18 maio 2008

A EMERGÊNCIA DE UMA NOVA PRÁTICA TEATRAL AO NÍVEL DE NOVOS PROTAGONISTAS

Há uns posts atrás escrevia aqui sobre um conjunto de pessoas desempregadas, com mais de 45 anos, que utilizavam o Teatro como uma estratégia de sobrevivência absolutamente singular: através do teatro criavam oportunidades de se adaptarem a novas linguagens, novas funções e novos saberes, o que pressupunha novos interesses e novas expectativas.

A assumpção do teatro como linguagem plural, para estas pessoas, permitia-lhes pensar que o seu futuro estaria sobretudo nas suas capacidades de intervenção e de decisão conquistadas no exercício desta prática. Só com a determinação e criatividade manifestadas pelas personagens da peça, revestidas exactamente pelo mesmo problema social, o desemprego e a idade, poderia fazer com que eles, simultaneamente actores do espectáculo e actores sociais, pudessem retomar as rédeas do seu futuro, recebendo indicações e oportunidades nunca antes vislumbradas.

Curiosamente surgem, cada vez mais, cidadãos de grupos etários superiores a 45 anos, com uma enorme vontade de explorar o seu potencial criador e artístico, mas também com uma consciência de que esse potencial reencontrado ou descoberto, nesta altura das suas vidas, é uma mais-valia para o seu projecto de futuro que ainda se avizinha longo e complexo no mundo em que vivemos. Foi assim para um grupo de utentes de um Centro de Dia que ousou pisar um palco lado a lado com actores profissionais.

A necessidade de se procurar na origem, e na identidade cultural, as referências que levam as pessoas a evoluir no seu projecto de vida direccionado para o futuro, releva da consciencialização de um mundo diferente: mais global, mais próximo, mais rápido e mais desgastante. Para enfrentarem esse mundo novo, mesmo os mais velhos, necessitam de novas competências.

Esta necessidade, de não se perder uma identidade cultural, isto é, de não se perder a noção do caminho que se percorreu e do que ainda falta percorrer, leva a que hoje também surja uma maior preocupação pela concentração, em espaços museológicos, do património mais subjectivo mas também mais universal: as tradições teatrais comunitárias, os artefactos a elas associadas e o próprio património da oralidade e do drama popular. O exemplo recente do Museu de Borba.

A constatação de que tenho vindo a apropriar-me, fruto do meu envolvimento em projectos de animação e intervenção comunitária, obriga-me a dizer que se dê mais atenção a este fenómeno: o reencontro das populações com o teatro de amadores, há muitos anos afastado das práticas populares e locais, de onde emergem hoje novos interesses e novas necessidades.

Lembro que nos últimos 20/30 anos o Teatro passou a estar mais activo nas dinâmicas escolares, não havendo retorno dessa experiência no espaço comunitário tout court. Durante o mesmo período a tradição do teatro de amadores tem vindo a fenecer e o seu espaço de crescimento colectivo não tem sido substituído, também pelo adormecimento ou ausência do movimento associativo.

Felizmente hoje, a redescoberta do teatro, por grupos de amadores espontâneos, está associada a uma emergência que reflecte a necessidade de uma ocupação, não já dos tempos livres porque a realidade do trabalho se alterou, mas uma ocupação que traduza a procura constante de uma vida mais saudável ao nível da socialização e do contacto com o conhecimento, hoje mais diversificado e estruturante ao nível de novas oportunidades.

O teatro, na sua dimensão social, pode ajudar a resolver muitos problemas às populações mas, seguramente, fará também que outras dimensões do próprio Teatro possam emergir. Como? Reconcentrando as dimensões estéticas, artísticas, educativas e culturais nas práticas teatrais amadoras e nas práticas da animação sociocultural junto das populações. Uma tarefa do Animador Sociocultural com a colaboração de animadores teatrais apetrechados de competências formais, técnicas e artísticas.