19 abril 2008

A CAUSA PÚBLICA

A dedicação à causa pública é um acto de solidariedade.
Quando falamos da causa pública, estamo-nos a referir a pessoas e a instituições que dedicam muito do seu tempo, energia e apoios a questões socioculturais emergentes na sociedade e no mundo. Por isso, a causa pública tem dimensões globais, tornando-se por essa circunstância mais mediatizada, portanto, com uma mensagem capaz de contribuir para a mudança de paradigma, onde os valores, as práticas, a ética e a moral, a paz, etc. têm um espaço de afirmação, de informação e, paulatinamente, de aceitação.
Mas a causa pública tem também uma dimensão nacional, regional e local. Aqui responderá a anseios de maior proximidade e de vontades de participação mais significativas. A causa pública é sentida, pelas pessoas que a praticam, com uma outra dimensão: ser voluntário da mudança, ser crítico das injustiças, ser porta-voz dos desprotegidos, ser solidário com o seu semelhante, com o seu vizinho, com a sua comunidade.
Daqueles que lutam por causas públicas à escala global existem nomes sonantes, nomeadamente associados ao show business. Mas também existem aqueles outros, pessoas e instituições mais anónimas mas, porventura, mais solidárias.

Esta semana esteve em Portalegre, na Livraria 8.6, Fernando Nobre, o médico solidário da AMI (Assistência Médica Internacional), a apresentar o seu livro “Gritos”, resultante da sua visão e experiência pelo mundo da solidariedade internacional. Foi interessante ouvir o seu testemunho, infelizmente éramos muito poucos, numa narrativa, na primeira pessoa, que escondia nas palavras e no olhar a tragédia da universalidade: o caos, configurado pela guerra e pelos desalojados, mas também a fome e as doenças à escala global, denunciando ao mesmo tempo a hipocrisia dos Estados e dos Poderosos.

Por fim há a causa pública menos mediatizada, porventura mais sentida na essência por aqueles que partilham o espaço e o tempo do seu semelhante. É o corolário da consciência colectiva comunitária que busca nas raízes ancestrais o valor da solidariedade e da partilha. Talvez por isso mais autênticas, porque são protagonizadas num espírito de anonimato ou, pelo menos, pela vontade de não as mediatizar.

Referimo-nos a todos aqueles que estão à frente dos destinos das instituições de solidariedade social, na sua luta constante pela melhoria da qualidade de vida dos utentes dessas instituições, crianças, jovens e idosos, sobretudo, mas também daqueles que dão muito do seu tempo à frente das associações socioculturais trabalhando sem horas pela mudança e institucionalização de outras práticas socioculturais das suas comunidades.

Não podemos ignorar aqueles e aquelas que, gratuitamente, oferecem momentos dos seus trabalhos para causas de solidariedade pública, nomeadamente os artistas, os jovens, pela sua enorme generosidade, e algumas organizações.

Pela dimensão e significado local que isso traduz, não posso deixar de me referir a dois nomes que nestes últimos dias demonstraram esse espírito de defesa pela causa pública, pela forma como se envolveram na tentativa de resolver problemas que assolam a comunidade portalegrense.
Diogo Júlio, independentemente da sua função de responsável pela União dos Sindicatos do Norte Alentejano, tem revelado uma persistência e uma preocupação constante pela vida do seu semelhante na cidade e na região. Não tem descurado a denúncia e a tentativa de resolução dos problemas, no que diz respeito aos salários em atraso e à iminência da perda de postos de trabalho, nomeadamente na Manufactura de Portalegre.
Assim como Luís Ribeiro, médico de Portalegre, constatando um défice no serviço médico do Centro de Saúde de Portalegre, não hesitou, de uma forma que nos lembra o sempre presente juramento médico ao serviço da saúde, dos doentes e das comunidades, acumular com o cargo de presidente da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, o de médico ao serviço das comunidades de doentes que recorrem àquele Centro de Saúde.
Poderiam ambos acomodar-se na função de gestão do lugar que ocupam. Mas decidiram ambos colocar-se ao lado daqueles que, temporária ou permanentemente, são os mais desprotegidos.

Isto tem, como sabemos, muito de defesa da causa pública.