22 junho 2008

CRÓNICAS PARA A RÁDIO

Durante nove meses mantive uma Crónica quinzenal na Rádio Portalegre. Algumas delas, apesar de focarem problemáticas locais, tinham uma dimensão cultural que extravasava esse localismo, por isso foram aqui publicadas. A última dessas crónicas, a presente, encerra também esse ciclo, a relação da Rádio com o Blog, por isso também a publico.

Faço neste momento a minha última "Crónica de Hoje".
Não é uma despedida. Apenas um até breve
Por um lado, projectos emergentes que se colocam no meu percurso. Por outro, porque as férias se avizinham.

Admitindo a hipótese do programa continuar creio que outras pessoas deverão também ter oportunidades para o exercício de uma intervenção cívica e pública.

Não quero, todavia, deixar de referir dois pormenores que considero relevantes. O primeiro, agradecer à Rádio Portalegre o convite que me fez para participar neste Programa, ao longo de nove meses, em absoluta liberdade de expressão e pensamento. O segundo pormenor, agradecer ao auditório da Rádio Portalegre que, concordando ou não comigo, mostrou sempre compreensão pela assumpção do meu discurso e da minha intervenção.

Tentei fazer deste espaço momentos de intervenção cívica, criticando, sugerindo e reflectindo sobre educação, arte e cultura, mas também sobre o desenvolvimento local. Não hesitei também de incluir neste espaço Testemunhos ou Tributos sobre atitudes e obra de pessoas singulares, e de organizações, que considerei relevantes em termos de relações e desenvolvimento local.

A minha intervenção de hoje, e última, é essencialmente de esperança.

Por acreditar em Portugal, em especial do Alentejo e em particular de Portalegre, vejo um futuro promissor pleno de oportunidades que configurarão a felicidade deste povo, desta região e desta comunidade. Primeiro porque acredito mais nos homens do que nas funções, embora elas sejam indispensáveis. Depois porque a história mostra-nos momentos em que não deitámos o nosso futuro colectivo a perder e, por isso, não deixámos cair os braços. Finalmente, porque os valores da solidariedade e da partilha são, no fundo, a matriz da nossa singularidade.

De Portugal acredito que vamos afirmar a nossa universalidade e a nossa cultura abrindo-nos aos outros com humildade e convicção, trabalhando sempre em prol da paz no mundo e da coexistência pacífica entre os povos.

Do Alentejo, pela sua história épica e pela coragem sempre demonstrada nos momentos mais difíceis, acredito que a hora de retorno de muitos dos seus naturais está para breve e que, conjuntamente com todos os outros, naturais ou não, que trabalham no Alentejo e para o Alentejo, se faça uma região próspera, rica e criadora de legítimas expectativas de sucesso profissional e pessoal.

Finalmente de Portalegre. É hoje uma cidade multicultural mas ainda pouco uma cidade de cultura. É uma cidade que vai ficando mais rica com as competências da sua população, mas ainda é pobre quanto às condições de oportunidades para demonstrar essas competências. É uma cidade que já olha menos para si, mas que ainda não deu o passo para a universalidade do saber, do conhecimento, das oportunidades, do investimento e das relações mais abertas, espontâneas e verdadeiras.

É importante que todas as pessoas tenham a oportunidade, e a legitimidade, de usufruir a cultura, numa perspectiva da fruição mas também da criação artística e cultural.

É fundamental que para o sucesso do comércio local sejam criadas condições de maior harmonia e compreensão entre este e as grandes superfícies, assim como devem ser criados planos de estratégia envolvendo também o poder local e o movimento associativo, de forma a dinamizarem os locais de maior concentração deste tipo de actividade económica. E, já agora, que se faça jus à questão de relações de proximidade. É imperativo investir na formação pessoal e social deste sector.

Torna-se indispensável sentir que as organizações e as pessoas singulares como artistas, escritores e outras pessoas e organizações com actividades de interesse público, existentes na cidade e no concelho, por serem veículos de promoção da cidade e da região, são património de todos. Por isso é importante retribuir-lhes a admiração, o respeito e a solidariedade.

Finalmente sobre a política. Criticamo-la intensamente ao nível dos governos centrais: a incompetência, a inverdade e a arrogância. Mas somos mais tolerantes ao nível dos governos locais. Por estarem mais próximos? Por conhecermos as pessoas? É importante que o façamos com a mesma convicção que criticamos o poder central. Os defeitos e as virtudes do poder local são os mesmos, a matriz ou a cartilha política é a mesma. Temos de exigir capacidade de escuta, de proximidade, de humildade, de competência e de partilha. Tudo isto é o corolário de uma boa governação local.

Começa a deixar de fazer sentido que medidas tomadas num contexto de decisão política e que poderão ter algum sucesso, sejam automaticamente anuladas logo que outras forças políticas cheguem ao poder.

Vejo, à semelhança dos pactos de regime na governação central, entre partidos da oposição e governos, a existência de um pacto de desenvolvimento local feito em cada concelho, pelo poder local, de forma a tornar rentáveis e eficazes as políticas locais de desenvolvimento.

Esta é a minha crónica de despedida, mas também de esperança.