06 janeiro 2008

VENHAM MAIS BLOGUES

O comediante Bruno Nogueira dizia numa entrevista, a propósito de uma entrada sua em antena num programa de rádio onde chamava “boizinhos” ao auditório, ser o humor Poder. O humor é apenas humor e mais nada. Será um bom humor se for crítico, sarcástico, irónico, mordaz, prazenteiro, divertido e, sobretudo, partilhado. Se não tiver nada disto, então é ridículo ou apenas uma tragi-comédia.

Poder é Poder e ponto final!

Mas a ideia de Poder está, infelizmente, associada quase exclusivamente aos corredores da decisão política e à concentração nalguns da riqueza ou da actividade económica.

O Poder também pode estar nas nossas mãos, em cada um de nós, quando, conscientemente, amamos a liberdade e lutamos por ela, admiramos a grandeza de espírito e tentamos interiorizá-la, apelamos à paz e defendemo-la.
O Poder não pode estar só nas mãos dos privilegiados, dos iluminados, dos senhores e dos ricos, enfim, nas elites. Deve estar também naqueles que procuram a igualdade de oportunidades; naqueles que querem ter uma vida digna e humana; naqueles que procuram instruir-se, educar-se, cultivar-se; naqueles que são discriminados; naqueles, afinal, que são a maioria.

Há quem impeça, advogando um direito seu, justamente o Poder de ser omnipresente, insinuando que nem todos podem ter o Poder, como seja o direito de escolha. É o que faz Pacheco Pereira no seu artigo “Cultura do blogue nacional” de sábado, 29 de Dezembro de 2007. Pacheco Pereira é alguém por quem tenho alguma admiração, na maioria das vezes não tanto pelo que diz, mas mais pela forma como o faz, com irreverência e alguma coragem.

Caramba! Já não se pode ter um bloguezito! Claro, o blogue é para escrever o que vai na alma, criticando ou valorizando o que observamos, o que sentimos, o que partilhamos, ou que não partilhamos e queremos começar a partilhar. Qualidade? Este conceito também não é propriedade das elites. Claro que existe qualidade nos blogues, bastante até, como também a ausência dela é notada. Mas também não abunda assim tanto junto das elites, dos privilegiados, daqueles que constroem “novos corredores de Poder” ao imporem-se desmesuradamente no nosso quotidiano através dos media.

Por não haver hábitos de leitura, sobretudo na juventude, este instrumento ao democratizar-se promove esse e outros hábitos de socialização, de crescimento e desenvolvimento cultural. Junto dos mais velhos, como eu, constrói-se a oportunidade de recomeçar sempre de novo, inserindo-se em comunidades com interesses comuns, procurando registar emoções, porque não? Mas também por Poder criar espaços de criação e divulgação de ideias, escritos e outras dimensões que a criatividade humana permite, sendo certo que para todos, felizmente, o blogue é, definitivamente, um dos instrumentos mais democráticos que está ao nosso alcance e só temos de rentabilizá-lo dignamente em nosso (individual e colectivo) proveito.

Partilho de algumas preocupações de Pacheco Pereira quanto a alguma utilização menos nobre deste instrumento, mas as relações humanas, independentemente de um blogue, são mesmo assim. A dimensão educativa, na família e na escola, tem um papel fundamental. É preciso assumi-la na plenitude junto dos mais jovens, sugerindo-lhes metodologias próprias para a sua relação com este instrumento, para permitir-lhes também melhorar a qualidade da sua intervenção no blogue e, portanto, na sociedade.

Por isso não me assusta o aparecimento de mais blogues nacionais pelo universo da net em Portugal. É sinal de vitalidade, é a assumpção plena de cidadania. Afinal a vontade de conquistar o direito e a igualdade de oportunidades, de vivência e socialização universal.

Enfim, é a forma de, paulatinamente, o cidadão comum mostrar que vai tendo mais Poder, sobretudo o Poder de criticar e de propor as mudanças socioculturais a que tem direito por dever de uma cidadania plena.