01 janeiro 2008

EXIGIR EM VEZ DE DESEJAR

No ritual de passagem de ano confortamo-nos e conformamo-nos com os votos e desejos para que tudo do melhor aconteça na nossa vida pessoal, profissional e colectiva. É um ritual de esperança que nos leva a promover expectativas a maioria das vezes adiadas.
Quero quebrar essa tradição e dizer BASTA à ideia de votos e desejos abstractos, transformando-a numa ideia mais interventiva, isto é, definitivamente de exigência.

Tanto na vida privada e, sobretudo, na vida colectiva, estas expectativas não se traduzem em coisas concretas, quando deveriam concentrar-se afinal naquilo que é mais emergente no desenvolvimento social e cultural das comunidades e das regiões mais periféricas: o crescimento demográfico e o rejuvenescimento das populações, a implementação e valorização de processos de auto-estima individual e colectiva, a criação e oportunidades de trabalho, de estudo, de socialização, enfim, de encontro com o Bem-Estar Social tout-court.
O Alentejo, segundo o Jornal PÚBLICO de Sábado, 29 de Dezembro passado, irá beneficiar de 7500 milhões de euros para serem investidos em PIN (projectos considerados pelo Governo de Potencial Interesse Nacional), como por exemplo num aeroporto em Beja, em auto-estradas a caminho do complexo de Sines, numa escola profissional de turismo em Portalegre, numa fábrica de aviões em Évora e em 16 mil postos de trabalho.

A perspectiva é boa e peca por ser tardia. O Alentejo tem vindo a esperar a sua oportunidade de crescimento, pelo menos, nos últimos 20 ANOS. Até agora muito pouco ou nada se fez.
O Alentejo tem vindo a desertificar-se, envelhecer e a empobrecer, piorando significativamente a qualidade de vida dos que ainda por aqui vão ficando, nomeadamente pelas más condições dos serviços de saúde, pela ausência de apoios à modernização das escolas e dos espaços públicos de socialização cultural, artística e social, pela ausência marcante da solidariedade nacional, pelo desinteresse no investimento de um ensino superior público que progrida numa dimensão de excelência em todas as áreas do conhecimento, das técnicas e das tecnologias mas, sobretudo, pelo desencanto dos alentejanos e de todos os outros, de outros lugares, que como eu faz dele a sua terra. Apesar de tudo, este desencanto projecta-se na raiva que se transforma em ganas de lutar e de exigir, a partir da implementação de projectos e de espaços comunitários em emergência.

Desculpem-me senhores do Poder (Central e Local também, naturalmente), esta mensagem sendo para vós, que ocupam hoje o Poder, não deixa de ter também um carácter retroactivo para todos os Poderes que se instalaram neste País desde 25 de Abril de 1974 e que pouco fizeram por esta e outras regiões do interior do País.

Não vou desejar nada porque os senhores, uma vez mais, poderão não cumprir. Mas vou exigir para que se decrete a emergência de uma discriminação positiva para o Alentejo, através destas medidas agora anunciadas e outras, muitas outras, absolutamente inadiáveis.

Exijo, eu e muitos milhares de portugueses e de portuguesas e de outros cidadãos que connosco partilham o espaço e a esperança de um país melhor. Esta exigência assenta na legitimidade que nos assiste dada pelo cumprimento dos nossos deveres de cidadania: pagamento de impostos, cumprimento das leis e de outras normas que nos fazem ser cidadãos exemplares. Resta-nos agora usufruir dos nossos direitos de cidadania que, cumpridos, tornam o Estado uma pessoa de Bem.