28 outubro 2008

Aceitarmos não é resignarmo-nos

O período tenso vivido pela minha família desde Junho passado, apesar de poder ter o seu términus só em Janeiro do próximo ano, começa agora a desvanecer-se. Se é verdade que uma das intervenções cirúrgicas, a da minha mulher, se pode aceitar como concluída e com sucesso, também é verdade que outra intervenção que está por fazer, a do meu filho Sérgio, nos leva a aceitar com serenidade a expectativa de uma conclusão também ela de sucesso.

A aceitação deste facto, sem que isso signifique resignação, pois estou atento, preocupado e solidário, retirando-me do foco que incidia sobre a família, trouxe-me ao mundo do quotidiano e da profícua socialização.

Confrontei-me com crises, com desilusões, mas também com expectativas e com esperanças.

As crises não são só políticas, económicas, sociais, culturais, de governação e de globalização. São também de valores, de princípios e de civilização.

As desilusões não emergem por contrariarem os nossos projectos e o nosso futuro. Emergem também porque nos falta a força anímica capaz de nos transportar à luta, à capacidade de decisão e à consciência colectiva de que o mundo somos todos nós e é por ele que temos de investir, individual e colectivamente, como cidadãos e como Nação(ões), como Sociedade e como Estado(s).

Paradoxalmente, porque somos Humanos, temos o reverso da medalha, isto é, aquilo que nos preocupa e que faz evidenciar uma certa incapacidade para a decisão, no limite, leva-nos a sobreviver com o espectro das expectativas e da esperança e, arrastados, combatendo o fatalismo, tentamos erguer-nos projectando uma vontade singular de vencer e de conquistar. É verdade, muitas vezes à custa do individualismo e do egocentrismo. Mas aqui resta-nos a esperança de sermos capazes de nos unirmos, enquanto comunidades, projectando finalmente o sentido de uma Humanidade que, eternamente, se busca a si própria, procurando nos projectos colectivos, nos processos de aprendizagens recíprocas, na confiança das instituições mas, sobretudo, no acreditar nos outros através das suas competências e generosidade.

Os outros somos todos nós, individual e colectivamente, com o nosso saber, a nossa função social e a nossa solidariedade, experimentamos construir todos os dias um mundo novo, melhor, mais solidário, mais feliz, mais equilibrado, transformando a razão pura numa emoção definitivamente plural e justa.

As funções sociais e profissionais em condições de contribuir para essa mudança, que se vai assumindo paulatinamente, são aquelas que mais contacto de humanidade devem fazer transparecer: os técnicos de saúde; os técnicos sociais, os técnicos de educação, os artistas, mas também as associações que representam as dinâmicas comunitárias na procura da cidadania, da qualidade de vida e da felicidade das suas comunidades.
Também está chegada a altura de acreditarmos nos políticos.