05 maio 2008

REFLEXÃO POLÍTICA I

Esta semana a minha reflexão entra no debate político.
Talvez porque estes dois últimos feriados, o de 25 de Abril e o do 1º de Maio, me evocaram a minha geração nos verdes anos e me levaram a comparar o tempo e o espaço, o passado e o presente do que foi e do que é viver a juventude.

Uma, longínqua, espartilhada entre a opressão e a guerra, mas coesa na coragem para alterar o rumo da História.
Outra, a contemporânea, dispersa entre o Global que a confunde e lhe promete as oportunidades e o sucesso, e o Local onde vislumbra a insignificância provocada pela perda de referências e valores, tornando-a individualista a construir o futuro, sobretudo o seu.

O Presidente da República mostra-se preocupado com a ignorância, ou o desinteresse, da juventude pela vida política. Ilustra esta questão através de um estudo recente que considera os jovens cada vez mais desligados do significado histórico e político do 25 de Abril.

Isto não me surpreende. Afinal as datas históricas têm mais peso e significado para quem viveu o momento. As gerações seguintes apenas beneficiam, ou não, dos resultados emanados desses importantes momentos. Foi assim em 1383, em 1640, 1820, em 1910 e em 1974. É assim afinal que se faz História, dos Homens e das Mulheres, das Nações e do Mundo, vivendo-a diferentemente cada um dos seus momentos. Sendo que a etapa seguinte é a do futuro.

Os jovens de hoje nasceram em liberdade e é a liberdade a sua referência histórica maior e mais imediata.

Não me preocupa tanto que os jovens não saibam o que aconteceu, exactamente, em 25 de Abril de 1974. O que me preocupa é que não utilizem a liberdade como um valor absoluto e que, a partir dela, não consciencializem a importância de construir-se como indivíduo, cidadão local, nacional e universal. O que me preocupa é que não utilizem a liberdade como uma forma assertiva de legitimar a solidariedade, o direito à diferença, a diversidade cultural, religiosa e política. O que me preocupa, enfim, é que não dêem o mesmo valor à liberdade, que esta lhes dá por inteiro a si.

Apesar disso, de aceitar sem resignação, que os jovens estão de facto afastados da política e dos eventos decisivos da História do País e do Mundo, acredito que muita da culpa tem estado na incapacidade dos pais, dos professores, dos políticos e dos governantes, ao não saberem encontrar a fórmula da compreensão inter-geracional voltada para o futuro, com o passado como referência.

Cabe então à Família, à Escola e à Sociedade no seu conjunto encontrar espaços de informação e debate, tempos de procura e de descoberta colectiva, que permita aos jovens perceberem que é preciso conquistar o que é suposto merecer-se.

É natural o desinteresse dos jovens pela política. Mas esse desinteresse não é só dos jovens, é também dos menos jovens e dos mais velhos. A nossa experiência colectiva de ver fazer política traduz-se por uma enorme desilusão. A matriz política que nos vem orientando nos últimos vinte anos está anquilosada e ultrapassada. É urgente renová-la se queremos ser um país ainda a tempo de ser feliz.