”

Não é uma redundância, isto de democratizar a democracia!
Provavelmente chegou a altura de o fazer. E começa por cada um de nós, se entendermos que se esgotaram alguns princípios e alguma ética, ao mesmo tempo também que constatamos a perda de alguns valores absolutamente referenciáveis com o conceito e a prática de democracia.
Se a igualdade de géneros custa a ser implementada, se o direito de oportunidades demora a ser estabelecido, se a justiça social é travada pelas desigualdades sociais, enfim, se a felicidade só está pendente para o lado dos mais favorecidos, então é urgente democratizar a democracia.
Comece-se então por democratizar o Estado, os governos, os cidadãos, as práticas políticas, as mentalidades…

De facto, como diz o Albino Viveiros “democratizar a democracia não se resume ao simples facto de vivermos numa sociedade pluralista do ponto de vista das vivências político-partidárias. Democratizar é educar os cidadãos para tomarem parte activa no debate dos verdadeiros problemas que afectam o seu quotidiano.” Esta reflexão, iniciada no seu blog http://animasocioculturaleinsularidade.blogspot.com/ sobre “A Animação da Democracia” é bastante pertinente, para além de recentrar a discussão sobre o papel da Animação Sociocultural no desenvolvimento da sociedade e dos cidadãos.

Importa, antes de mais, relembrar a História da Animação Sociocultural, em Portugal e no Mundo, a partir da década de 50 até finais de 70. Associado à ideia da emancipação e alfabetização dos povos, estava presente a emergência de novas políticas culturais, educativas e sociais, dinamizadas através de práticas de socialização inovadoras e que assentavam em torno de um conceito emergente: a Animação Sociocultural.

A emergência deste campo da intervenção só fazia sentido, na altura, se enquadrada por uma nova ética ao serviço da democracia e do desenvolvimento. Foi assim em Portugal, como espaço de cultura de resistência durante o Estado Novo e como processo de emancipação e alfabetização no pós 25 de Abril. Foi assim em França durante a Frente Popular nos anos 50/60 e a Educação Popular nos anos 60/70. Foi assim na grande maioria dos países da América Latina.

Recentrar o debate sobre o papel da Animação Sociocultural, como está a fazer o Albino Viveiros com o escrito postado no seu blog, é reencontrarmos, não uma vez mais, mas permanentemente, o espaço de análise sobre a intervenção sociocultural. Local onde se possa reflectir sobre as novas emergências associadas à matriz da Animação Sociocultural mas, sobretudo, onde se possam melhorar/aperfeiçoar as práticas do Animador tendo em conta novos espaços, novos públicos e novas oportunidades de cidadania.

Recentrar o debate nesta temática é estar atento, também, a uma dimensão de humanidade na função do Animador. O primado deve continuar a ser o dos valores e dos afectos, seguido então pelas técnicas e pelas novas tecnologias.

Creio que o debate está mesmo aberto. Seguramente vai continuar no II Congresso da RIA amanhã em Bejar onde, lamentavelmente para mim, não poderei estar presente.