21 setembro 2008

RESERVA MORAL DA REPÚBLICA

Apesar de abordagens singulares no exercício de Presidente da República não sou, até ao momento, muito crítico à forma como cada um dos Presidentes, eleitos democraticamente em sufrágio universal, exerceram os seus mandatos.

De Ramalho Eanes, passando por Mário Soares e Jorge Sampaio, até ao actual Presidente, senti neles, continuo a sentir com Cavaco Silva, uma enorme vontade de contribuir para o aperfeiçoamento da democracia em Portugal. Nas diferenças conceptuais do exercício das suas magistraturas encontro substância plena, que me leva a assumi-los como reservas morais da República.

A sensibilidade, a ética, a cultura e a filosofia de vida, diferentes em cada um deles, do meu ponto de vista torna-os referências históricas importantes. São-no sem serem de todo simbólicas, como por vezes algumas pessoas ou organizações nos querem convencer. Essas referências projectam uma ideia de democracia, de liberdade e de desenvolvimento em permanente evolução.

Mas se é verdade que as atitudes oficiais de um Presidente da República determinam a sua popularidade junto dos cidadãos, não é menos verdade que as atitudes pessoais contribuem, em larga medida, para o sucesso dessa popularidade.

É neste contexto que quero aqui fazer o meu tributo ao General Ramalho Eanes.

Segundo o Jornal Expresso, de sábado passado, cito: “Perante a questão de receber ou não os retroactivos de uma reforma que não foi paga durante décadas, mas à qual foi reconhecido o direito, o ex-Presidente da República Ramalho Eanes disse que não”. Ainda o Expresso, cito:”Quantos portugueses na mesma situação - não digo já quantos políticos, como foi Eanes - prescindiriam de tanto dinheiro?”

Não receber o dinheiro que tinha direito foi uma opção, sem dúvida. As motivações não as conhecemos, mas ele, o General, sabe o país em que vive.

Já agora. Era apenas a quantia de 1 milhão e 300 mil euros.